segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Volta Redonda cede ao golpismo

Adelson Vidal Alves



O Jornal Focoregional, edição desta segunda, 4 de agosto, noticiou uma pequena movimentação em Volta Redonda em torno da campanha pelo plebiscito que visa instaurar uma Constituinte exclusiva para a reforma política. A ideia é fazer chegar à Presidência da República um projeto que crie uma Assembleia Constituinte com fins de mudar as regras do jogo eleitoral. Uma ideia autoritária, absurda e anti-constitucional.

Constituintes são chamadas em momentos de reorganização institucional. No Brasil, foi chamada em 1891, a fim de eliminar os resíduos imperiais. Em 1934, a convocação foi conseqüência do movimento revolucionário de 1930. Em 1946, houve restauração democrática, rompendo com o Estado Novo, e por fim, em 1988, uma nova redemocratização, dessa vez interrompendo os anos de regime militar.

Percebam que em todos os casos havia uma profunda ruptura na ordem institucional. Não é o que está acontecendo neste momento. Nosso país não atravessa uma revolução, e não há sinais de que às ruas poderão suspender a atual ordem vigente. Neste aspecto, que sentido faz chamar uma Constituinte via plebiscito?

Os defensores dizem que o Congresso atual não tem moral para fazer uma reforma política que exige a democracia. Seria então necessáro convocar a “vontade popular” para fazer o que o parlamento não faz. Ora, não há em nossa Constituição legalidade para tal manobra bizarra. E a “vontade do povo” do momento não pode substituir o pacto constitucional feito  pela nação brasileira. 

Os movimentos em Volta redonda, organizados em torno da Cúria Diocesana e a Igreja Católica, cedem ao golpismo de esquerda, um câncer que assola a história das esquerdas no Brasil. Querem passar por cima do Congresso, fugir à normalidade institucional e operar por caminhos paralelos ao atual ordenamento institucional.

Coisa de quem ainda não acolheu a democracia política moderna como valor universal, terreno propício para que se faça avançar soluções cívicas para os conflitos modernos. Para o bem ou para o mal, é este  Congresso Nacional que tem a tarefa de fazer reformas . Ele, eleito por sufrágio universal, bem longe de ser instância burguesa, é conquista das classes de baixo, contra a resistência das classes dominantes.

Uma democracia para nossos tempos, em conexão com a complexidade do mundo contemporâneo, não pode funcionar somente pela participação direta do povo, dispensando mecanismos de representação. É o parlamento que garante a imunidade democrática contra corporatismos e assembleismos. Se a composição deste não é das melhores, é porque é fruto de imperfeições sistêmicas (que devem ser resolvidas sem alterar as regras do jogo) e da correlação de forças, em desvantagem para a esquerda. O que não se pode tolerar são tentativas de impor vontades de parte da sociedade ao conjunto da nação, driblando a normalidade do funcionamento institucional brasileiro. Neste momento, não é possível maquear o que está acontecendo: Plebiscito Constituinte é golpe.

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