Thesis Chapters by DavidF Rodrigues
Tese de doutoramento, 2003
A cortesia verbal é um ramo da Cortesia Geral que inclui também cortesias e descortesias não verb... more A cortesia verbal é um ramo da Cortesia Geral que inclui também cortesias e descortesias não verbais e paraverbais. Os comportamentos socioverbais constituem o objecto da Cortesia Linguística, bem como as teorias e modelos de sua descrição e análise, tal como as regras e regularidades inventariadas e descritas por gramáticos e linguistas do sistema. Trata-se, por isso, de estudo translinguístico que tem em consideração também aspectos de natureza transcultural. É neste duplo sentido que se considera e mostra que os diferentes comportamentos socioverbais, além de mais ou menos corteses ou descorteses, constituem desempenhos duma competência discursivo-textual, que em todas as interacções verbais, estritas (interlocuções) ou latas (alocuções e elocuções), orais ou escritas, formais ou informais, correntes ou ficcionais e literárias, se concretiza, explícita ou implicitamente, ora para atenuar comportamentos descorteses, ora para expressar e/ou intensificar comportamentos corteses ou descorteses.
Identificar e descrever meios e mecanismos linguísticos e discursivo-textuais de expressão/construção de cortesias e descortesias, em Português europeu, bem como os seus reflexos nos discursos-textos produzidos e/ou a produzir, constitui a tese deste estudo e que pode ser reformulada nas duas questões seguintes:
(i) Que influências exercem as relações pessoais e sociais, no Locutor e no Alocutário, e de um e outro, ou de ambos, em terceiro(s), e deste(s) nos primeiros, na selecção e construção daqueles meios e mecanismos?
(ii) Que influências exercem tais meios e mecanismos, no estabelecimento e gestão de tais relações?
O modelo de análise seguido é proposto por Kerbrat-Orecchioni, eclecticamente construído sobre as teorias fundadoras de Lakoff, Leech e de Brown & Levinson, que se fundamentam, por seu turno, na Teoria Ilocutória (Austin e Searle), na Lógica Conversacional (Grice) e nas Teorias da «Face» e «Territórios do Eu» (Goffman).
São complexos os meios e mecanismos de construção de cortesias e descortesias verbais, em Português europeu. Feito o seu levantamento e classificação, centra-se este estudo, fundamentalmente, nos valores semântico-pragmáticos dos tempos e modos verbais, por um lado, e dos tratamentos, por outro, como formas e estratégias de cortesia positiva e negativa. Aos tratamentos, meios complexos e sugestivos de auto e heterorreferência, e processos de auto e heterofiguração, a nível proxémico e/ou taxémico, dedica-se, por isso, maior desenvolvimento teórico e de análise. Além de estratégias de cortesia ou de descortesia, constituem eles também cortesias ou descortesias estratégicas de natureza retórica e argumentativa, que configuram, por seu turno, dimensões enunciativas de natureza dialógica e polifónica. Os tratamentos, como todos as outras construções verbais, só surtirão os efeitos desejados, corteses ou descorteses e por vias corteses ou descorteses, se os interactantes forem dotados duma competência discursivo-textual que contemple todos os aspectos translinguísticos e transculturais que a Cortesia Linguística deve passar a estudar, no quadro teórico da Análise Discursivo-textual.
Ser competente em cortesia/descortesia verbal, é tanto saber reconhecer a quantidade, qualidade e diversidade das suas fórmulas e formas, como reconhecer os mecanismos e os valores que suportam e explicam a sua construção e uso, segundo os diferentes co(n)textos de ocorrência e respectivas dinâmicas. A competência discursivo-textual de cortesia/descortesia contempla, por isso, também uma dimensão de metacompetência de cortesia e/ou de descortesia.
Tese de Mestrado, 1995
É na área da Linguística, especialidade de Teoria do Texto, em geral, e da Análise Conversaciona... more É na área da Linguística, especialidade de Teoria do Texto, em geral, e da Análise Conversacional, em particular, que se desenvolve este estudo.
Um texto é o produto linguístico de um complexo processo discursivo que, sob dois planos principais, deve ser considerado: sequencialidade e configuracionalidade. Em síntese, o primeiro aspecto diz respeito às unidades de dimensão e tipologia variável que estruturam um texto, à conexão dessas unidades entre si e com o todo textual de que fazem parte; o segundo aspecto diz respeito à organização pragmática de um texto, que passa dimensões de coesão semântica, de ancoragem enunciativa e de orientação argumentativa. Um texto não é um amontoado de palavras ou um simples alinhamento de frases, mas um todo estruturado e intencionado, construído (produção/emissão) e reconstruído (recepção/interpretação) num determinado contexto de comunicação.
Tais planos, complementares entre si, encontram-se presentes em qualquer texto, seja ele constituído por uma ou mais sequências tipologicamente homogéneas ou heterogéneas. Objectos também culturais, qualquer texto é a realização mais ou menos completa, mais ou menos complexa, de um modelo prototípico, em competência reconhecido.
Um conto é um texto que, apresentando embora uma determinada estrutura homogénea ao nível das macro-proposições, é, todavia, heterogéneo ao nível das sequências que constituem. Se, por definição, nele predomina(m) a(s) sequência(s) narrativa(s), nela(s) integrada(s) se encontram também uma ou mais sequência de outro(s) tipo(s). Sobretudo dialogais. Relato curto, o conto é a representação de um instante de vida, de um episódio humano ou humanizado. Daí a presença do diálogo na sua composição, como forma privilegiada de interacção humana, de configuração de encontros, dramas e conflitos.
Os diálogos são sequências discursivo-textuais mais ou menos homogéneas ou heterogéneas. Constituem-nos, porém, unidades de dimensão e complexidade variável que as definem como realizações de interacções verbais, isto é, como um tipo de discurso-textro colectivamente construído por dois ou mais interlocutores, numa dada situação. As interacções verbais, autênticas ou ficcionais, autónomas ou integradas noutras sequências, constituem, ao nível da sua estrutura e organização, por um lado, e das relações interpessoais que manifestam, por outro, o objecto específico da Análise Conversacional.
Discursos-textos complexos e heterogéneos, aos níveis referidos, são as narrativas de Aquilino Ribeiro de Arca de Noé, III Classe, de que se toma o conto «Mestre grilo cantava e a giganta dormia como principal corpus de aplicação da teoria adoptada[1]. Apresenta, este conto, por um lado, uma composição que realiza a macro-estrutura prototípica do texto narrativo e, por outro, abundantes e variadas sequências dialogais (fáticas e transacionais) em discurso directo reproduzidas. Na sua riqueza discursiva, muito próxima da linguagem autêntica, os diálogos do Mestre Grilo são vivas representações de conflitos e encontros, humores e saberes, debates e disputas. Nas suas principais interacções verbais, encontra-se realizada, por isso, a classificação que, baseada nos actos de linguagem dos interlocutores, Sylvie Durrer porpõe em diálogos polémicos, didácticos e dialécticos[2]. Pelo que fazem, dizendo, são caracterizadas as personagens que aqueles mundos possíveis habitam, interlocutores que, na sua diversidade humana e animal, representam também competências discursivas e conversacionais distintas.
Este estudo é a aplicação de um quadro teórico sde análise textual a um texto narrativo – o conto – na sua complexidade sémio-discursiva. Trata-se de um contributo teórico e metodológico necessário à compreensão dos fenómenos da textualidade, com que todos os dias entramos em contacto, em diálogo ou à procura dele.
[1] ADAM, J.-M., 1990: Éléments de Linguistique Textuelle. Liège: Mardaga; 1992: Les Textes: Types et prototypes. Récit, descriptiom, argumentation, explication et dialogue. Paris: Nathan.
[2] DURRER, S., 1994: Le Dialogue Romanesque. Style et structure. Genève: Droz.
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Thesis Chapters by DavidF Rodrigues
Identificar e descrever meios e mecanismos linguísticos e discursivo-textuais de expressão/construção de cortesias e descortesias, em Português europeu, bem como os seus reflexos nos discursos-textos produzidos e/ou a produzir, constitui a tese deste estudo e que pode ser reformulada nas duas questões seguintes:
(i) Que influências exercem as relações pessoais e sociais, no Locutor e no Alocutário, e de um e outro, ou de ambos, em terceiro(s), e deste(s) nos primeiros, na selecção e construção daqueles meios e mecanismos?
(ii) Que influências exercem tais meios e mecanismos, no estabelecimento e gestão de tais relações?
O modelo de análise seguido é proposto por Kerbrat-Orecchioni, eclecticamente construído sobre as teorias fundadoras de Lakoff, Leech e de Brown & Levinson, que se fundamentam, por seu turno, na Teoria Ilocutória (Austin e Searle), na Lógica Conversacional (Grice) e nas Teorias da «Face» e «Territórios do Eu» (Goffman).
São complexos os meios e mecanismos de construção de cortesias e descortesias verbais, em Português europeu. Feito o seu levantamento e classificação, centra-se este estudo, fundamentalmente, nos valores semântico-pragmáticos dos tempos e modos verbais, por um lado, e dos tratamentos, por outro, como formas e estratégias de cortesia positiva e negativa. Aos tratamentos, meios complexos e sugestivos de auto e heterorreferência, e processos de auto e heterofiguração, a nível proxémico e/ou taxémico, dedica-se, por isso, maior desenvolvimento teórico e de análise. Além de estratégias de cortesia ou de descortesia, constituem eles também cortesias ou descortesias estratégicas de natureza retórica e argumentativa, que configuram, por seu turno, dimensões enunciativas de natureza dialógica e polifónica. Os tratamentos, como todos as outras construções verbais, só surtirão os efeitos desejados, corteses ou descorteses e por vias corteses ou descorteses, se os interactantes forem dotados duma competência discursivo-textual que contemple todos os aspectos translinguísticos e transculturais que a Cortesia Linguística deve passar a estudar, no quadro teórico da Análise Discursivo-textual.
Ser competente em cortesia/descortesia verbal, é tanto saber reconhecer a quantidade, qualidade e diversidade das suas fórmulas e formas, como reconhecer os mecanismos e os valores que suportam e explicam a sua construção e uso, segundo os diferentes co(n)textos de ocorrência e respectivas dinâmicas. A competência discursivo-textual de cortesia/descortesia contempla, por isso, também uma dimensão de metacompetência de cortesia e/ou de descortesia.
Um texto é o produto linguístico de um complexo processo discursivo que, sob dois planos principais, deve ser considerado: sequencialidade e configuracionalidade. Em síntese, o primeiro aspecto diz respeito às unidades de dimensão e tipologia variável que estruturam um texto, à conexão dessas unidades entre si e com o todo textual de que fazem parte; o segundo aspecto diz respeito à organização pragmática de um texto, que passa dimensões de coesão semântica, de ancoragem enunciativa e de orientação argumentativa. Um texto não é um amontoado de palavras ou um simples alinhamento de frases, mas um todo estruturado e intencionado, construído (produção/emissão) e reconstruído (recepção/interpretação) num determinado contexto de comunicação.
Tais planos, complementares entre si, encontram-se presentes em qualquer texto, seja ele constituído por uma ou mais sequências tipologicamente homogéneas ou heterogéneas. Objectos também culturais, qualquer texto é a realização mais ou menos completa, mais ou menos complexa, de um modelo prototípico, em competência reconhecido.
Um conto é um texto que, apresentando embora uma determinada estrutura homogénea ao nível das macro-proposições, é, todavia, heterogéneo ao nível das sequências que constituem. Se, por definição, nele predomina(m) a(s) sequência(s) narrativa(s), nela(s) integrada(s) se encontram também uma ou mais sequência de outro(s) tipo(s). Sobretudo dialogais. Relato curto, o conto é a representação de um instante de vida, de um episódio humano ou humanizado. Daí a presença do diálogo na sua composição, como forma privilegiada de interacção humana, de configuração de encontros, dramas e conflitos.
Os diálogos são sequências discursivo-textuais mais ou menos homogéneas ou heterogéneas. Constituem-nos, porém, unidades de dimensão e complexidade variável que as definem como realizações de interacções verbais, isto é, como um tipo de discurso-textro colectivamente construído por dois ou mais interlocutores, numa dada situação. As interacções verbais, autênticas ou ficcionais, autónomas ou integradas noutras sequências, constituem, ao nível da sua estrutura e organização, por um lado, e das relações interpessoais que manifestam, por outro, o objecto específico da Análise Conversacional.
Discursos-textos complexos e heterogéneos, aos níveis referidos, são as narrativas de Aquilino Ribeiro de Arca de Noé, III Classe, de que se toma o conto «Mestre grilo cantava e a giganta dormia como principal corpus de aplicação da teoria adoptada[1]. Apresenta, este conto, por um lado, uma composição que realiza a macro-estrutura prototípica do texto narrativo e, por outro, abundantes e variadas sequências dialogais (fáticas e transacionais) em discurso directo reproduzidas. Na sua riqueza discursiva, muito próxima da linguagem autêntica, os diálogos do Mestre Grilo são vivas representações de conflitos e encontros, humores e saberes, debates e disputas. Nas suas principais interacções verbais, encontra-se realizada, por isso, a classificação que, baseada nos actos de linguagem dos interlocutores, Sylvie Durrer porpõe em diálogos polémicos, didácticos e dialécticos[2]. Pelo que fazem, dizendo, são caracterizadas as personagens que aqueles mundos possíveis habitam, interlocutores que, na sua diversidade humana e animal, representam também competências discursivas e conversacionais distintas.
Este estudo é a aplicação de um quadro teórico sde análise textual a um texto narrativo – o conto – na sua complexidade sémio-discursiva. Trata-se de um contributo teórico e metodológico necessário à compreensão dos fenómenos da textualidade, com que todos os dias entramos em contacto, em diálogo ou à procura dele.
[1] ADAM, J.-M., 1990: Éléments de Linguistique Textuelle. Liège: Mardaga; 1992: Les Textes: Types et prototypes. Récit, descriptiom, argumentation, explication et dialogue. Paris: Nathan.
[2] DURRER, S., 1994: Le Dialogue Romanesque. Style et structure. Genève: Droz.
Identificar e descrever meios e mecanismos linguísticos e discursivo-textuais de expressão/construção de cortesias e descortesias, em Português europeu, bem como os seus reflexos nos discursos-textos produzidos e/ou a produzir, constitui a tese deste estudo e que pode ser reformulada nas duas questões seguintes:
(i) Que influências exercem as relações pessoais e sociais, no Locutor e no Alocutário, e de um e outro, ou de ambos, em terceiro(s), e deste(s) nos primeiros, na selecção e construção daqueles meios e mecanismos?
(ii) Que influências exercem tais meios e mecanismos, no estabelecimento e gestão de tais relações?
O modelo de análise seguido é proposto por Kerbrat-Orecchioni, eclecticamente construído sobre as teorias fundadoras de Lakoff, Leech e de Brown & Levinson, que se fundamentam, por seu turno, na Teoria Ilocutória (Austin e Searle), na Lógica Conversacional (Grice) e nas Teorias da «Face» e «Territórios do Eu» (Goffman).
São complexos os meios e mecanismos de construção de cortesias e descortesias verbais, em Português europeu. Feito o seu levantamento e classificação, centra-se este estudo, fundamentalmente, nos valores semântico-pragmáticos dos tempos e modos verbais, por um lado, e dos tratamentos, por outro, como formas e estratégias de cortesia positiva e negativa. Aos tratamentos, meios complexos e sugestivos de auto e heterorreferência, e processos de auto e heterofiguração, a nível proxémico e/ou taxémico, dedica-se, por isso, maior desenvolvimento teórico e de análise. Além de estratégias de cortesia ou de descortesia, constituem eles também cortesias ou descortesias estratégicas de natureza retórica e argumentativa, que configuram, por seu turno, dimensões enunciativas de natureza dialógica e polifónica. Os tratamentos, como todos as outras construções verbais, só surtirão os efeitos desejados, corteses ou descorteses e por vias corteses ou descorteses, se os interactantes forem dotados duma competência discursivo-textual que contemple todos os aspectos translinguísticos e transculturais que a Cortesia Linguística deve passar a estudar, no quadro teórico da Análise Discursivo-textual.
Ser competente em cortesia/descortesia verbal, é tanto saber reconhecer a quantidade, qualidade e diversidade das suas fórmulas e formas, como reconhecer os mecanismos e os valores que suportam e explicam a sua construção e uso, segundo os diferentes co(n)textos de ocorrência e respectivas dinâmicas. A competência discursivo-textual de cortesia/descortesia contempla, por isso, também uma dimensão de metacompetência de cortesia e/ou de descortesia.
Um texto é o produto linguístico de um complexo processo discursivo que, sob dois planos principais, deve ser considerado: sequencialidade e configuracionalidade. Em síntese, o primeiro aspecto diz respeito às unidades de dimensão e tipologia variável que estruturam um texto, à conexão dessas unidades entre si e com o todo textual de que fazem parte; o segundo aspecto diz respeito à organização pragmática de um texto, que passa dimensões de coesão semântica, de ancoragem enunciativa e de orientação argumentativa. Um texto não é um amontoado de palavras ou um simples alinhamento de frases, mas um todo estruturado e intencionado, construído (produção/emissão) e reconstruído (recepção/interpretação) num determinado contexto de comunicação.
Tais planos, complementares entre si, encontram-se presentes em qualquer texto, seja ele constituído por uma ou mais sequências tipologicamente homogéneas ou heterogéneas. Objectos também culturais, qualquer texto é a realização mais ou menos completa, mais ou menos complexa, de um modelo prototípico, em competência reconhecido.
Um conto é um texto que, apresentando embora uma determinada estrutura homogénea ao nível das macro-proposições, é, todavia, heterogéneo ao nível das sequências que constituem. Se, por definição, nele predomina(m) a(s) sequência(s) narrativa(s), nela(s) integrada(s) se encontram também uma ou mais sequência de outro(s) tipo(s). Sobretudo dialogais. Relato curto, o conto é a representação de um instante de vida, de um episódio humano ou humanizado. Daí a presença do diálogo na sua composição, como forma privilegiada de interacção humana, de configuração de encontros, dramas e conflitos.
Os diálogos são sequências discursivo-textuais mais ou menos homogéneas ou heterogéneas. Constituem-nos, porém, unidades de dimensão e complexidade variável que as definem como realizações de interacções verbais, isto é, como um tipo de discurso-textro colectivamente construído por dois ou mais interlocutores, numa dada situação. As interacções verbais, autênticas ou ficcionais, autónomas ou integradas noutras sequências, constituem, ao nível da sua estrutura e organização, por um lado, e das relações interpessoais que manifestam, por outro, o objecto específico da Análise Conversacional.
Discursos-textos complexos e heterogéneos, aos níveis referidos, são as narrativas de Aquilino Ribeiro de Arca de Noé, III Classe, de que se toma o conto «Mestre grilo cantava e a giganta dormia como principal corpus de aplicação da teoria adoptada[1]. Apresenta, este conto, por um lado, uma composição que realiza a macro-estrutura prototípica do texto narrativo e, por outro, abundantes e variadas sequências dialogais (fáticas e transacionais) em discurso directo reproduzidas. Na sua riqueza discursiva, muito próxima da linguagem autêntica, os diálogos do Mestre Grilo são vivas representações de conflitos e encontros, humores e saberes, debates e disputas. Nas suas principais interacções verbais, encontra-se realizada, por isso, a classificação que, baseada nos actos de linguagem dos interlocutores, Sylvie Durrer porpõe em diálogos polémicos, didácticos e dialécticos[2]. Pelo que fazem, dizendo, são caracterizadas as personagens que aqueles mundos possíveis habitam, interlocutores que, na sua diversidade humana e animal, representam também competências discursivas e conversacionais distintas.
Este estudo é a aplicação de um quadro teórico sde análise textual a um texto narrativo – o conto – na sua complexidade sémio-discursiva. Trata-se de um contributo teórico e metodológico necessário à compreensão dos fenómenos da textualidade, com que todos os dias entramos em contacto, em diálogo ou à procura dele.
[1] ADAM, J.-M., 1990: Éléments de Linguistique Textuelle. Liège: Mardaga; 1992: Les Textes: Types et prototypes. Récit, descriptiom, argumentation, explication et dialogue. Paris: Nathan.
[2] DURRER, S., 1994: Le Dialogue Romanesque. Style et structure. Genève: Droz.