Papers by Sofia Vasconcelos Nunes
Cadmo Suplemento 4 Homenagem JAR. Tomo I. Os meus olhos viram todas essas coisas. Estudos em Homenagem a José Augusto Ramos., 2023
Resumo: A visão grega acerca das descidas aos inferos, acolhida posteriormente na tradição romana... more Resumo: A visão grega acerca das descidas aos inferos, acolhida posteriormente na tradição romana, irá
desenvolver-se de modo lento e diverso no seio das três religiões reveladas: judaísmo, cristianismo e islão.
O espaço inferior, locus de habitação dos defuntos e destino último de quem morre, vai sendo entendido, na
Era Cristã e à luz do gradual evoluir das verdades escatológicas, não tanto como um lugar definitivo e, antes,
como um espaço transitório de punição e/ou de purificação do defunto, enquanto aguarda a ressurreição
final, ou o juízo último, no seu encontro com Deus. A transformação de concepções acerca da morte irá
conduzir, inevitavelmente, à criação de novos espaços na topografia inferior e a consequentes alterações
da vida no Ocidente cristão.
Palavras-chave: Hades e Sheol, Purgatório e Inferno, Escatologia, Justiça divina e Vida no Além
The greek vision concerning the descents into the inferos, later received in the roman tradition, will
develop in a slow and diverse way amongst the three revealed religions: Judaism, Christianism and Islam.
The inferior space, locus of the defunct’s dwelling place and ultimate destiny for those who die, is going to
be understood, in the Christian Era and in the light of the eschatological truth’s gradual comprehensiveness,
not quite as a ultimate place but rather as a transitory location for the dead’s punishment and/or purification,
while he awaits the final resurrection, or the last judgment, in his encounter with God. The transformation
of the conceptions of death, inevitably, to the creation of new places in the underworld topography and
to consequent changes in life in the christian West.
Key-words: Hades and Sheol, Purgatory and Hell, Eschatology, Divine Justice and Life in the Afterworld
2º Semana Cultural Nos Cemitérios CML/DMAEVCE/DGC, 2023
A incessável busca do Homem por respostas quando confrontado com a morte. Se as religiões, ao lon... more A incessável busca do Homem por respostas quando confrontado com a morte. Se as religiões, ao longo da história humana, foram indicando caminhos possíveis para essa pergunta que permanece radicalmente sem resposta cabal, as sociedades actuais parecem tornar ainda mais difícil a obtenção de uma explicação que não remeta para o absurdo nada.
Entre Vivos e Mortos, Mar, Rios e a Barca de Caronte, 2022
"O Homem defronte a morte: percepções, símbolos e ritos. Leitura a partir de um estudo de caso si... more "O Homem defronte a morte: percepções, símbolos e ritos. Leitura a partir de um estudo de caso situado no Cemitério dos Prazeres".
A morte apresenta-se ao Homem como a mais radical experiência de alteridade.
Vivida e percepcionada a partir da morte do Outro, a Morte afigura-se, para aquele que a ela assiste, como uma realidade simultaneamente presente e distante.
Entender a morte como uma realidade obnubiladora da relação com o Outro e com o Mundo, através de um breve vislumbre desse futuro inadiável, obriga o Homem, a partir desse momento fracturante, a pensar a sua existência e a sua morte.
Cuidar daquele que partiu, tornar presente a sua memória e manter viva essa relação, conduz o ser humano à prática de determinadas manifestações religiosas e culturais patentes em todas as tradições humanas.
Com a excepção dos tempos de epidemias, guerras e catástrofes naturais, ou de doença prolongada, a morte aparece sempre de modo inesperado, para a qual, aquele que parte e aqueles que ficam, nunca estão devidamente preparados.
A aceitação e gradual compreensão acerca dessa presença invisível que paira sobre todos os viventes, que se manifesta em tempos mais arcaicos nos cultos e ritos agrários, conduzirá o Homem, de modo lento e gradual, à prática dos cultos funerários, devidamente fundamentados nas histórias e mitos sobre o Outro Mundo.
Assim, a morte, vista inicialmente como o fim da existência humana, torna-se, na maioria das religiões antigas, num caminho/abertura conducente a uma outra existência, concebida no Além, nessa terra distante e misteriosa habitada pelos defuntos.
Palavras chave: Morte; Além; Cultos e Ritos Funerários; Símbolos e Representações.
"Soteriologias. Identidades e Salvação". CADMO. Revista de História Antiga, Suplemento I. Centro de História da Universidade de Lisboa. , 2021
Soter, predicativo associado às divindades olímpicas no período grego antigo, invocava o poder... more Soter, predicativo associado às divindades olímpicas no período grego antigo, invocava o poder e a acção salvadora/protectora dos deuses sobre a polis e seus habitantes e, noutros casos, sobre um determinado grupo ou indivíduo. Soter designa a graça benevolente dos deuses e a sua intervenção sobre o cosmos e sobre a concretude do devir humano. Associado aos cultos de governantes e monarcas, soter adquire o sentido de um qualitativo que designa o seu portador como alguém que é o garante da paz e da ordem dentro do espaço da pólis. Com a deificação dos líderes políticos, soter designa os governantes que, na sua pessoa e na sua governação, incorporam os domínios celeste e temporal e que asseguram, ao reino e aos seus habitantes, uma existência segura/liberta. Na tradição judaica, o termo soter, que não é um nome ou um epíteto, é exclusivo de Deus e da sua acção/intervenção na história de Israel. No cristianismo, na linha da tradição judaica, soter é utilizado em relação a Jesus, atribuindo-lhe, também, os termos veterotestamentários exclusivos de Deus. Entendido a partir de um sentido escatológico e soteriológico novo, soter é, na perspectiva da mensagem pós-pascal e da centralidade cristológica, o termo que designa a acção salvífica operada por Deus pela/na mediação,
necessária, de Cristo.
Palavras-chave
Soter, Salvação/Libertação, Soteriologia, Escatologia
Abstract
Soter, a predicative associated with the olympic deities in the ancient Greek period, invo- ked the power and saving/protective action of the gods over the polis and its inhabitants and, in some cases, over a certain group or individual. Soter designates the benevolent grace of the gods and their intervention on the cosmos and on the concreteness of human becoming. Associated to the cults of rulers and monarchs, soter acquires the sense of a qualitative that designates its bearer as someone who is the guarantor of peace and order within the space of the polis. With the deification of the political leaders, soter designates the rulers who, in their person and in their governance, incorporate the celestial and temporal domains and, assure, to the kingdom and to its inhabitants, a safe/free existence. In Jewish tradition the term soter, which is not a name or an epithet, is exclusive of God and His action/intervention in the history of Israel. In christianity, in line with the jewish tradition, soter is used in relation to Jesus, also attributing to him, the veterotestamentary terms exclusive to God. Understood from a new eschatological and soteriological sense, soter is, from the perspective of the post-paschal message and the christological centrality, the term that designates the salvific action operated by God through the, necessary, mediation of Christ.
Keywords
Soter, Salvation/Liberation, Soteriology, Eschatology
The extensive reference to the theme of travels between worlds, present in the majority of... more The extensive reference to the theme of travels between worlds, present in the majority of the ancient traditions and particularly in the Ancient Near East and Greco-Latin cultures, denounces the existence of common human conceptions - which experience a long evolution of several mythical and religious visions - in the constant human search for answers concerning its existence, in this and the other-world.
If the "terms catabasis and anabasis, to be thorough, should be applied only to the travels to hell percussed by the heroes of the Greco-Latin tradition, they designate after all, lato sensu, by the notorious pre and post existence of the theme, all the travels between worlds before and after this same tradition".
Thus, if initially these transits were confined to the gods and the defuncts, they become, with the Greek Man, spearheaded almost exclusively by the hero-man. This opening to man of the inferior space, who there descends and from there ascends alive, will lead the soul, a posteriori, to the eschatological catabatic and anabatic journey. Therefore, if the initial transits aimed, somehow, to provide the oncoming of the gods towards Man and his world, the evolution of the vision concerning this theme will lead Man, finally, up to the divinity.
Keywords: Travels; Catabasis-Anabasis; Man; Soul; Eschatology
A abundante referência ao tema das viagens entre mundos presente na maioria das tradições antigas e em particular nas culturas do Próximo Oriente Antigo e Greco-latina, denuncia a existência de concepções humanas comuns - que atravessam uma longa evolução de visões míticas e tradições religiosas diversas - na permanente busca do Homem por respostas acerca da sua existência, neste e no outro-mundo.
Se os termos catábase e a anábase, "em rigor, deveriam ser aplicados apenas às viagens percorridas aos infernos pelos heróis da tradição Greco-latina, eles designam afinal, lato sensu, pela notória pré e pós existência deste tema, todos os trânsitos percorridos entre mundos antes e depois desta tradição".
Assim, se inicialmente estes trânsitos se limitavam aos deuses e aos defuntos, eles passam a ser, com o Homem grego, protagonizados quase exclusivamente pelo homem-herói. Esta abertura do espaço inferior ao homem, que aí desce a daí regressa com vida, conduzirá posteriormente a alma, agora separada do corpo, à viagem escatológica catabática e anabática. Deste modo, se os trânsitos iniciais visavam, de algum modo, aproximar as divindades do Homem e do seu mundo, a evolução do tratamento deste tema conduzirá, por fim, o Homem até à divindade.
Palavras-chave: Viagens; Catábase-Anábase; Homem; Alma; Escatologia.
Talks by Sofia Vasconcelos Nunes
Summer Scholl - October 14th to 30th 2019. Faculdade de Letras. Centro de História da Universidad... more Summer Scholl - October 14th to 30th 2019. Faculdade de Letras. Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-UL).
Catabasis and Anabasis in Near East and Far East Religious Traditions. The presence of catabatic and anabatic jouneys in modern and contemporary art and literature.
Summer School - July 8th to 24th 2019. Faculdade de Letras. Centro de História da Universidade de... more Summer School - July 8th to 24th 2019. Faculdade de Letras. Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-UL).
Catabasis and Anabasis in Near East and Far East Religious Traditions. The presence of catabatic and anabatic jouneys in modern and contemporary art and literature.
Katabasis and Anabasis in Ancient World. Summer School. Faculdade de Letras da Universidade de Li... more Katabasis and Anabasis in Ancient World. Summer School. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2018.
Conference Presentations by Sofia Vasconcelos Nunes
I Congresso de Espiritualidade e Mística, 2024
Ciclo de conferências online:«“Mr. DeMille, I'm ready for my close-up!” Representações da Antigui... more Ciclo de conferências online:«“Mr. DeMille, I'm ready for my close-up!” Representações da Antiguidade no Cinema», de Outubro a Dezembro 2021.
Winter School - 24th November to 14th December 2020. Faculdade de Letras. Centro de História da U... more Winter School - 24th November to 14th December 2020. Faculdade de Letras. Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-UL).
O mistério acerca da vida e da morte, tema absolutamente central e inquietante para o Homem desde os primórdios da humanidade, coloca-o, como ser no mundo e para o mundo, perante a dilacerante consciência do binómio ontológico tensional que o caracteriza e define, ou seja, o ser um vivente apontado simultaneamente para a vida e para a morte.
A constatação da morte em tudo o que vive, e da vida em tudo o que morre, ciclo eterno, ritualizado e actualizado, desde logo, nos primitivos cultos agrários, irá conduzir o Homem, progressivamente, a uma ritualização e sacralização da morte. A morte deixa, assim, de ser uma presença desconhecida e disruptiva no devir humano e torna-se, gradualmente, num momento integrado no grande e eterno ciclo natural de morte e renascimento.
A compreensão da relação fusional que une o Homem a esse permanente ciclo regenerativo da natureza conduzi-lo-á, num lento depuramento do entendimento dessa relação, a uma vivência ritualizada e cultuada que coloca, agora, em paralelo ou em simultaneidade, cultos agrários e cultos funerários.
Estas práticas, cumpridas pelos vivos em torno da morte e dos seus defuntos, característica fundante de todas as sociedades humanas, irão caracterizar-se, nas diversas tradições do globo e ao longo dos séculos, por um conjunto de ritos, mitos e costumes que manifestam, em muitos dos casos, uma consonância de visões, medos e anseios que evidenciam, no final, a universalidade do pensamento humano.
O nosso curso percorrerá, assim, na senda desse mesmo pensamento, umas vezes unívoco outras vezes multívoco, no seio de algumas tradições do mundo antigo.
The mystery about life and death, an absolutely central and disturbing theme for man since the dawn of humanity, places him, as a being in the world and for the world, in face of the tearing awareness of the ontological binomial that characterizes and defines him, that is, to be a living being pointed simultaneously to life and death.
The realization of death in everything that lives, and of life in everything that dies, an eternal cycle, ritualized and updated, right from the start, in the primitive agrarian cults, will lead Man, progressively, to a ritualization and sacralization of death. Thus, death ceases to be an unknown and disruptive presence in human becoming and gradually becomes an integrated moment in the great and eternal natural cycle of death and rebirth.
The understanding of the fusional relationship that unites man to this permanent regenerative cycle of nature will lead him, in a gradual refining about the understanding of this relationship, to a ritualized and cultured experience that now places, in parallel or simultaneously, agrarian cults and funeral services.
These practices, carried out by the living around death and their deceased, a founding characteristic of all human societies, will be defined, in the diverse traditions of the globe and over the centuries, by a set of rites, myths and customs that manifest , in many cases, a consonance of visions, fears and desires that show, in the end, the universality of human thought.
Thus, our course will go along the same path, sometimes univocal and sometimes multivocal, within the traditions of the ancient world.
Book Reviews by Sofia Vasconcelos Nunes
CADMO. Revista de História Antiga. 29. CH-ULisboa, 2020
Scientific Poster by Sofia Vasconcelos Nunes
I Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística , 2024
"Homo Faber-Homo Laudans": as mãos em/de Rodin
As mãos são, na obra do artista-escultor August Ro... more "Homo Faber-Homo Laudans": as mãos em/de Rodin
As mãos são, na obra do artista-escultor August Rodin - que nasceu em França em meados de novecentos e aí morreu na segunda década do século passado -, um dos elementos cuja representação figurativa manifesta e «instala um mundo», de forma indelével, com a «consagração e glorificação» (segundo as expressões heideggerianas), da Criação (do Homem).
As mãos do Homem, tantas vezes retratadas e resgatadas da pedra pelo homem artista, são um hino ao Criador e à humanidade criada e criadora, seja quando são um elemento de um todo, como é o caso do Pensador ou de Adão, ou seja quando são o centro da obra esculpida, como acontece com a Catedral, a Mão de Deus ou a Mão do Diabo.
Cada uma destas mãos (as do artista e/ou as da obra esculpida) manifesta, reproduz, conta, através da linguagem que lhe é própria, e conforme afirmou Gregório de Nissa em A criação do Homem, «a visão e o conhecimento».
Na criação artística, o sopro invisível que a inspira reflecte-se e desvela-se de modo misterioso na obra de arte. Se a observação do mundo, através do uso dos sentidos, é fundamental no processo criador, a contemplação orante, que usa os sentidos interiores numa «liturgia muda» (conforme disse Edith Stein), bebe dessa fons amoris presente ab initio na divina obra criada, e confere, à obra de arte, a sua essência perene.
Assim, as mãos de/em Rodin são simultaneamente um acto humano criador e um permanente hino de louvor a Deus, onde a capacidade criadora/transformadora do homo faber se une ao encantamento e deslumbramento do homo laudans.
"Homo Faber-Homo Laudans": the hands in/on Rodin.
In the work of the artist-sculptor August Rodin - born in France in the mid-1990s and died in the second decade of the last century - the hands are one of the elements whose figurative representation manifests and «installs a world» in an indelible way, with the «consecration and glorification» (according to heideggerian expressions) of Creation (of Man). The hands of Man, so often portrayed and retrieved from the stone by the artist, are a hymn to the Creator and to created and creating humanity, whether they are an element of a whole, as in the case of the «Thinker» or «Adam», or when they are the centre of the sculpted work, as in the case of the «Cathedral», the «Hand of God» or the «Hand of the Devil». Each of these hands (those of the artist and/or those of the sculpted work) manifests, reproduces, tells, through the language that is its own, and as Gregory of Nyssa said in «The Creation of Man», «the vision and knowledge». In artistic creation, the invisible breath that inspires it is reflected and revealed in a mysterious way in the work of art. If the observation of the world, through the use of the senses, is fundamental to the creative process, prayerful contemplation, which uses the inner senses in a «silent liturgy» (as Edith Stein said), drinks from that «fons amoris» present «ab initio» in the divine created work, and gives the work of art its perennial essence.
In this way, the hands of/on Rodin, are both a creative human act and a permanent hymn of praise to God, where the creative/transformative capacity of «homo faber» joins the enchantment and wonder of «homo laudans».
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Papers by Sofia Vasconcelos Nunes
desenvolver-se de modo lento e diverso no seio das três religiões reveladas: judaísmo, cristianismo e islão.
O espaço inferior, locus de habitação dos defuntos e destino último de quem morre, vai sendo entendido, na
Era Cristã e à luz do gradual evoluir das verdades escatológicas, não tanto como um lugar definitivo e, antes,
como um espaço transitório de punição e/ou de purificação do defunto, enquanto aguarda a ressurreição
final, ou o juízo último, no seu encontro com Deus. A transformação de concepções acerca da morte irá
conduzir, inevitavelmente, à criação de novos espaços na topografia inferior e a consequentes alterações
da vida no Ocidente cristão.
Palavras-chave: Hades e Sheol, Purgatório e Inferno, Escatologia, Justiça divina e Vida no Além
The greek vision concerning the descents into the inferos, later received in the roman tradition, will
develop in a slow and diverse way amongst the three revealed religions: Judaism, Christianism and Islam.
The inferior space, locus of the defunct’s dwelling place and ultimate destiny for those who die, is going to
be understood, in the Christian Era and in the light of the eschatological truth’s gradual comprehensiveness,
not quite as a ultimate place but rather as a transitory location for the dead’s punishment and/or purification,
while he awaits the final resurrection, or the last judgment, in his encounter with God. The transformation
of the conceptions of death, inevitably, to the creation of new places in the underworld topography and
to consequent changes in life in the christian West.
Key-words: Hades and Sheol, Purgatory and Hell, Eschatology, Divine Justice and Life in the Afterworld
A morte apresenta-se ao Homem como a mais radical experiência de alteridade.
Vivida e percepcionada a partir da morte do Outro, a Morte afigura-se, para aquele que a ela assiste, como uma realidade simultaneamente presente e distante.
Entender a morte como uma realidade obnubiladora da relação com o Outro e com o Mundo, através de um breve vislumbre desse futuro inadiável, obriga o Homem, a partir desse momento fracturante, a pensar a sua existência e a sua morte.
Cuidar daquele que partiu, tornar presente a sua memória e manter viva essa relação, conduz o ser humano à prática de determinadas manifestações religiosas e culturais patentes em todas as tradições humanas.
Com a excepção dos tempos de epidemias, guerras e catástrofes naturais, ou de doença prolongada, a morte aparece sempre de modo inesperado, para a qual, aquele que parte e aqueles que ficam, nunca estão devidamente preparados.
A aceitação e gradual compreensão acerca dessa presença invisível que paira sobre todos os viventes, que se manifesta em tempos mais arcaicos nos cultos e ritos agrários, conduzirá o Homem, de modo lento e gradual, à prática dos cultos funerários, devidamente fundamentados nas histórias e mitos sobre o Outro Mundo.
Assim, a morte, vista inicialmente como o fim da existência humana, torna-se, na maioria das religiões antigas, num caminho/abertura conducente a uma outra existência, concebida no Além, nessa terra distante e misteriosa habitada pelos defuntos.
Palavras chave: Morte; Além; Cultos e Ritos Funerários; Símbolos e Representações.
necessária, de Cristo.
Palavras-chave
Soter, Salvação/Libertação, Soteriologia, Escatologia
Abstract
Soter, a predicative associated with the olympic deities in the ancient Greek period, invo- ked the power and saving/protective action of the gods over the polis and its inhabitants and, in some cases, over a certain group or individual. Soter designates the benevolent grace of the gods and their intervention on the cosmos and on the concreteness of human becoming. Associated to the cults of rulers and monarchs, soter acquires the sense of a qualitative that designates its bearer as someone who is the guarantor of peace and order within the space of the polis. With the deification of the political leaders, soter designates the rulers who, in their person and in their governance, incorporate the celestial and temporal domains and, assure, to the kingdom and to its inhabitants, a safe/free existence. In Jewish tradition the term soter, which is not a name or an epithet, is exclusive of God and His action/intervention in the history of Israel. In christianity, in line with the jewish tradition, soter is used in relation to Jesus, also attributing to him, the veterotestamentary terms exclusive to God. Understood from a new eschatological and soteriological sense, soter is, from the perspective of the post-paschal message and the christological centrality, the term that designates the salvific action operated by God through the, necessary, mediation of Christ.
Keywords
Soter, Salvation/Liberation, Soteriology, Eschatology
If the "terms catabasis and anabasis, to be thorough, should be applied only to the travels to hell percussed by the heroes of the Greco-Latin tradition, they designate after all, lato sensu, by the notorious pre and post existence of the theme, all the travels between worlds before and after this same tradition".
Thus, if initially these transits were confined to the gods and the defuncts, they become, with the Greek Man, spearheaded almost exclusively by the hero-man. This opening to man of the inferior space, who there descends and from there ascends alive, will lead the soul, a posteriori, to the eschatological catabatic and anabatic journey. Therefore, if the initial transits aimed, somehow, to provide the oncoming of the gods towards Man and his world, the evolution of the vision concerning this theme will lead Man, finally, up to the divinity.
Keywords: Travels; Catabasis-Anabasis; Man; Soul; Eschatology
A abundante referência ao tema das viagens entre mundos presente na maioria das tradições antigas e em particular nas culturas do Próximo Oriente Antigo e Greco-latina, denuncia a existência de concepções humanas comuns - que atravessam uma longa evolução de visões míticas e tradições religiosas diversas - na permanente busca do Homem por respostas acerca da sua existência, neste e no outro-mundo.
Se os termos catábase e a anábase, "em rigor, deveriam ser aplicados apenas às viagens percorridas aos infernos pelos heróis da tradição Greco-latina, eles designam afinal, lato sensu, pela notória pré e pós existência deste tema, todos os trânsitos percorridos entre mundos antes e depois desta tradição".
Assim, se inicialmente estes trânsitos se limitavam aos deuses e aos defuntos, eles passam a ser, com o Homem grego, protagonizados quase exclusivamente pelo homem-herói. Esta abertura do espaço inferior ao homem, que aí desce a daí regressa com vida, conduzirá posteriormente a alma, agora separada do corpo, à viagem escatológica catabática e anabática. Deste modo, se os trânsitos iniciais visavam, de algum modo, aproximar as divindades do Homem e do seu mundo, a evolução do tratamento deste tema conduzirá, por fim, o Homem até à divindade.
Palavras-chave: Viagens; Catábase-Anábase; Homem; Alma; Escatologia.
Talks by Sofia Vasconcelos Nunes
Catabasis and Anabasis in Near East and Far East Religious Traditions. The presence of catabatic and anabatic jouneys in modern and contemporary art and literature.
Catabasis and Anabasis in Near East and Far East Religious Traditions. The presence of catabatic and anabatic jouneys in modern and contemporary art and literature.
Conference Presentations by Sofia Vasconcelos Nunes
O mistério acerca da vida e da morte, tema absolutamente central e inquietante para o Homem desde os primórdios da humanidade, coloca-o, como ser no mundo e para o mundo, perante a dilacerante consciência do binómio ontológico tensional que o caracteriza e define, ou seja, o ser um vivente apontado simultaneamente para a vida e para a morte.
A constatação da morte em tudo o que vive, e da vida em tudo o que morre, ciclo eterno, ritualizado e actualizado, desde logo, nos primitivos cultos agrários, irá conduzir o Homem, progressivamente, a uma ritualização e sacralização da morte. A morte deixa, assim, de ser uma presença desconhecida e disruptiva no devir humano e torna-se, gradualmente, num momento integrado no grande e eterno ciclo natural de morte e renascimento.
A compreensão da relação fusional que une o Homem a esse permanente ciclo regenerativo da natureza conduzi-lo-á, num lento depuramento do entendimento dessa relação, a uma vivência ritualizada e cultuada que coloca, agora, em paralelo ou em simultaneidade, cultos agrários e cultos funerários.
Estas práticas, cumpridas pelos vivos em torno da morte e dos seus defuntos, característica fundante de todas as sociedades humanas, irão caracterizar-se, nas diversas tradições do globo e ao longo dos séculos, por um conjunto de ritos, mitos e costumes que manifestam, em muitos dos casos, uma consonância de visões, medos e anseios que evidenciam, no final, a universalidade do pensamento humano.
O nosso curso percorrerá, assim, na senda desse mesmo pensamento, umas vezes unívoco outras vezes multívoco, no seio de algumas tradições do mundo antigo.
The mystery about life and death, an absolutely central and disturbing theme for man since the dawn of humanity, places him, as a being in the world and for the world, in face of the tearing awareness of the ontological binomial that characterizes and defines him, that is, to be a living being pointed simultaneously to life and death.
The realization of death in everything that lives, and of life in everything that dies, an eternal cycle, ritualized and updated, right from the start, in the primitive agrarian cults, will lead Man, progressively, to a ritualization and sacralization of death. Thus, death ceases to be an unknown and disruptive presence in human becoming and gradually becomes an integrated moment in the great and eternal natural cycle of death and rebirth.
The understanding of the fusional relationship that unites man to this permanent regenerative cycle of nature will lead him, in a gradual refining about the understanding of this relationship, to a ritualized and cultured experience that now places, in parallel or simultaneously, agrarian cults and funeral services.
These practices, carried out by the living around death and their deceased, a founding characteristic of all human societies, will be defined, in the diverse traditions of the globe and over the centuries, by a set of rites, myths and customs that manifest , in many cases, a consonance of visions, fears and desires that show, in the end, the universality of human thought.
Thus, our course will go along the same path, sometimes univocal and sometimes multivocal, within the traditions of the ancient world.
Book Reviews by Sofia Vasconcelos Nunes
Scientific Poster by Sofia Vasconcelos Nunes
As mãos são, na obra do artista-escultor August Rodin - que nasceu em França em meados de novecentos e aí morreu na segunda década do século passado -, um dos elementos cuja representação figurativa manifesta e «instala um mundo», de forma indelével, com a «consagração e glorificação» (segundo as expressões heideggerianas), da Criação (do Homem).
As mãos do Homem, tantas vezes retratadas e resgatadas da pedra pelo homem artista, são um hino ao Criador e à humanidade criada e criadora, seja quando são um elemento de um todo, como é o caso do Pensador ou de Adão, ou seja quando são o centro da obra esculpida, como acontece com a Catedral, a Mão de Deus ou a Mão do Diabo.
Cada uma destas mãos (as do artista e/ou as da obra esculpida) manifesta, reproduz, conta, através da linguagem que lhe é própria, e conforme afirmou Gregório de Nissa em A criação do Homem, «a visão e o conhecimento».
Na criação artística, o sopro invisível que a inspira reflecte-se e desvela-se de modo misterioso na obra de arte. Se a observação do mundo, através do uso dos sentidos, é fundamental no processo criador, a contemplação orante, que usa os sentidos interiores numa «liturgia muda» (conforme disse Edith Stein), bebe dessa fons amoris presente ab initio na divina obra criada, e confere, à obra de arte, a sua essência perene.
Assim, as mãos de/em Rodin são simultaneamente um acto humano criador e um permanente hino de louvor a Deus, onde a capacidade criadora/transformadora do homo faber se une ao encantamento e deslumbramento do homo laudans.
"Homo Faber-Homo Laudans": the hands in/on Rodin.
In the work of the artist-sculptor August Rodin - born in France in the mid-1990s and died in the second decade of the last century - the hands are one of the elements whose figurative representation manifests and «installs a world» in an indelible way, with the «consecration and glorification» (according to heideggerian expressions) of Creation (of Man). The hands of Man, so often portrayed and retrieved from the stone by the artist, are a hymn to the Creator and to created and creating humanity, whether they are an element of a whole, as in the case of the «Thinker» or «Adam», or when they are the centre of the sculpted work, as in the case of the «Cathedral», the «Hand of God» or the «Hand of the Devil». Each of these hands (those of the artist and/or those of the sculpted work) manifests, reproduces, tells, through the language that is its own, and as Gregory of Nyssa said in «The Creation of Man», «the vision and knowledge». In artistic creation, the invisible breath that inspires it is reflected and revealed in a mysterious way in the work of art. If the observation of the world, through the use of the senses, is fundamental to the creative process, prayerful contemplation, which uses the inner senses in a «silent liturgy» (as Edith Stein said), drinks from that «fons amoris» present «ab initio» in the divine created work, and gives the work of art its perennial essence.
In this way, the hands of/on Rodin, are both a creative human act and a permanent hymn of praise to God, where the creative/transformative capacity of «homo faber» joins the enchantment and wonder of «homo laudans».
desenvolver-se de modo lento e diverso no seio das três religiões reveladas: judaísmo, cristianismo e islão.
O espaço inferior, locus de habitação dos defuntos e destino último de quem morre, vai sendo entendido, na
Era Cristã e à luz do gradual evoluir das verdades escatológicas, não tanto como um lugar definitivo e, antes,
como um espaço transitório de punição e/ou de purificação do defunto, enquanto aguarda a ressurreição
final, ou o juízo último, no seu encontro com Deus. A transformação de concepções acerca da morte irá
conduzir, inevitavelmente, à criação de novos espaços na topografia inferior e a consequentes alterações
da vida no Ocidente cristão.
Palavras-chave: Hades e Sheol, Purgatório e Inferno, Escatologia, Justiça divina e Vida no Além
The greek vision concerning the descents into the inferos, later received in the roman tradition, will
develop in a slow and diverse way amongst the three revealed religions: Judaism, Christianism and Islam.
The inferior space, locus of the defunct’s dwelling place and ultimate destiny for those who die, is going to
be understood, in the Christian Era and in the light of the eschatological truth’s gradual comprehensiveness,
not quite as a ultimate place but rather as a transitory location for the dead’s punishment and/or purification,
while he awaits the final resurrection, or the last judgment, in his encounter with God. The transformation
of the conceptions of death, inevitably, to the creation of new places in the underworld topography and
to consequent changes in life in the christian West.
Key-words: Hades and Sheol, Purgatory and Hell, Eschatology, Divine Justice and Life in the Afterworld
A morte apresenta-se ao Homem como a mais radical experiência de alteridade.
Vivida e percepcionada a partir da morte do Outro, a Morte afigura-se, para aquele que a ela assiste, como uma realidade simultaneamente presente e distante.
Entender a morte como uma realidade obnubiladora da relação com o Outro e com o Mundo, através de um breve vislumbre desse futuro inadiável, obriga o Homem, a partir desse momento fracturante, a pensar a sua existência e a sua morte.
Cuidar daquele que partiu, tornar presente a sua memória e manter viva essa relação, conduz o ser humano à prática de determinadas manifestações religiosas e culturais patentes em todas as tradições humanas.
Com a excepção dos tempos de epidemias, guerras e catástrofes naturais, ou de doença prolongada, a morte aparece sempre de modo inesperado, para a qual, aquele que parte e aqueles que ficam, nunca estão devidamente preparados.
A aceitação e gradual compreensão acerca dessa presença invisível que paira sobre todos os viventes, que se manifesta em tempos mais arcaicos nos cultos e ritos agrários, conduzirá o Homem, de modo lento e gradual, à prática dos cultos funerários, devidamente fundamentados nas histórias e mitos sobre o Outro Mundo.
Assim, a morte, vista inicialmente como o fim da existência humana, torna-se, na maioria das religiões antigas, num caminho/abertura conducente a uma outra existência, concebida no Além, nessa terra distante e misteriosa habitada pelos defuntos.
Palavras chave: Morte; Além; Cultos e Ritos Funerários; Símbolos e Representações.
necessária, de Cristo.
Palavras-chave
Soter, Salvação/Libertação, Soteriologia, Escatologia
Abstract
Soter, a predicative associated with the olympic deities in the ancient Greek period, invo- ked the power and saving/protective action of the gods over the polis and its inhabitants and, in some cases, over a certain group or individual. Soter designates the benevolent grace of the gods and their intervention on the cosmos and on the concreteness of human becoming. Associated to the cults of rulers and monarchs, soter acquires the sense of a qualitative that designates its bearer as someone who is the guarantor of peace and order within the space of the polis. With the deification of the political leaders, soter designates the rulers who, in their person and in their governance, incorporate the celestial and temporal domains and, assure, to the kingdom and to its inhabitants, a safe/free existence. In Jewish tradition the term soter, which is not a name or an epithet, is exclusive of God and His action/intervention in the history of Israel. In christianity, in line with the jewish tradition, soter is used in relation to Jesus, also attributing to him, the veterotestamentary terms exclusive to God. Understood from a new eschatological and soteriological sense, soter is, from the perspective of the post-paschal message and the christological centrality, the term that designates the salvific action operated by God through the, necessary, mediation of Christ.
Keywords
Soter, Salvation/Liberation, Soteriology, Eschatology
If the "terms catabasis and anabasis, to be thorough, should be applied only to the travels to hell percussed by the heroes of the Greco-Latin tradition, they designate after all, lato sensu, by the notorious pre and post existence of the theme, all the travels between worlds before and after this same tradition".
Thus, if initially these transits were confined to the gods and the defuncts, they become, with the Greek Man, spearheaded almost exclusively by the hero-man. This opening to man of the inferior space, who there descends and from there ascends alive, will lead the soul, a posteriori, to the eschatological catabatic and anabatic journey. Therefore, if the initial transits aimed, somehow, to provide the oncoming of the gods towards Man and his world, the evolution of the vision concerning this theme will lead Man, finally, up to the divinity.
Keywords: Travels; Catabasis-Anabasis; Man; Soul; Eschatology
A abundante referência ao tema das viagens entre mundos presente na maioria das tradições antigas e em particular nas culturas do Próximo Oriente Antigo e Greco-latina, denuncia a existência de concepções humanas comuns - que atravessam uma longa evolução de visões míticas e tradições religiosas diversas - na permanente busca do Homem por respostas acerca da sua existência, neste e no outro-mundo.
Se os termos catábase e a anábase, "em rigor, deveriam ser aplicados apenas às viagens percorridas aos infernos pelos heróis da tradição Greco-latina, eles designam afinal, lato sensu, pela notória pré e pós existência deste tema, todos os trânsitos percorridos entre mundos antes e depois desta tradição".
Assim, se inicialmente estes trânsitos se limitavam aos deuses e aos defuntos, eles passam a ser, com o Homem grego, protagonizados quase exclusivamente pelo homem-herói. Esta abertura do espaço inferior ao homem, que aí desce a daí regressa com vida, conduzirá posteriormente a alma, agora separada do corpo, à viagem escatológica catabática e anabática. Deste modo, se os trânsitos iniciais visavam, de algum modo, aproximar as divindades do Homem e do seu mundo, a evolução do tratamento deste tema conduzirá, por fim, o Homem até à divindade.
Palavras-chave: Viagens; Catábase-Anábase; Homem; Alma; Escatologia.
Catabasis and Anabasis in Near East and Far East Religious Traditions. The presence of catabatic and anabatic jouneys in modern and contemporary art and literature.
Catabasis and Anabasis in Near East and Far East Religious Traditions. The presence of catabatic and anabatic jouneys in modern and contemporary art and literature.
O mistério acerca da vida e da morte, tema absolutamente central e inquietante para o Homem desde os primórdios da humanidade, coloca-o, como ser no mundo e para o mundo, perante a dilacerante consciência do binómio ontológico tensional que o caracteriza e define, ou seja, o ser um vivente apontado simultaneamente para a vida e para a morte.
A constatação da morte em tudo o que vive, e da vida em tudo o que morre, ciclo eterno, ritualizado e actualizado, desde logo, nos primitivos cultos agrários, irá conduzir o Homem, progressivamente, a uma ritualização e sacralização da morte. A morte deixa, assim, de ser uma presença desconhecida e disruptiva no devir humano e torna-se, gradualmente, num momento integrado no grande e eterno ciclo natural de morte e renascimento.
A compreensão da relação fusional que une o Homem a esse permanente ciclo regenerativo da natureza conduzi-lo-á, num lento depuramento do entendimento dessa relação, a uma vivência ritualizada e cultuada que coloca, agora, em paralelo ou em simultaneidade, cultos agrários e cultos funerários.
Estas práticas, cumpridas pelos vivos em torno da morte e dos seus defuntos, característica fundante de todas as sociedades humanas, irão caracterizar-se, nas diversas tradições do globo e ao longo dos séculos, por um conjunto de ritos, mitos e costumes que manifestam, em muitos dos casos, uma consonância de visões, medos e anseios que evidenciam, no final, a universalidade do pensamento humano.
O nosso curso percorrerá, assim, na senda desse mesmo pensamento, umas vezes unívoco outras vezes multívoco, no seio de algumas tradições do mundo antigo.
The mystery about life and death, an absolutely central and disturbing theme for man since the dawn of humanity, places him, as a being in the world and for the world, in face of the tearing awareness of the ontological binomial that characterizes and defines him, that is, to be a living being pointed simultaneously to life and death.
The realization of death in everything that lives, and of life in everything that dies, an eternal cycle, ritualized and updated, right from the start, in the primitive agrarian cults, will lead Man, progressively, to a ritualization and sacralization of death. Thus, death ceases to be an unknown and disruptive presence in human becoming and gradually becomes an integrated moment in the great and eternal natural cycle of death and rebirth.
The understanding of the fusional relationship that unites man to this permanent regenerative cycle of nature will lead him, in a gradual refining about the understanding of this relationship, to a ritualized and cultured experience that now places, in parallel or simultaneously, agrarian cults and funeral services.
These practices, carried out by the living around death and their deceased, a founding characteristic of all human societies, will be defined, in the diverse traditions of the globe and over the centuries, by a set of rites, myths and customs that manifest , in many cases, a consonance of visions, fears and desires that show, in the end, the universality of human thought.
Thus, our course will go along the same path, sometimes univocal and sometimes multivocal, within the traditions of the ancient world.
As mãos são, na obra do artista-escultor August Rodin - que nasceu em França em meados de novecentos e aí morreu na segunda década do século passado -, um dos elementos cuja representação figurativa manifesta e «instala um mundo», de forma indelével, com a «consagração e glorificação» (segundo as expressões heideggerianas), da Criação (do Homem).
As mãos do Homem, tantas vezes retratadas e resgatadas da pedra pelo homem artista, são um hino ao Criador e à humanidade criada e criadora, seja quando são um elemento de um todo, como é o caso do Pensador ou de Adão, ou seja quando são o centro da obra esculpida, como acontece com a Catedral, a Mão de Deus ou a Mão do Diabo.
Cada uma destas mãos (as do artista e/ou as da obra esculpida) manifesta, reproduz, conta, através da linguagem que lhe é própria, e conforme afirmou Gregório de Nissa em A criação do Homem, «a visão e o conhecimento».
Na criação artística, o sopro invisível que a inspira reflecte-se e desvela-se de modo misterioso na obra de arte. Se a observação do mundo, através do uso dos sentidos, é fundamental no processo criador, a contemplação orante, que usa os sentidos interiores numa «liturgia muda» (conforme disse Edith Stein), bebe dessa fons amoris presente ab initio na divina obra criada, e confere, à obra de arte, a sua essência perene.
Assim, as mãos de/em Rodin são simultaneamente um acto humano criador e um permanente hino de louvor a Deus, onde a capacidade criadora/transformadora do homo faber se une ao encantamento e deslumbramento do homo laudans.
"Homo Faber-Homo Laudans": the hands in/on Rodin.
In the work of the artist-sculptor August Rodin - born in France in the mid-1990s and died in the second decade of the last century - the hands are one of the elements whose figurative representation manifests and «installs a world» in an indelible way, with the «consecration and glorification» (according to heideggerian expressions) of Creation (of Man). The hands of Man, so often portrayed and retrieved from the stone by the artist, are a hymn to the Creator and to created and creating humanity, whether they are an element of a whole, as in the case of the «Thinker» or «Adam», or when they are the centre of the sculpted work, as in the case of the «Cathedral», the «Hand of God» or the «Hand of the Devil». Each of these hands (those of the artist and/or those of the sculpted work) manifests, reproduces, tells, through the language that is its own, and as Gregory of Nyssa said in «The Creation of Man», «the vision and knowledge». In artistic creation, the invisible breath that inspires it is reflected and revealed in a mysterious way in the work of art. If the observation of the world, through the use of the senses, is fundamental to the creative process, prayerful contemplation, which uses the inner senses in a «silent liturgy» (as Edith Stein said), drinks from that «fons amoris» present «ab initio» in the divine created work, and gives the work of art its perennial essence.
In this way, the hands of/on Rodin, are both a creative human act and a permanent hymn of praise to God, where the creative/transformative capacity of «homo faber» joins the enchantment and wonder of «homo laudans».