Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

31 janeiro 2007

 

O Padrão-Euro II


A falta de pressão para aumento dos salários é consequência da "ancoragem" a um valor monetário não influenciável pela política do governo português. À medida que o país vai ficando comparativamente mais pobre relativamente ao resto da UE, não podendo as diferenças de produtividade ser compensadas por desvalorizações, o mercado de trabalho "percebe" que tem de escolher entre aumento (ainda maior) do desemprego ou diminuição (em valores reais) dos salários.

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O Ministro Inovador


O Ministro da Economia e Inovação tem passado os últimos dias a inovar. Sexta-feira passada, na Figueira da Foz, durante a assinatura do contrato de investimento da Altri, terá deixado várias pessoas estupefactas ao desejar "facilidades" à empresa - presume-se que queria dizer "felicidades", mas nunca se sabe... Hoje inovou dizendo a verdade; ou pelo menos parte da verdade, em todo o caso; mesmo que demonstrando uma extraordinária inépcia política.

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Filosofia em Lugares Inesperados


Olhem só quem também descobriu a diferença entre juízos de facto e juízos de valor:
"Portugal tem um nível de salários mais baixo do que a UE, pelo que isso é um facto. Não vejo mal nenhum em que se refira um facto", comentou o porta-voz do PS, acrescentando que as declarações de Pinho não constituíram por isso "nenhum problema grave".

"Essas afirmações reflectem um facto, dão a conhecer um facto", reforçou Vitalino, salientando, no entanto, em seguida, que "uma coisa são os factos, outra são as expectativas em relação aos factos e o que queremos".

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29 janeiro 2007

 

O Cordeiro Sacrificial


É um bocado assustador pensar que muitas pessoas levam uma vida de conflito interno ou auto-infligida miséria por causa de um código moral cuja verdadeira natureza se esconde por trás de equívocos semânticos. A maior parte das pessoas tem normalmente uma predisposição benevolente para quem as rodeia; familiares, amigos ou vizinhos (embora a grande concentração populacional tenha contribuido para um enfraquecimento destes últimos laços). Essa benevolência é cautelosamente extendida a outros, no contexto de uma relação continuada entre cada indivíduo e o ambiente social que o rodeia. As explicações para essa predisposição são múltiplas, desde genéticas a sociológicas, e podem ser entendidas racionalmente.

Acontece, contudo, que a elevação desta benevolência a obrigação ou imperativo, ou a padrão moral pelo qual se medem todas as virtudes, veio criar um conflito insanável entre a primeira necessidade de cada indivíduo - preservar a vida e alcançar a felicidade - e a necessidade que o mesmo tem de agir por forma a preservar os seus valores. Este conflito é materializado, nos nossos dias, pela confusão etimológica entre benevolência, generosidade ou boa vontade, de um lado, e altruismo ou "vida em função dos outros", por outro. O termo "altruismo" foi criado por Augusto Comte para descrever as tendências naturais humanas que visam ajudar os outros. No fundo, a tal benevolência natural. No entanto, filosoficamente, o termo positivo foi apropriado por aqueles que colocam o colectivo acima do indivíduo, dando-lhe um sentido normativo. Desta apropriação, resulta que os atributos explícitos e reiterados do altruismo, enquanto código ético, são:
  1. Cada indivíduo tem uma obrigação moral de colocar sempre o interesse dos demais acima do próprio;
  2. Uma acção só é moralmente certa se as suas consequências forem globalmente positivas para todos excepto quem age;
  3. A virtude só é atingida por quem "vive para os outros".
Perante estes atributos, fazer do altruismo padrão moral, isto é, afirmar que só são bons, virtuosos ou merecedores de reconhecimento aqueles que o praticam, é equivalente a dizer:
  1. Para ser moral e virtuoso, um indivíduo precisa que existam pessoas mais infelizes ou desgraçadas que ele;
  2. Se as acções de um indivíduo beneficiam-no, então são imorais;
  3. A existência em isolamento é imoral ou, na melhor das hipóteses, amoral.
Neste contexto, surgem uma série de consequências lógicas que tornam a existência humana em um pesadelo debaixo do código moral altruista: A acção individual que por via do trabalho, da produtividade ou da criatividade, resulta na própria felicidade, é mal vista. O seguro é ser imprestável e miserável, potenciando aos outros a oportunidade de serem virtuosos. Cria-se um freerider problem de dimensões faraónicas, onde cada um tem o incentivo perverso de ser o mais necessitado. Consequentemente, os resistentes que insistem em alcançar o seu potencial tornam-se cordeiros sacrificiais no altar da mediocridade.

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28 janeiro 2007

 

Blasfémia! Heresia!




Francamente, onde já se viu!? Isto vai claramente contra o espírito da nossa constituição de incentivar a mediocridade. Onde é que o país vai parar se começarmos a reconhecer o mérito? Muito infeliz, muito infeliz...

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24 janeiro 2007

 

Quem avisa, amigo é


No seguimento desta excelente deixa de Rui de Albuquerque, no Blasfémias , é sempre bom lembrar que Deus (se é que Ele existe) nunca terá visto com bons olhos a legitimação do "poder terreno"...
Reuniram-se todos os anciãos de Israel e vieram ter com Samuel a Ramá. Disseram-lhe: "Estás velho e os teus filhos não seguem as tuas pisadas. Dá-nos um rei que nos governe, como têm todas as nações." Esta linguagem - "dá-nos um rei que nos governe" - desagradou a Samuel, que se pôs em oração diante do SENHOR. O SENHOR disse-lhe: "Ouve a voz do povo em tudo o que te disser, pois não é a ti que eles rejeitam, mas a mim, para que Eu não reine mais sobre eles. Fazem o que sempre têm feito, desde o dia em que os tirei do Egipto até ao presente, abandonando-me para servir deuses estrangeiros. E também assim estão a fazer contigo. Atende-os, agora, mas expõe-lhes solenemente os direitos do rei que reinará sobre eles." Referiu Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo que lhe pedia um rei. E disse: "Eis como será o poder do rei que vos há-de governar: tomará os vossos filhos para guiar os seus carros e a sua cavalaria e para correr diante do seu carro. Fará deles chefes de mil e chefes de cinquenta, empregá-los-á nas suas lavouras e nas suas colheitas, na fabricação das suas armas e dos seus carros. Tomará as vossas filhas como suas perfumistas, cozinheiras e padeiras. Há-de tirar-vos também o melhor dos vossos campos, das vossas vinhas e dos vossos olivais, e dá-los-á aos seus servidores. Cobrará ainda o dízimo das vossas searas e das vossas vinhas, para o dar aos seus cortesãos e ministros. Tomará também os vossos servos, as vossas servas, os melhores entre os vossos mancebos e os vossos jumentos, para os colocar ao seu serviço. Cobrará igualmente o dízimo dos vossos rebanhos. E vós próprios sereis seus servos. Então, clamareis por causa do rei que vós mesmos escolhestes, mas o SENHOR não vos ouvirá."
1º livro de Samuel 8:4-18
A ideia do dízimo é especialmente actual, com a inovadora e cretina ideia de cobrar 10% de imposto de selo em todas as doações acima de 500 euros...

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22 janeiro 2007

 

Comfortably Numb


Mas será que anda tudo a dormir!? Então o governo aprova como quem não quer a coisa (na verdade quer a coisa) isto e isto e fica tudo calado!? Além de algumas (lúcidas) críticas (como aqui e aqui) não há mais nada!? Fica tudo como se não fosse com eles? O ministro vai com a maior cara-de-pau à televisão dizer que a "medida" tem como alvo situações específicas e ninguém lhe pergunta porque é que fez aprovar uma lei que afecta toda a gente e torna quase inevitavelmente qualquer um em "infractor fiscal"? Já não há a fibra de outros tempos, quando homens que não eram invertebrados davam aos cobradores de impostos injustos um tratamento especial de alcatrão e penas? ACORDEM, FODA-SE!!

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18 janeiro 2007

 

O Padrão-Euro


No Blasfémias, Pedro Arroja escreveu três artigos em que defende que Portugal nunca devia ter aderido ao Euro, por perder a flexibilidade cambial, e que é inevitável que dele saia perante a crise orçamental. Não sei se ele terá razão relativamente a esta potencial "ejecção", mas julgo que a acontecer seria catastrófica; bem como que aquilo que o euro trouxe foi genericamente positivo.

Como Portugal representa uma parcela infinitesimal da "zona euro", e o grosso das suas trocas comerciais é com essa zona, a moeda única é para a nossa economia como uma espécie de "padrão-ouro": não há política do governo que afecte o seu valor. Isto é positivo pela disciplina que é imposta à acção governativa, pois a incompetência e o despesismo são imediatamente tornados óbvios quando o estado não pode recorrer à manipulação monetária e ao imposto escondido da inflação. A vantagem é ainda maior porque Portugal extrai os benefícios de uma moeda commodity com os custos de uma moeda fiat.

Os cépticos poderão argumentar que a nossa baixa produtividade e inflexibilidade laboral tornam-nos cada vez menos competitivos; que a flexibilidade cambial permitiria reduzir essa diferença. A primeira parte é verdade. A segunda não. Se saíssemos da moeda única a desvalorização subsequente traria factores negativos que mais que anulariam qualquer benefício de curto prazo do aumento de exportações: inflação, destruição do capital acumulado, aumento dos custos energéticos, diminuição do investimento, fuga de capitais, etc.

A perda de competitividade, no contexto do "padrão-euro", só tem duas soluções:
  1. Uma diminuição do denominador, via redução dos custos - apenas possível com maior flexibilidade laboral;
  2. Um aumento do numerador, via factor capital e/ou qualificação do factor trabalho - apenas possível com uma diminuição do peso do estado e subsequente libertação de recursos para investimento.

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16 janeiro 2007

 

Robert Locke e o "Libertarianism"


No blog da Causa Liberal, Patrícia Lança postou um artigo de Robert Locke onde este afirma que o libertarianism é o "marxismo da direita". O artigo foi publicado originalmente na revista The American Conservative, mas o seu tom assemelha-se mais aos "shouting matches" nos debates que por vezes são emitidos na CNN. O artigo é fraco, essencialmente por três razões: (i) confunde anarco-capitalismo com libertarianism, e por isso dispara na direcção errada; (ii) está pejado de falácias, argumentando pela via emocional e não pela racional; e (iii) simplifica demasiado as posições que critica, fugindo assim a ter de rebater de forma fundamentada os princípios destas, ou a ter de defender os seus.

Enquanto alguém que evoluiu de uma posição próxima do anarco-capitalismo para o minarquismo, próximo do liberalismo clássico, eu serei o primeiro a conceder que as facetas mais radicais do anarco-capitalismo têm sérios problemas práticos. O que não impede que aceite alguns dos seus valores e princípios, e que tenha o discernimento para perceber quais das suas facetas são partilháveis com o minarquismo e quais não são. Como tal, sou também o primeiro a contestar a ideia de que todos os libertarians são anarco-capitalistas. Locke começa por conceder que existem outros para além dos anarco-capitalistas; a quem ele magnanimamente chama de "least crazy". Mas depois deita tudo no mesmo saco e atribui ao todo as características da parte - uma falácia clássica.

Não quero perder tempo com as outras falácias presentes no artigo, pois as sugestões redutoras de que os libertarians são drogados, ex-socialistas e sexualmente depravados, e de que um "excesso" de liberdade conduz inevitavelmente ao alcoolismo, toxicodependência, incapacidade de manter o emprego e, lesa-majestade, "gravidez fora do casamento", são de um nível intelectual próximo da reality TV e não merecem resposta.

Substantivamente, existem três áreas no artigo de Robert Locke que eu quero analisar:

1. Valores

Locke acusa os libertarians de defender que a liberdade é a única "coisa boa", rematando no final com (negritos meus):
"But security, prosperity, and family are in fact the bulk of happiness for most real people and the principal issues that concern governments."
Ora, talvez os anarco-capitalistas tenham dúvidas sobre o papel do governo em garantir a segurança, mas a característica fundamental do minarquismo é justamente atribuir a função de garantir a segurança (incluindo o poder de fazer cumprir contratos) ao estado. Já a prosperidade é o fruto do trabalho dos indivíduos e não do estado; e a ideia de que a família é uma área de primordial intervenção do estado mostra bem as inclinações paleo-conservadoras de Locke - e que ele não se dá ao trabalho de defender ou justificar. Como é típico daqueles com uma perspectiva intrisicista da natureza dos valores, a verdade é revelada e não precisa de explicação. Isto torna-se mais claro logo à frente quando escreve:
"Therefore freedom, by giving us choice, supposedly embraces all other goods. But this violates common sense by denying that anything is good by nature, independently of whether we choose it. Nourishing foods are good for us by nature, not because we choose to eat them. Taken to its logical conclusion, the reduction of the good to the freely chosen means there are no inherently good or bad choices at all, but that a man who chose to spend his life playing tiddlywinks has lived as worthy a life as a Washington or a Churchill."
Na verdade, alimentos nutritivos não são bons em si mesmos, mas antes pelo efeito no sujeito que os ingere - se deles tiver necessidade. Da mesma forma, o valor de uma vida passada a jogar tiddlywinks dependerá da capacidade do jogador assegurar a sua subsistência com o jogo... Ou seja, a ideia de que só existe uma alternativa entre valores intrínsecos e subjectivos está errada. Os valores precisam de um sujeito que os "avalie", por um lado, mas mediante o contexto é possível definir objectivamente se são "bons" ou "maus".

2. Democracia

Locke argumenta que o facto de nenhum partido libertarian ter vencido eleições mostra que as pessoas não desejam a liberdade por eles defendida. Isso é verdade por definição. Mas não se aplica apenas aos anarco-capitalistas - aplica-se a qualquer partido ou movimento político que não caiba no molde mainstream da comunidade eleitora. As mudanças de mentalidade são difíceis e demoram tempo. Além de que a ideia de que a democracia legitima todas as escolhas está errada. Sem limites que defendam as minorias (e o indíviduo é a menor das minorias), a democracia reduz-se à "maralhocracia".

O exemplo mais gritante de que a democracia não resulta necessariamente nas melhores escolhas para um povo são as inúmeras ocasiões onde houve eleições segundo o modelo "um homem, um voto, uma vez". E não precisamos recuar muito no tempo para observar eleições cujo resultado é tudo menos positivo, como na Autoridade Palestiniana, com a vitória de um movimento terrorista, ou no Iraque, onde as pessoas votaram de acordo com a sua etnia em vez de fazerem escolhas políticas (votar no partido de determinada etnia não é uma escolha política, é uma escolha tribal).

Por fim, a sugestão de que dado o insucesso eleitoral do libertarianism, a sua única via para alcançar o "poder" é pela força, também não colhe. Se é verdade que toda a gente acha que sabe o que é melhor para os outros, a diferença é que os anarco-capitalistas, os minarquistas, os liberais e alguns conservadores não pretendem impôr coercivamente as suas ideias aos outros. O seu papel é contribuir para limitar a ingerência do estado na vida dos cidadãos, a começar na deles próprios. Ou como disse Ronald Reagan (insuspeito de ser um anarco-capitalista...):
"As nove mais aterradoras palavras na língua inglesa são: 'Eu sou do governo e estou aqui para ajudar'."
3. Economia

A terminar, Robert Locke refere-se a aspectos económicos do libertarianism, argumentando por uma lado que o Japão é uma economia altamente regulada e os japoneses não são menos ricos por isso, e por outro, misturando mais uma vez anarco-capitalismo com libertarianism, ao escrever:
"Many support abolition of government-issued money in favor of that minted by private banks. But this has already been tried, in various epochs, and doesn’t lead to any wonderful paradise of freedom but only to an explosion of fraud and currency debasement followed by the concentration of financial power in those few banks that survive the inevitable shaking-out."
No que toca ao Japão, Locke esquece, convenientemente, a recessão de mais de 10 anos que abalou o país desde meados da década de 90. E como o excesso de regulamentação e o excessivo peso do governo japonês na gestão do seu sector bancário (e não só) tornaram quase impossível sair do ciclo recessivo/deflacionário. Na verdade, a recuperação dos últimos dois anos é ainda incipiente. Também esquece que o crescimento comparativo do Japão foi o que foi na medida em que os paises com que este "concorria" no mercado global estavam a ser governados por keynesianos e marxistas inveterados (o Reino Unido pré-Thatcher, a América pré-Reagan, a Alemanha pré-Kohl); bem como que na altura o Japão era o low-cost producer, posição que perdeu irremediavelmente para os restantes países asiáticos desde o final da década de 80.

Quanto à questão da moeda, dizer que os libertarians defendem "dinheiro privado" é uma generalização incorrecta. Muitos defendem um regresso ao padrão-ouro, é verdade, mas entre isso e "dinheiro privado" vai uma grande distância. Mas não é este o ponto fulcral da questão. O curioso é a sua asserção de que as experiências com "dinheiro privado" levaram a fraude e debasement da moeda. Literalmente, debasement é o acto de diminuir o valor de uma moeda, por exemplo misturando mais prata com ouro, ou diminuindo surrepticiamente o tamanho ou peso da mesma. Na era moderna, o termo foi usado para descrever o acto de descer a taxa de conversão entre o papel-moeda e o contra-valor em ouro. Ora, na verdade, os mais escandalosos casos de debasement foram justamente os conduzidos pelos governos através do seu poder coercivo. Durante o século XX, a libra esterlina foi sucessivamente desvalorizada pelo governo britânico quando este unilateralmente desceu o contra-valor em ouro da libra, ou quando ocasionalmente abandonou o padrão (p.ex. no final da Primeira Grande Guerra). E isto nem sequer leva em conta as desvalorizações em moedas não ligadas ao ouro, como na Alemanha de Weimar ou na Argentina, onde os governos se entretinham a imprimir notas. Mas isso não interessa nada, os "privados" é que são maus. Se eu fosse como Robert Locke também chamava a isso uma forma de marxismo.

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10 janeiro 2007

 

Oh Sweet Conspiracy


Via António Costa Amaral, n'O Insurgente, chega a notícia de que a África do Sul proibiu a venda de um produto baseado em aspartame por "não saber a açucar"... Aparentemente, alguém se queixou de que o slogan publicitário da Canderel ("It tastes just like sugar") é enganoso. As autoridades deram 5 meses à empresa para retirar do mercado as embalagens que têm o referido slogan.

A notícia sugere que o governo sul-africano deveria aproveitar para proibir o aspartame de uma vez, por causa de constituir um (alegado) risco de saúde pública.

É daquelas coisas que tem todos os ingredientes para alimentar a fantasia dos conspiracy crackpots do costume: o CEO da empresa que conseguiu a aprovação do aspartame pela FDA era (tchan tchan) Donald Rumsfeld; a dita empresa foi comprada anos mais tarde pela (tchan tchan) Monsanto... Para juntar à festa, encontrei este video genial da bête noire dos illuminati/reptilianos, David Icke. Parece que o aspartame foi concebido como uma droga terrível para reduzir a capacidade de realizarmos o nosso potencial infinito... Com um bocadinho de esforço não me surpreendo se alguém conseguir juntar isto tudo com a gripe das aves, o 11 de Setembro, a terra-oca e o monstro de Loch Ness.

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Escolha versus Censura


Parece que o director de programação da MTV, no Brasil, ficou incomodado com o movimento espontâneo de protesto contra o bloqueio ao YouTube (entretanto revertido pelos tribunais), e que visava boicotar a MTV (entidade "empregadora" de Daniella Cicarelli). Ele acha que o boicote é uma forma de censura. Não é de mais recordar o Artigo II da Lista de Não-Direitos, que se aplica relativamente bem a todas as circunstâncias deste "caso":
ARTIGO II

Ninguém tem o direito de nunca ser ofendido. Este país é baseado na liberdade, e isso significa liberdade para toda a gente - não só para alguns! Quem quiser pode sair da sala, mudar de canal, exprimir uma opinião diferente, etc., mas o mundo está cheio de idiotas e provavelmente sempre estará.
(link via O Insurgente)

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07 janeiro 2007

 

Grandes Momentos na Procura da Verdade


Hoje entrei no Diário Digital e estavam as seguintes duas notícias em destaque:
Violador português é branco, estudou pouco e não tem remorsos
O violador português é branco, tem cerca de 30 anos, baixa escolaridade e não revela arrependimento pelo crime, mas pena por este o ter conduzido à prisão, onde é mal tratado pelos outros reclusos e guardas, revela um estudo.
Nativos de Leão são os que conduzem com mais segurança
Os nativos de Leão conduzem com mais segurança, sendo, inclusivamente considerados uns «ases ao volante», enquanto os de Balança são uns «aselhas», segundo um estudo exaustivo realizado por uma seguradora em Toronto, informa hoje o Diário de Notícias.
Por este caminho não deve faltar muito para ver algo do género:
Primeiro-Ministro anuncia retoma para este verão
Engº Sócrates avançou os números da retoma que deverá ocorrer no terceiro trimestre do corrente ano, baseando-se no estudo elaborado pelo seu vidente oficial, o Prof. Zandaya. O estudo diz que a conjugação da órbita de Júpiter com o alinhamento da via láctea indica que o PIB deverá crescer 3,41% face a igual periodo do ano passado.

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03 janeiro 2007

 

A Filosofia do Poder


Não gosto nada da expressão "Grande Estadista". É daquelas frases que o spell checker do MS-Word devia corrigir automaticamente para "Grande Estatista". Um estadista só se torna grande se, entre outras coisas, passar uma quantidade significativa de tempo no poder. E isso não é bom. Não só na perspectiva de Lord Acton de que o poder corrompe, mas também na visão de Frank Herbert de que o poder atrai os corruptíveis.

Outro grande inconveniente desta expressão é que ela materializa uma "filosofia de poder" que assenta no centralismo do poder e na atribuição deste a uma elite iluminada ou predestinada à governação. Esta filosofia vem de longe e vê-se pela própria etimologia dos sistemas políticos como sistemas de poder, ou "-cracias", como a aristocracia, plutocracia, autocracia, democracia, etc. A observação tautológica de Churchill de que a democracia é o pior sistema possível se excluirmos todos os outros não ajuda; vinda ainda por cima de quem vem, um dos tais "Grandes Estadistas"...

Mais importante que saber a forma de "-cracia" que menos estragos causa à liberdade é perceber a necessidade de uma mudança de paradigma. De uma óptica de concentração de poder para uma de difusão. Para isso são necessárias três vertentes: (1) governos centrais limitados a funções essenciais à comunidade alargada/federal ou estado-nação; (2) descentralização através de uma restituição de poderes a comunidades naturais como municípios ou regiões formadas por associações voluntárias de municípios; e (3) transparência na relação entre os serviços prestados pelos orgãos de poder e o seu financiamento. Estas três vertentes estão intimamente relacionadas e não é possível levar a cabo duas delas sem a terceira; muito menos apenas uma:

1) Sem descentralização não é possível o governo central ser efectivamente limitado, pois a super-estrutura torna-se demasiado complexa. De igual modo, um governo central sobrecarregado de poderes e responsabilidades torna-se opaco no financiamento das suas actividades.

2) Sem transparência no financiamento, e por conseguinte, sem responsabilização dos eleitos perante os eleitores, a descentralização não é efectiva; sem responsabilidade fiscal, os poderes locais deixam de responder pela forma como gastam o orçamento. De igual modo, a falta de transparência incentiva a corrupção e abuso de poder, consequentemente facilitando uma deriva de power creep no governo central.

3) Sem um governo central limitado, criam-se duplicações de responsabilidades com os poderes locais ou regionais e uma matriz multi-dimensional de entidades, funções, tutelas e serviços que impedem a descentralização e aproximação entre eleitos e eleitores. De igual modo, a não limitação dos poderes do governo central impede a identificação directa entre financiamento e serviço prestado, pois se serviços duplicados implicam uma duplicação dos custos, serviços duplicados com super-estruturas de coordenação administrativa implicam uma triplicação...

A não implementação destas três vertentes, logo o proseguimento de uma abordagem centralista, leva a prazo à consolidação de uma tendência, lenta mas segura, de crescente autoritarismo do estado e de uma efémera procura de "Grandes Estadistas". A "Ordem" resultante, inimiga da liberdade, está sempre longe dos cidadãos, incentivando conflitos e ressentimentos: desigualdade de tratamento perante a lei; benefícios indevidos obtidos por favores políticos de pessoas que não respondem diretamente perante os eleitores; criação de mecanismos perniciosos de subsidiação de um grupo às custas de outro; etc.
"Involuntary order breeds dissatisfaction, mother of disorder; parent of the guillotine. Authoritarian societies are like formation skating. Intricate, mechanically precise and above all, precarious. Beneath civilisation's fragile crust, cold chaos churns..." - Alan Moore in "V for Vendetta (Book 3)"
Nota: Comecei a preparar este post dia 26, depois de ter passado parte do dia de Natal a tentar persuadir a família a ser menos estatista :-) Num extraordinário exemplo de "ordem espontânea" blogosférica (ou eventualmente comunicação telepática, para os mais misticistas), têm-se conjugado nos últimos dias vários posts sobre assuntos relacionados com o que aqui escrevi em cima. Uma citação de Herculano postada pelo Carlos Novais. A sugestão de um novo referendo sobre a regionalização pelo Rui de Albuquerque. A contraposição da via "municipalista" pelo Carlos Novais e pelo André Azevedo Alves. As objecções à via tradicionalmente defendidada pelos partidos do status quo para a regionalização, pelo João Luís Pinto. E mais vários posts no Blasfémias e no A Arte da Fuga (que eu tenha visto, devem haver mais por outros sítios, certamente).

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