Ebook Mitos Fundantes
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1
Sandson Rotterdan (org.)
MITOS FUNDANTES:
2
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................................4
I - Os mistérios da Criação...................................................................8
II - Povos Iorubá................................................................................11
III - Povos Tupi...................................................................................13
IV - Povos Vikings..............................................................................15
V - Povos Gregos...............................................................................17
VI Cultura Judaico-cristã...................................................................19
VII - Povos Egípcios............................................................................22
VIII - Povos Incas...............................................................................24
IX - Povos Guarani.............................................................................26
X - Povos Bantu................................................................................28
Os vários sentidos do viver...............................................................30
Principais referências Bibliográficas:................................................32
3
APRESENTAÇÃO
4
Capítulo III : Os Povos Tupi: A Voz de Tupã
5
Adentrando a tradição judaico-cristã, exploraremos o relato
bíblico da criação do mundo em seis dias por meio da palavra de
Deus. Analisaremos como a visão de um Deus onipotente e
benevolente moldou a concepção do universo e dos seres vivos nessa
tradição religiosa.
6
Neste último capítulo, exploraremos os mitos de criação dos
povos Bantu, centrados na figura divina de Nzambi ou Nzambi
Mpungu. Investigaremos como Nzambi moldou o primeiro ser
humano a partir da argila, estabelecendo uma conexão profunda
entre os seres humanos e a terra. Analisaremos os ensinamentos de
Nzambi sobre a interdependência e a importância da comunidade.
7
I - Os mistérios da Criação
A Busca pela Compreensão e o Monomito de Joseph Campbell:
8
fundamentais. Os mitos oferecem narrativas simbólicas que moldam
a visão de mundo de uma comunidade, estabelecendo uma base
compartilhada de crenças e valores. Eles fornecem um senso de
continuidade histórica e conectam os indivíduos à sua herança
cultural.
9
Neste capítulo, exploramos a importância dos mitos de
criação nas tradições culturais, à luz das abordagens de Joseph
Campbell e Mircea Eliade. Essas perspectivas enriquecem nossa
compreensão das narrativas mitológicas, destacando a busca
universal por compreensão, transcendência e identidade cultural. Ao
mergulharmos nessas histórias antigas, somos convidados a refletir
sobre nossa própria jornada e a buscar significado em nossa própria
existência, reconhecendo a riqueza da diversidade cultural e a busca
compartilhada pela compreensão dos mistérios da criação
10
II - Povos Iorubá
Há muito tempo, antes mesmo do surgimento do tempo
como o conhecemos, o mundo estava mergulhado em um vazio
escuro. Nesse vazio existia apenas o Olorun, o supremo deus dos
povos de cultura ioruba. Olorun era uma figura imponente, rodeada
por uma aura divina, e detinha um poder infinito sobre todas as
coisas.
No entanto, Olorun sentiu a necessidade de trazer à existência um
plano material, uma criação que pudesse expressar sua própria
essência divina. Assim, ele convocou Orunmila, o deus da sabedoria e
do destino, para ajudá-lo a moldar o mundo.
Juntos, Olorun e Orunmila começaram sua obra divina. Eles
reuniram diversos elementos sagrados, como o fogo, a água, a terra e
o ar, e os misturaram com habilidade. Eles sopraram vida sobre a
mistura, e assim nasceram os primeiros seres vivos, conhecidos como
Orixás.
Os Orixás eram seres divinos, cada um com suas
características e poderes únicos. Entre os mais notáveis estavam
Obatalá, o criador da humanidade, Ogun, o deus do ferro e da guerra,
e Yemanjá, a deusa dos oceanos. Cada Orixá desempenhava um papel
vital na criação e na manutenção do mundo.
Obatalá, o Orixá supremo, foi designado por Olorun para dar
forma aos seres humanos. Ele modelou o primeiro humano a partir
do barro e soprou vida em sua criação. Assim nasceu o primeiro
homem. Obatalá também moldou a primeira mulher, e juntos eles se
tornaram os ancestrais de toda a humanidade.
No entanto, a criação não foi um processo sem obstáculos.
Houve uma grande batalha entre Olorun e seu irmão Oduduwa, que
desejou reivindicar o poder supremo para si. Em meio a essa batalha
épica, Oduduwa foi derrotado e exilado para o mundo inferior.
Após a vitória de Olorun, ele estabeleceu o equilíbrio entre os Orixás,
atribuindo a cada um uma função específica no mundo. Cada Orixá
11
era responsável por governar sobre um aspecto particular da vida,
desde a fertilidade até a caça, a cura, a sabedoria e muito mais.
Assim, os povos de cultura ioruba acreditavam que a criação
era um ato divino de Olorun e seus Orixás. Eles entendiam que toda a
existência era interligada e dependia da harmonia entre essas
divindades.
12
III - Povos Tupi
Nas terras ancestrais do Brasil, muito antes da chegada dos
colonizadores, os povos de cultura Tupi acreditavam em um mito de
criação que explicava a origem do mundo e dos seres humanos. Essa
narrativa era passada de geração em geração, transmitida oralmente
e registrada em diferentes fontes etnográficas.
Segundo o mito Tupi, o universo inicialmente era habitado apenas
pelos deuses, conhecidos como Mbaê. Entre os Mbaê, havia um ser
supremo chamado Nhanderuvuçu, considerado o criador de tudo o
que existe. Nhanderuvuçu vivia no alto do céu e, um dia, decidiu criar
a terra e os seres humanos.
Para trazer a vida à Terra, Nhanderuvuçu convocou Araci, a
deusa da lua, e Jacy, o deus do sol. Eles foram incumbidos de dar
forma à nova criação. Araci, com seu brilho prateado, derramou seu
poder sobre a terra, enquanto Jacy, com seus raios dourados,
aqueceu e iluminou o mundo.
Em seguida, Nhanderuvuçu convocou Guaraci, o deus da
noite, e Jaci, a deusa do dia. Eles foram encarregados de criar os seres
humanos. Guaraci moldou o primeiro homem e Jaci moldou a
primeira mulher. Esses seres primordiais foram chamados de
Nhanderu e Araci.
No entanto, a criação dos seres humanos não foi tão simples.
Nhanderuvuçu instruiu Guaraci e Jaci a levarem Nhanderu e Araci
para o fundo do mar, onde havia uma árvore sagrada chamada
Yvyra'í, também conhecida como a Árvore da Vida. Lá, eles deveriam
enterrar o casal primordial no solo ao redor da árvore, para que
nascessem as novas gerações de seres humanos.
Após a realização desse ritual sagrado, Nhanderuvuçu
concedeu aos seres humanos dons e habilidades essenciais. Ele deu a
eles o fogo para se aquecerem e se protegerem, ensinou-os a cultivar
a terra para obter alimentos e deu-lhes a capacidade de se comunicar
e se relacionar uns com os outros.
13
Essa narrativa do mito de criação dos povos de cultura Tupi é baseada
em fontes como "Myths of the Toba and Pilagá Indians of the Gran
Chaco" de Jules Henry e "A origem do fogo: ensaios sobre a cultura
Tupi" de Eduardo Viveiros de Castro. Essas obras etnográficas
registram a rica mitologia e espiritualidade dos povos Tupi e ajudam a
compreender suas visões sobre a origem do mundo e dos seres
humanos.
14
IV - Povos Vikings
Nas gélidas terras nórdicas, entre montanhas imponentes e
fiordes majestosos, os povos de cultura Viking compartilhavam um
mito de criação que revelava as origens do universo e dos seres
humanos. Essa narrativa, encontrada em fontes como as sagas
islandesas e a Edda em Prosa, foi preservada ao longo dos séculos e
refletia a visão cosmológica desses antigos guerreiros do norte.
Segundo o mito Viking, no início havia um vasto vazio chamado
Ginnungagap. Nesse abismo primordial, havia dois reinos opostos:
Niflheim, o reino do gelo e das trevas, e Muspelheim, o reino do fogo
e do calor. Entre eles, uma poderosa corrente chamada Hvergelmir
fluía, gerando nevoeiro e vapor.
Foi nesse encontro de fogo e gelo que a vida emergiu. Das
águas primordiais de Niflheim, surgiu Ymir, uma criatura gigantesca e
primordial. Ymir era um ser andrógino, e dele nasceram outros
gigantes do gelo. Enquanto Ymir dormia, o suor que escorria de seu
corpo deu origem a uma nova raça de gigantes.
Enquanto isso, em Muspelheim, o fogo crepitava sob o
comando de Surt, o gigante flamejante. Surt era a personificação do
fogo primordial e carregava consigo a chama que aquecia e dava vida
ao universo.
O destino desses dois reinos estava entrelaçado. Em um
encontro fortuito, Ymir e a vaca cósmica Auðumbla, que emergiu do
gelo, se encontraram. Ymir se alimentou do leite produzido pela vaca,
enquanto esta, lambendo o gelo, revelou Búri, o primeiro dos deuses.
Búri gerou um filho chamado Bor, que, por sua vez, teve três filhos
poderosos: Odin, Vili e Ve. Esses três irmãos deuses assumiram a
missão de derrotar Ymir e moldar o universo a seu gosto.
Com uma coragem indomável, Odin, Vili e Ve atacaram Ymir.
Uma batalha de proporções épicas se seguiu, na qual os deuses
triunfaram. Ymir foi morto e seu corpo deu origem a tudo o que
existe. Seu sangue se tornou os oceanos, seus ossos formaram as
15
montanhas e seu crânio se tornou o céu. Os gigantes do gelo
restantes foram afogados em um dilúvio de sangue.
Os três irmãos divinos continuaram sua obra de criação. Dos
restos mortais de Ymir, eles construíram Midgard, a terra dos
humanos. Os deuses ergueram o céu com seus crânios, colocaram
faixas de nuvens para delimitar os horizontes e criaram o fogo do sol
a partir da centelha de Muspelheim. A partir de uma madeira
flutuante, eles esculpiram Ask e Embla, o primeiro homem e a
primeira mulher, dando início à humanidade.
Assim, os povos de cultura Viking acreditavam que a criação
do mundo e dos seres humanos foi resultado de uma grande batalha
entre os deuses e os gigantes primordiais. Eles entendiam que seu
destino estava entrelaçado com o destino dos deuses e que a
harmonia entre os reinos do gelo e do fogo era essencial para a
ordem cósmica.
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V - Povos Gregos
Na antiga Grécia, berço de uma rica mitologia, os povos de
cultura Grega compartilhavam um mito de criação que explicava a
origem do universo e dos seres humanos. Essa narrativa, transmitida
por meio de poemas épicos e obras de filósofos, refletia a visão dos
antigos gregos sobre as forças divinas e o surgimento do mundo.
De acordo com o mito grego, no início havia o Caos, um
abismo primordial sem forma nem limites. De dentro do Caos
emergiram Gaia, a deusa da Terra, e Urano, o deus dos céus. Gaia e
Urano se uniram, gerando uma linhagem de deuses conhecidos como
os Titãs e as Titânides.
Entre os Titãs, o mais poderoso era Cronos, que se rebelou
contra seu pai Urano e o derrotou, assumindo o controle do universo.
Cronos casou-se com sua irmã, Reia, e juntos tiveram uma prole de
deuses conhecidos como os Olímpicos.
No entanto, Cronos temia uma profecia que dizia que ele
seria destronado por um de seus filhos. Para evitar isso, ele engolia
todos os filhos que nasciam de Reia. Mas quando Zeus, o último filho,
nasceu, Reia conseguiu escondê-lo e, em seu lugar, deu a Cronos uma
pedra envolta em panos.
Criado em segredo por Reia, Zeus cresceu em força e poder.
Quando adulto, ele confrontou seu pai Cronos e os Titãs em uma
grande batalha conhecida como a Titanomaquia. Com a ajuda de
outros deuses e seres divinos, Zeus emergiu vitorioso e se tornou o
soberano dos deuses no Monte Olimpo.
Com o universo sob o domínio dos deuses olímpicos, Zeus e
seus irmãos e irmãs dividiram as esferas de influência. Zeus se tornou
o deus dos céus e do trovão, governando sobre os outros deuses e
mortais. Poseidon se tornou o deus dos mares, e Hades, o deus do
mundo subterrâneo.
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Juntos, os deuses olímpicos moldaram o mundo conhecido
pelos gregos antigos, criando montanhas, rios, florestas e todas as
formas de vida. Eles também deram origem aos primeiros seres
humanos, moldando-os a partir do barro e concedendo-lhes o sopro
divino da vida.
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VI Cultura Judaico-cristã
No princípio, segundo a tradição dos povos de cultura
Judaico-cristã, Deus existia eternamente. Ele era o ser supremo,
criador do universo e de todas as coisas. A narrativa de criação desses
povos é encontrada nas Escrituras Sagradas, mais especificamente no
livro do Gênesis, tanto no Antigo Testamento da Bíblia hebraica como
no cânon das Sagradas Escrituras do cristianismo.
Deus, sendo onipotente e sábio, decidiu trazer à existência o
mundo e tudo o que nele habita. No início, a terra era sem forma e
vazia, envolta em trevas. Deus pairava sobre as águas.
Então, Deus disse: "Haja luz", e a luz veio à existência. Ele
separou a luz das trevas, chamando a luz de dia e as trevas de noite.
Essa foi a primeira criação divina.
Em seguida, Deus disse: "Haja um firmamento no meio das
águas para separar águas de águas". Ele criou o céu, formando uma
divisão entre as águas acima e abaixo do firmamento. O firmamento
foi chamado de céu.
Em seguida, Deus disse: "Ajuntem-se as águas debaixo do céu
num lugar; e apareça a porção seca". Assim, ele separou as águas,
formando a terra seca e os mares. Deus chamou a porção seca de
terra e os mares de oceanos.
Deus continuou a criar. Ele fez brotar a vegetação, as plantas,
as árvores frutíferas e todas as formas de vida vegetal sobre a terra. A
natureza se tornou exuberante, cheia de cores e vitalidade.
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Em seguida, Deus criou animais terrestres, desde rebanhos
até feras selvagens, cada um segundo sua espécie. A terra estava
repleta de vida.
Por fim, Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança". Ele moldou o primeiro homem,
Adão, do pó da terra e soprou nele o fôlego da vida. Adão se tornou o
progenitor da humanidade.
Deus criou uma parceira para Adão, a primeira mulher
chamada Eva, formada a partir de uma costela de Adão. Juntos, eles
foram encarregados de cuidar e governar sobre toda a criação divina.
Assim, segundo a tradição dos povos de cultura Judaico-
cristã, o mundo e todos os seres vivos foram criados por Deus em um
ato de amor e soberania divina.
Essa narrativa do mito de criação dos povos de cultura
Judaico-cristã é baseada nas Escrituras Sagradas, principalmente no
livro do Gênesis, presente no
Antigo Testamento da Bíblia hebraica e no cânon das
Sagradas Escrituras do cristianismo. Essas escrituras são consideradas
sagradas e fundamentais para a fé e a tradição judaica e cristã,
transmitindo a crença na criação divina como o início de todas as
coisas.
A narrativa de criação desses povos não apenas descreve o
surgimento do universo e da humanidade, mas também estabelece a
relação especial entre Deus e seus filhos. Ela fala sobre a
responsabilidade dos seres humanos de cuidar da criação, de se
relacionar com Deus e com seus semelhantes de maneira justa e
amorosa.
Embora existam diversas interpretações e variações nas
abordagens teológicas, o mito de criação judaico-cristão continua a
ser uma parte essencial da identidade e da fé desses povos. Sua
influência é sentida não apenas nas práticas religiosas, mas também
na cultura, na ética e na visão de mundo de milhões de pessoas ao
redor do globo.
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Assim, a narrativa de criação judaico-cristã nos lembra da
grandiosidade do ato divino de dar vida e da importância de
preservar e valorizar a criação de Deus, vivendo em harmonia com os
outros seres humanos e com a natureza ao nosso redor.
21
VII - Povos Egípcios
No vale do Nilo, entre as terras férteis do antigo Egito, os
povos de cultura Egípcia compartilhavam um mito de criação que
contava a origem do universo e dos seres humanos. Essa narrativa,
registrada em textos religiosos e funerários, refletia a visão
cosmológica dessas antigas civilizações.
Segundo o mito egípcio de criação, no princípio havia o Nada,
o oceano primordial chamado Nun. Desse abismo de águas escuras
emergiu uma colina de onde surgiu o deus primordial Atum. Atum era
uma divindade que continha em si o poder da criação.
Atum, por sua vez, começou a criar outros deuses por meio
de seu próprio poder divino. Ele criou a partir de si mesmo os deuses
Shu, deus do ar, e Tefnut, deusa da umidade. Esses dois deuses
representavam os elementos primordiais necessários para a vida.
Shu e Tefnut, por sua vez, geraram outros dois deuses, Geb, o
deus da terra, e Nut, a deusa do céu. Geb e Nut se tornaram
amantes, mas seu pai Atum proibiu que ficassem juntos, assim, Nut
se elevou ao céu, curvando-se sobre Geb, formando uma barreira
entre eles. Essa curvatura de Nut sobre Geb criou o espaço que
conhecemos como céu.
No entanto, Nut estava grávida dos filhos de Geb. Ra, o deus
Sol, soube disso e se enfureceu, temendo que seus filhos roubassem
seu trono. Assim, ele proibiu Nut de dar à luz em todos os dias do
ano.
Para contornar essa proibição, Nut buscou a ajuda de Thot, o
deus da sabedoria e da escrita. Thot desafiou Ra em uma partida de
Senet, um antigo jogo de tabuleiro. Thot venceu e como recompensa,
Ra permitiu que Nut desse à luz a seus filhos em cinco dias adicionais,
que se tornaram os dias "epagômenos" do calendário egípcio.
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Nut deu à luz a quatro deuses: Osíris, Ísis, Set e Néftis. Cada
um deles desempenhou um papel importante na mitologia egípcia,
com Osíris se tornando o deus dos mortos e do renascimento, Ísis
como a deusa da magia e da maternidade, Set como o deus da
violência e das tempestades, e Néftis como a deusa das lamentações
e do luto.
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VIII - Povos Incas
Na antiga civilização inca, a criação do mundo e dos seres
humanos era um tema central em sua mitologia. Embora não haja um
único mito de criação unificado, existem várias narrativas e crenças
que fornecem uma visão sobre as origens do universo e da
humanidade para os povos Incas.
De acordo com a tradição inca, a criação do mundo foi
atribuída a Viracocha, uma divindade supremamente poderosa e
criadora. Viracocha era considerado o deus do universo e o
governante de todos os outros deuses. Ele era descrito como um ser
divino de grande sabedoria, que moldou e deu vida a tudo o que
existia.
Uma das narrativas populares entre os Incas é a do
surgimento dos primeiros seres humanos, que envolveu a
intervenção direta de Viracocha. Segundo essa história, inicialmente
o mundo era habitado por gigantes de pedra chamados "huacas", que
não tinham alma nem inteligência.
Viracocha decidiu criar seres humanos mais aperfeiçoados e
dotados de alma. Ele moldou os primeiros seres humanos a partir de
pedras, dando-lhes forma e vida. No entanto, esses primeiros seres
humanos não eram perfeitos e acabaram se tornando desobedientes
e arrogantes.
Inconformado com a atitude dos primeiros seres humanos,
Viracocha decidiu destruí-los. Ele enviou uma grande inundação, que
cobriu a Terra e acabou com todos os seres vivos, exceto um casal de
irmãos chamados Manco Cápac e Mama Ocllo, que eram
considerados os ancestrais fundadores do povo Inca.
Após a grande inundação, Viracocha reapareceu e guiou
Manco Cápac e Mama Ocllo para fora das águas, levando-os a uma
24
região montanhosa sagrada chamada Pacaritambo. Lá, ele deu a eles
uma vara dourada e instruiu-os a fundar uma nova civilização,
estabelecendo a cidade de Cusco como seu centro.
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IX - Povos Guarani
Os povos Guarani, presentes em várias regiões da América do
Sul, possuem uma rica mitologia que inclui diferentes versões do mito
de criação. Essas narrativas são transmitidas oralmente de geração
em geração e têm sido preservadas por meio de estudos
antropológicos e etnográficos.
De acordo com uma das versões do mito Guarani, antes do
surgimento do mundo como o conhecemos, havia apenas o vazio e a
escuridão. Nesse cenário, havia uma divindade supremamente
poderosa chamada Ñamandu Tenonde Porã, que significa "Nosso Pai
que é Bonito". Ñamandu Tenonde Porã era um ser benevolente e
criador que habitava as alturas celestiais.
Ñamandu Tenonde Porã decidiu criar o mundo e tudo o que
nele habita. Ele lançou seu olhar sobre a terra e viu que ela estava
vazia e sem vida. Então, ele criou uma divindade feminina chamada
Arasy, também conhecida como Mãe Terra, para ser sua companheira
na criação.
Juntos, Ñamandu Tenonde Porã e Arasy deram início à tarefa
de moldar o mundo e seus seres vivos. Eles formaram as montanhas,
os rios, as florestas e os animais, cada um com suas características
distintas e propósitos específicos.
No entanto, a criação dos seres humanos era um desafio
maior. Ñamandu Tenonde Porã decidiu soprar sua respiração divina
em pedaços de argila, moldando a forma humana. Mas esses
primeiros seres humanos eram frágeis e perecíveis, não tendo a
capacidade de se sustentarem ou se reproduzirem.
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presenteou os seres humanos com diferentes habilidades e
conhecimentos, como a agricultura, a caça, a pesca, a tecelagem e a
medicina.
Após receberem esses dons divinos, os seres humanos
ganharam força e habilidades para enfrentar os desafios da vida na
Terra. Eles se multiplicaram, formando as diferentes tribos Guarani e
espalhando-se por vastas áreas do continente sul-americano.
Essa narrativa do mito de criação dos povos Guarani reflete a
crença na existência de divindades benevolentes e criadoras que
deram origem ao mundo e aos seres humanos. A mitologia Guarani,
assim como outras tradições indígenas, evidencia uma relação de
profundo respeito e conexão entre os seres humanos, a natureza e o
mundo espiritual.
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X - Povos Bantu
Os povos Bantu, com suas diversas culturas e tradições,
possuem uma rica mitologia que inclui diferentes versões do mito de
criação. Embora haja variações regionais e locais, uma narrativa
comum entre os povos Bantu é a do surgimento do mundo através da
ação de um ser supremo e criador.
De acordo com essa narrativa, no princípio de tudo, existia o ser
supremo chamado Nzambi (ou Nzambi Mpungu), que é considerado
o deus criador dos povos Bantu. Nzambi era uma divindade
benevolente e onipotente, responsável pela origem de todas as
coisas.
Segundo a tradição, inicialmente, o mundo era um lugar vazio
e sem forma. Nzambi decidiu trazer ordem e vida ao universo. Ele
começou criando a terra, os rios, as montanhas e os animais. No
entanto, sentindo que algo estava faltando, Nzambi decidiu criar os
seres humanos.
Nzambi moldou o primeiro ser humano a partir da argila e
deu-lhe vida e alma. Esse primeiro ser humano foi chamado de
Mwindo ou Nkuba, e ele se tornou o ancestral dos povos Bantu.
Acredita-se que Nzambi ensinou a Mwindo e a seus descendentes as
habilidades necessárias para sobreviver e prosperar na terra.
Além disso, a mitologia Bantu também destaca a importância
do equilíbrio e da harmonia entre os seres humanos, a natureza e o
mundo espiritual. Essa narrativa de criação enfatiza a interconexão
entre todos os elementos da vida, reforçando a ideia de que tudo
está interligado.
É importante ressaltar que as narrativas e mitos de criação
Bantu são transmitidos oralmente de geração em geração, e poucos
registros escritos existem. No entanto, estudiosos e pesquisadores
têm se dedicado a coletar e preservar essas histórias, como é o caso
28
de Jan Vansina, um renomado etnógrafo e antropólogo belga, que
estudou a cultura e a mitologia dos povos Bantu.
29
Os vários sentidos do viver
Ao longo deste e-book, mergulhamos nas ricas tradições
culturais de diferentes povos, explorando os mitos fundantes que
permeiam suas visões de mundo. Através dessas narrativas
ancestrais, desvendamos os mistérios da criação e compreendemos a
importância dos mitos na busca por respostas às grandes questões da
vida e da morte.
Uma das reflexões mais profundas que emergem desse
estudo comparado é a diversidade de interpretações sobre o sentido
do viver e do morrer. Cada cultura, cada tradição religiosa possui suas
próprias crenças, rituais e mitos que oferecem significado e
orientação diante do ciclo inexorável da vida e da morte.
Ao explorarmos os mitos fundantes das tradições culturais,
nos deparamos com a complexidade e a riqueza dessas concepções.
Em algumas tradições, a morte é encarada como uma passagem para
um mundo espiritual ou como um renascimento em uma nova forma
de existência. Em outras, a morte é vista como um momento de
transição, em que o espírito continua a jornada em uma dimensão
além do nosso mundo físico.
Os mitos fundantes nos convidam a refletir sobre nossa
própria existência e nos conectam com a sabedoria acumulada ao
longo dos séculos. Eles nos oferecem diferentes perspectivas sobre o
propósito da vida, a natureza da morte e o significado da nossa
jornada terrena.
Ao estudarmos esses mitos, somos levados a uma apreciação
mais profunda da diversidade cultural e religiosa, bem como ao
reconhecimento da nossa própria humanidade compartilhada.
Apesar das diferenças, encontramos elementos comuns que nos
30
unem: o desejo de compreender o mundo, a busca por um propósito
significativo e a necessidade de enfrentar a realidade da morte.
Que este e-book tenha ampliado nossos horizontes e nos
inspirado a valorizar as múltiplas formas de compreensão da vida e
da morte presentes nas tradições culturais. Que possamos cultivar o
respeito e a empatia diante dessas visões diversas, enriquecendo
nosso próprio entendimento e enriquecendo as conversas
interculturais. Que possamos, assim, encontrar significado, consolo e
sabedoria nas narrativas ancestrais que nos guiam através dos
mistérios da criação, do viver e do morrer.
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Principais referências Bibliográficas:
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