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Full text of "Coroa poética no consorcio de suas magestades fidelissimas o Senhor Rei d. Luiz e a Senhora Rainha d. Maria de Saboya"

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ARTES SCILNTIA VERITAS 



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COROA POÉTICA 



NO CONSORCIO 



DE 



• SUAS MAGESTADES FIDELÍSSIMAS 

O SENHOR REI D. LUIZ 



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A SENHORA RAINHA D. NAR1A DE SAROY A 



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COLLABORADOBES 



António F. de Castilho.— A. S. Cabedo. — Camillo Castello Branco.— E. A. Vidal.— 
Eusébio Asquerino. — Gaeteno Frascarelli. — Jacinto Augusto de SanfAnna e Vasconcel- 
los. — José Maria Latino Coelho.— J. P. Bianchi.— José Ramos Coelho.— José da Silva 
Mendes Leal— Júlio de Castilho. — ** L — Luiz Augusto Palmeirim.— Luiz Augusto 
Rebello da Silva.— Manuel Pinheiro.— Thomaz Ribeiro.— Luiz Breton y Vedra. 




LISBOA 

SOCIEDADE TYPOGItAriIICÀ FIl AXCO-PORTUG UE Z A 

G, Rua do Thcsouro Velho, C. 

1862 



4 

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ESTABELECIMENTO TYPOGRAPHICO 

t, 1m d» Thesoiri Ttlho, «, 
Administrado por Françoia Lallemant. 

Lisboa, 



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A SUAS MAGESTADES FIDELÍSSIMAS 



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A SENHORA RAINHA DONA MARIA OE SABOYA 



NO 



SEU AUSPICIOSO CONSORCIO 



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Offerece reverente 



liúk ^VsSfc^ «^Si&&» 



SUÀ MAGESTADE EL-REI O SENHOR D. LUIZ I 



As paginas do livro de um novo reinado dicta-as a provi- 
dencia, e escreveras o futuro. O Princepe, que hoje está sen- 
tado debaixo do sólio de D. Maria n e de D. Pedro v antes 
de cingir a coroa aprendeu o officio de rei com os trabalhos 
de homem. Grandes exemplos e grandes virtudes rodearam o 
seu berço, instruíram a sua infância, e robusteceram a sua 
adolescência. Ás portas de ouro da juventude, ao lado da es- 
perança, que o chamava coroada de flores e com o riso nos 
lábios, aguardavam-n'o também a dôr e as lagrimas. Subio os 
degraus do throno cuberto de luto, e calcando espinhos, e cus- 
tou-lhe mais prantos o esplendor do diadema, do que remor- 
sos e crimes custa muitas vezes á ambição a idéa da suspi- 
rada grandesa, que a deslumbra. 

A aurora da época, que ha de abrir, apenas rompeu hontem. 

4 

Os goivos e as perpetuas entroncaram-se com as pérolas e os 
diamantes do manto real. O nome do rei profere-o o povo com 



I 



% -8- 

o mesmo amor, com que dizia o do soberano querido, que le- 
vou nos braços a descançar [de seis annos de magoas e fa- 
digas, ao lado de sua mãe e de seu avô, debaixo das abobe- 
das de S. Vicente de Fora. O senhor D. Luiz i em todos os 
passos adiantados desde que empunhou o sceptro, nunca des- 
mentío as promessas do seu coração, os brios do seu nasci- 
mento, ou a escrupulosa lealdade da sua palavra de Príncipe e 
de primeiro cidadão portuguez. Religioso observador do seu 
juramento, e herdeiro dos nobres commettimentos do seu an- 
tecessor, edifica a sua gloria no monumento, das gloriosas tra- 
dições, de que não sabe apartar-se, porque firmam entre nós 
as bases da monarchia no solido alicerce do affecto popular. 

A Senhora D. Maria 11, como a grande imperatriz Maria The- 
reza d'Austria, não foi só uma Rainha notável pelas prendas 
varonis; foi mais; foi mãe inimitável, educadora zelosa, e mo- 
dêlo constante das perfeições, que possuio o raro segredo .de 
incutir no tenro animo de uma geração abençoada. 

Quando a morte chegou, não esperada, e veio cerrar-lhe os 
olhos; quando o sceptro lhe escapou das mãos; aquella nobre 
alma ao desprender-se do mundo, quando relanciava sobre os 
que ia deixar uma derradeira vista de infinito amor, pôde ele- 
var-se ao seio da immortalidade com a sublime confiança, de 
que o maior e mais durável padrão de sua memoria, que legava, 
eram as qualidades do caracter e do espirito, o culto da honra 
e do dever, a religião da liberdade, e a entranhavel affeição 
pela terra natal, que a sua desvelada ternura soubera gravar 
no peito de tantos filhos, creando-os como homens para não es- 
tranharem os trabalhos da vida, e educando-os, como cidadãos, 
para depois, rei e infantes, fazerem sobresahir a purpura com 
o esplendor das virtudes pessoaes. 



E esta hcrjmça, mais preciosa cem vezes, do que a própria 
coroa, torna os nossos príncipes tão queridos dos súbditos, 
quanto os súbditos sabem que são amados (Telles. Suave e gran- 
diosa recompensa, que de certo não alcançam, por mais que ce- 
guem, as pompas da realeza orgulhosa, os trophéos de admi- 
radas victorias, ou os brazões de" opulentas conquistas. 

A dynastia de Aviz, firmada, como a actual, pela espada de 
um Rei soldado, realçou do mesmo modo a sua gloriosa ori- 
gem. Os filhos de D. João i e de D. Filippa de Lencastre sem- 
pre foram os primeiros na corte de seus pães, não só pelo nas- 
cimeijto, mas porque ninguém os excedeu e poucos se lhes po- 
deram comparar como cavalleiros no primor das armas, ou co- 
mo esclarecidos cultores das sciencias, das lettras, e das artes, 
engenho e no ardor do estudo. 

Quiz a providencia, que o ditoso fado d'esta heróica raça 
se repetisse em nossos dias na família da Senhora D. Maria u. 
Nenhum dos irmãos do Senhor D. Pedro v desmentio as espe- 
ranças da sua educação; nenhum deixou em todos os lances 
da sua vida de corresponder ao que requeriam de seus brios 
a nobresa do sangue e a nobresa dos sentimentos. Por isso no 
meio do terror e desalento das trágicas sccnas da epidemia, 
que assolou a capital, nós contemplámos o herdeiro da Rainha, 
aprendendo como D. Duarte nas lições do infortúnio o que 
elle com rasão chamava o doloroso officio de reinar; offerecen- 
do-se todos os dias sem ostentação em holocausto á fúria do 
flagello; e encarando a cada momento a morte com a mais se- 
rena intrepidez. A cidade inteira tremia consternada por si e 
por elle entre lutos, gemidos e amarguras! 

Dominado pelo mesmo austero principio vimol-o depois en- 
xugar á purpura as lagrimas de homem, e sentindo despede- 



-10— 

çar-se-lhc o peito, que já tinhanf retalhado tantas magoas, \i- 
mol-o levantar-se, Rei e christão, de junto do sepulchro da es- 
posa, e volver obreiro incansável com o luto da viuvez estam- 
pado no rosto ás fadigas e cuidados do poder. Os espinhos da 
coroa pungiam-o tanto mais n'essa hora, quanto lhe avivavam a 
cada instante a recordação inconsolável (Taquelle anjo, que só 
lhe fora dado por momentos contemplar ao seu lado, e que es- 
pirito já do céo lhe voara dos braços para o ir esperar aos 
pés do throno de Deus! 

Todos os netos do imperador sahiram dignos do glorioso 
fundador da dynastia. Ligados pelo estreito vinculo do mais 
carinhoso affecto, e como que não formando todos senão uma só 
alma, sempre compozeram uma família tão unida, tão intima, 
c tão igual nas prendas e sentimentos, que nunca nem a leve 
sombra de momentâneo dissabor veiu empanar o brilho da es- 
tremosa amisade, que os fez viver a mesma vida, e que, por 
ardente e arrebatada converteu para dois d'elles, Rei e In- 
fante, a dôr e a saudade em funestas percursoras da mesma 
morte. 

Desde que abrio os olhos, o Senhor D. Luiz i nunca obser- 
vou outros exemplos, nem seguio outros preceitos. As adula- 
ções, cujo incenso tem offuscado tantos monarchas nas desampa- 
radas eminências do poder, nunca acharam entrada nos paços 
de sua mãe, nem no seu animo, ou no de seus irmãos. A jac- 
tanciosa ignorância de reputar ainda hoje o estudo e o traba- 
lho como desdouro nunca lhe mereceu senão despreso. Con- 
vencido de que os titulos adquiridos enobrecem tanto, ou mais 
que os herdados, buscou na applicação aos livros e no exercí- 
cio da profissão, que* abraçara, uma honrosa carreira, e mais 
v/na ilustração pessoal. Sabendo quanto o sangue nobre obriga, 



-11- 

cmpenhou desde a mais tenra juventude todos os esforços 
para sobredourar o seu berço com as palmas de navegador e 
os louros de soldado. 

A educação do Rei actual, assim como a de todos os filhos 
da Senhora D. Maria ir, foi esmerada e completa. As línguas 
vivas, $s linguas mortas, as disciplinas, que os nossos antigos 
denominavam humanidades, e as seiencias mathematicas, ensi- 
nadas por mestres não só diligentes e zelosos, mas competen- 
tíssimos, e honrosamente abonados pelos seus escriptos, oceu- 
param a assiduidade e a fácil penetração do Infante. A natu- 
ral propensão inclinava-o sobre tudo para algumas d'ellas, em 
que se distinguio com justificado louvor. 

O desenho, a musica, a esgrima, e a gymnastica, aprendi- 
das como recreação dos estudos mais austeros, não acharam 
menos disposta a sua indole para acolher e aproveitar o que 
as boas artes promettem a quem sabe estimal-as, c consegue 
familiarisar-se com ellas. 

Nascido em 31 de outubro de 1838, um anno depois do se- 
nhor D. Pedro v, e obedecendo á vocação precoce, assentou 
praça na armada aos oito annos de idade, e foi nomeado guarda 
marinha em 9 de outubro de 1846. Promovido ao posto de se- 
gundo tenente em 19 de maio de 1851, ao de capitão tenente 
em 29 de outubro de 1854, e ao de capitão de fragata em 24 
de março de 1858, encetou còm menos de vinte annos a vida 
do mar, assumindo em 12 de setembro de 1857 o commando de 
brigue Pedro Nunes, e cruzando na costa de Portugal desde o 
dia 18 de janeiro do seguinte anno, sujeito em tudo como sim- 
ples official ás obrigações e á responsabilidade do serviço naval. 

Desde então as viagens seguiram-se umas ás outras, e os 
largos horisontes da carreira, que preferira, começaram a dir 



— 12 — 

latar-se diante da vista do mancebo, que tão grandes memo- 
rias convidavam a presar como primeiras armas do seu enthu- 
siasmo juvenil as solitárias conversações de um espirito dese- 
joso .de grandes coisas com a solidão das aguas, com o culto 
heróico das epochas ,mais notáveis da nossa historia, e com 
os sonhos de ousada ambição, que nenhuma poesia inspira e 
eleva tanto, como a que brota nas vigílias do convez do espe- 
ctáculo da immensidade das aguas, guando a noite, o silencio, 
e até as estrellas do céo faliam do passado, e em uma alma 
nova redobram sobre tudo a saudade do vasto império, que a 
victoria nos ganhou, e que os infortúnios e os tempos nos fi- 
zeram perder. 

Nomeado còmmandante da curveta Bartholomeu Dias em 12 
de junho de 1858, querendo justificar a escolha de El-rei seu 
irmão, apenas respirava alguns dias no seio da familia e nos 
braços dos que tanto estremecia, tornava logo depois ás fadi- 
gas e navegações, cada »vez mais desejoso de visitar novos 
climas e de se medir com maiores trabalhos. 

Em outubro de 1858 vio a Madeira e os Açores. Em abril 
de 1858 entrou pela primeira vez os portos de Inglaterra. 
Em li de maio do mesmo anno repetio á jornada, conduzindo 
a seu bordo Sua Alteza a Senhora D. Maria Ànna e o prínci- 
pe Jorge, seu esposo. 

No mez de setembro de 1859, sendo já capitão de mar e 
guerra desde 9 de março, verificou a sua viagem a Tanger, nos 
Estados Barbarescos, para com a presença do Senhor Infante e 
com a valiosa protecção da bandeira portugueza se assegurar 
melhor o respeito dos direitos e interesses dos nossos súbditos 
residentes nas terras marroquinas. Se a brevidade, porém, nos 
obriga a abstermo-nos de traça* a descripção d*estas escur- 



— 13 — 

soes, e especialmente da ultima, tão curiosa e. instructiva 
sobre tudo para portuguezes, seja-nos licito dar ao menos 
uma succinta idéa do modo porque em Angola foi recebido o 
Senhor D. Luiz, em agosto de 1860. 

Clamam tão alto por nós as possessões ultramarinas, ricas 
por si mesmas, abençoadas de todos os benefícios, que a pro- 
videncia a poucas liberalisou com mãos tão largas, que a nosso 
vêr seria reprehensivel omissão deixarmos de commemorar os 
júbilos, que dispertou a presença do infante, e que, segundo 
esperámos, o seu reinado confirmará, estendendo o braço va- 
ledor áquellas remotas regiões, que suspiram por quem saiba 
conhecel-as, e possa ajudal-as. 

A curveta Bartholomeu Dias aportou a Loanda com vinte e 
nove dias de bonançosa navegação. Á noticia da sua chegada 
e do real hospede, que ia receber, a cidade, mudada a tristesa 
usual nas gallas e festejos da mais sincera alegria, pôde dizcr- 
se que toda acudiu ao cães e logares visinhos, inquieta e an- 
ciosa por ver o primeiro Príncipe portuguez, que vinha de tão 
longe trazer-lhe a promessa de mais felizes dias. 

§ 

Fecharam-se as repartições, embandeiraram-se espontanea- 
mente os navios nacionaes de guerra, e os mercantes, e com 
elles embandeirou-se também a curveta franceza La Recher- 
che, que não quiz desmentir a cortezia do seu pavilhão em 
occasião de regosijo tão geral. O Senhor D. Luiz saltou em 
terra is nove horas da manhã do dia 9 de setembro no meio 
do cortejo formado pelo- conselho do governo, camará munici- 
pal, corpo consular, corpo do commercio, empregados civis e 
militares, e por todos os cidadãos distinctos. 

No rosto juvenil do Infante, tão parecido nas feições e na 
expressão da physionomia a sua mãe, a rainha D. Maria, luc- 



—li— 

I 

tâvam os encontrados aflectos provocados pela novidade da sce- 

na: e dos logares, pela lembrança' de tantas grandezas deca- 

» 

hidas, e pelo legitimo orgulho, de se julgar talvez fadado a 
reparal-as, continuando na aventurosa carreira, que mal podia 
prever então, que cedo havia de encerrar-se para elle depois 
d'estas risonhas premiças. 

A voz das multidões, repetindo por muito tempo e acclaman- ' 
do o nome do Príncipe, e os cordeaes emboras devidos á sua 
vinda, uniam-se ao estallar das numerosas girandolas, que su- 
biam aôs ares, e annunciavam, que o irmão do Rei de Portu- 
gal, o descendente de D. João n, de D. Manuel e de D. João iv, 
acabava de pizar aquellas praias, em que mãos victoriosas ti- 
nham erguido um dos grandiosos padrões de nossas glorias na- 
vaes. As casas e varandas, que olhavam para as ruas, por 
onde havia de passar o préstito, armadas de colchas de seda, 
e de estandartes, que a brisa agitava lentamente, matisavam 
o quadro com a variedade de suas cores, e os adornos tra- 
jados pelas damas, que n'este dia povoavam as janellas, de 
ordinário quasi sempre desertas, não attrahiam menos a curio- 
sidade e os applausos. 

Offerecidas as chaves da cidade, e depositadas pela camará 
municipal nas mãos do infante, depois de uma breve allocu- 
ção, que Elle agradeceu em concisas e urbanas pUrazes, ô Se- 
nhor D. Luiz encaminhou-sc debaixo do pallio á igreja cathe- 
dral. Ás portas do templo estava-o aguardando o vigário ca- 
pitular, rodeado do cabido e da collegiada com a cruz alçada. 
Cumprida a cerimonia religiosa, e osculado o devoto cruxifixo 
sobre a sua almofada de veludo, o luzido cortejo entrou na Sé, 
aonde assistio á missa solemne, e ao Te-Deum cantado em ar- 
pão de graças pela feliz chegada do Príncipe portuguez. 



-18- 

Terminadas as funcções do culto, o Senhor D. Luiz, a, ca- • 
vallo, levando ao seu lado o governador geral, e seguido, do 
chefe e dos officiaes do estado maior, e de uma força de cavai- 
laria, dirigiu-se ao palácio do governo, aonde ao meio dia se 
/ verificou a recepção official. O Infante, cujo agrado captivára 
as vontades, desde que se achava no centro d'aquella popula- 
ção tão leal e fervorosa no affecto, respondendo ao discurso 
recitado pelo presidente da camará em nome do município de 
Loanda e dos habitantes da província, coroou a conquista de 
todos os que o rodeavam com a prudência e descernimento da 
sua replica, na qual, inculcando as necessidades publicas da 
localidade, assegurou aos vereadores, e aos moradores em ge- 
ral, que nunca se esqueceria d'este dia, um dos mais bellos 
da sua vida, nem da promessa que lhes affiançavà de sempre 
se lembrar de uma terra, que só carecia da protecção e vi- 
gilância da metrópole para competir com as mais invejadas 
colónias na riqueza do commercio e prosperidade da cultura. 

As cinco^ horas da tarde, ao levantar-se da mesa, onde lhe 
fora servido um sumptuoso refresco, a benignidade da tempe- 
ratura determinou o Príncipe a não demorar para outra occa- 
sião a sua visita ao hospital da mizericordia, do qual também 
faz parte o hospital militar, e seguido dos funccionarios e das 
pessoas, que o estavam acompanhando^ para lá se encaminhou 
a pé. Entrando nas enfermarias, e nas diversas officinas, em 
todas manifestou a piedade do seu coração, e o vivo desejo, 
de que o estabelecimento podesse corresponder aos fins da ins- 
tituição. 

Regressando ao palácio, e tornando a montar a cavallo, des- 
ceu á cidade baixa, e apeou-se á porta do Recolhimento Pio 
de D. Pedro V, que percorreu com a mesma attenção benévola 



-16- 

• e esclarecida. Por fim desceu ao cães, é ahi se despedio do 
conselho do governo, da camará, e das auctoridades, que nãó 
se separaram, senão quando o viram metter no escaler para 
- se recolher ao seu navio. 

Um generoso brinde logo no seguinte dia veio avivar a gra- 
ta presença do hospede, que Loanda festejava com tanto amor. 
O Senhor D. Luiz offereceu sessenta libras sterlinas para serem 
distribuídas pelos presos pobres e pelas instituições de caridade. 
Foi a sua despedida aos infortrçnios e padecimentos, qtle a vista 
do irmão de El-rei começara a suavisar, e que, humano por 
indole e educação, não pôde contemplar sem se condoer pro- 
fundamente. 

Pouco tempo podia conceder a esta escursão tão digna de 
um Príncipe navegador, e tão útil em si mesma como testimu- 
nho e penhor do affectuoso cuidado, que a província de Angola 
deve ^nerecer ao governo portuguez. Quiz ao menos aprovei- 
tal-o; e, cortando pelas próprias commodidades, ainda mal re- 
pousado das fadigas da viagem para affrontar os ardores do 
clima, voltou ' de novo a terra, quasi incógnito, e prohibindo 
qualquer ostentação, satisfez o intento de ver pelos seus olhos 
os quartéis militares e a fortaleza de S. Miguel. Encontrou em 
quasi todos estragos* desamparo, e pobreza 1 A melancolia do 
semblante, mais ainda do que a das palavras, attestou o pesar 
que lhe causara o espectáculo d'esta profunda decadência. Os 
males, filhos de antigas omissões, e mais ainda dos aconteci- 
mentos, do que do erro de ministros e empregados, agravaram- 
se, como acontece sempre com os annos e as calamidades, e hoje, 
mais do que nunca, o dilema urge e aperta por uma solução. 

«Ser, ou não ser!» eis a única e concisa significação de 
uma ruina, a que não podemos deixar de acudir sem arriscar 



—17- 

a integridade (Taquelle extenso solo, tantas vezes regado do 
sangue portuguez, as tradições da nossa bandeira, alçada n'a- 
qucllas ameias, que se estão desmoronando, e as grandezas, 
não phantasiadas, mas realisaveis, que a rainha da Africa Occi- 
dental affiança a quem não lhe adormecer ao lado, ou des- 
crente e fatigado, não desamparar por impossível a empreza 
de a enriquecermos, engrandecendo-nos egualmente a nós pelos 
fructos da industria e da civili sacão. 

No dia li de setembro disse o Senhor D. Luiz o ultimo adeus 
à cidade de Loanda, e ás três horas da tarde a curveta Bar- 
tholomeu Dias picava as amarras, e principiava a sua navega- 
ção para a pátria no meio das salvas das fortalezas e navios 
de guerra nacionaes e estrangeiros, e da viva saudade dos ha- 
bitantes, que seguiam com os olhos húmidos aquelle navio, 
que levava para tão longe o Príncipe, que tinham visto surgir 

4 

. no seu porto como uma esperança radiosa, e que se recolhia 
agora, coberto de bênçãos, para ser no reino o protector dos 
grandes interesses, que supplicavam desvalidos que lhes acu- 
disse uma poderosa mão, que soubesse dirigil-os e ajudal-os. 
Os annos de 1860 e 1861, depois da viagem de Angola, não 
foram menos activos para o Príncipe. A vocação impellia-o ; a 
vida da corte era para elle apenas como uma pausa, como um 
momento dado ás affeições da alma e ás alegrias da família 
entre duas fadigas. Quasi sempre embarcado, e sempre devo- 
rado da impaciência de arar de novo o Oceano, e de aprender, 
(mal imaginava que a reinar!) no livro mais instructivo de 
todos, o dos costumes, artes, e politica das nações estranhas, 
vemol-o em^abril de 1861 voltar á Madeira e a Gibraltar, em 
agosto voar a Southampton para conduzir o príncipe Leopoldo, 
promettido esposo de sua formosa irmã a Senhora Infanta 



\ 



—18— 

D. Antónia, em setembro sair ao encontro de El-rei o Senhor 
D. Pedro, que yoltava da sua visita á exposição industrial do 
Porto, ultimo acto dos seus trabalhos de Rei, e finalmente em 
18 de setembro reconduzir os consortes, depois das festas e ju- 
bilos de um matrimonio auspicioso, desferindo as vellas para 
Anvers, depois de apertar nos braços, cuidando ser por dias, (!) 
o estremoso irmão, que para adoçar as tristezas do apartamento 
ia emprehender a fatal jornada, d'onde trouxe no seio talvez 
escondida a morte. 

N'esta viagem, que havia de ser a sua ultima navegação de 
Infante, a fortuna pareceu como que empenhada em lhe escon- 
der entre sorrisos a adversidade, que nas trevas erguia a mão 
pesada de luto contra o paço de nossos reis. Ao lado da Prin- 
ceza, tão meiga e gentil, tão saudosa doe seus e da pátria, sen- 
tindo escorregar veloz pela face das aguas a sua bella curveta, 
e vendo desapparecer a pouco e pouco na distancia as costas 
de Portugal, quem ousaria prophetisar áo Infante, que tão cedo 
esperavam por elle uma coroa e as prisões da realeza em vez 
da liberdade do seu navio, da isempção de viajante, e da activa 
e aproveitada existência, que desde a flor da juventude lhe te- 
cera dias Jão serenos e suaves? 

Acompanha va-o o Senhor Infante D. João, e ambos se acha- 
vam na corte do imperador dos francezes, participando da ale- 
gria dos festejos de Compiegne, quando um telegramma expe- 
dido pelo ministro dos negócios estrangeiros ao visconde de 
Paiva veio ferir os dois repentinamente. Era a noticia da morte 
do Senhor Infante D. Fernando. Era a primeira data fúnebre, 
que abria a funesta serie de calamidades, que tornaram tris- 
temente memorável o anno de 1861. O despacho enviado aos 
Príncipes passou primeiro pelas mãos de Luiz Napoleão, e este, 



\ 



-19 — 

commovido, procurou predisplôl-os para o golpe que iam rece- 
ber, sem com tudo lhes revellar toda a verdade. Só em Paris 
é que souberam que tinham de menos seu irmão o Senhor 
Infante D. Fernando. 

Embarcando-se á pressa em Southampton a bordo do vapor 
Oneida, os dois infantes, repartido o coração entre a dor e 
as vivas apprehensões, que lhes suscitava o caracter de El- 
rei D. Pedro, contavam as horas com a impaciência e afflic- 
ção de quem sente o coração adevinhar-lhe maiores desgra- 
ças, e não pôde correr adiante do perigo, nem ao menos 
consolar-se com a idéa do sacrifício. Quatro dias e meio du- 
rou a navegação do paquete, e com ella o martyrio que pade- 
ceram. N'este curto espaço quantas lagrimas, quantos presen- 
timentos cruéis ! 'Que sombrios os esperavam a cidade e o rei- 
no ! As bandeiras funebremente arriadas a meia hastea, as bo* 
cas dos canhões inflammando-se de intervallo em intervallo, e 
soltando os gemidos lúgubres do bronze, e o ar melancólico,- 
que parecia vestir de luto as fortalezas e todos os objectos, 
deram aos dois viajantes o primeiro annuncio de immensa 
perda, que tinham de chorar. 

O vapor entrou a barra sobre a madrugada do dia 14 de 
Novembro, e ás sete horas da manhã o Senhor D. Luiz e o 
Senhor D. João desembarcavam no cães de Belém. Um nume- 
roso concurso de povo, mudo e enternecido, viu atravessar os 
príncipes consternados, e inclinando-se diante d'aquella dor, 
correspondeu ás suas lagrimas com o silencio e o pranto, glo- 
rioso epitaphio que poucos reis alcançam, quando baixam do 
throno e entram no sepulchro. 

Uma palavra só, o tratamento de magestade dado ao Infante 
pelo presidente do conselho de ministros, marquez de Loulé ^ 



— 20 — 

rasgou o véo logo a bordo, justificando o doloroso presenti- 
mento do coração do Senhor D. Luiz. Ainda lhe restava de- 
pois de cingir o diadema, e de opprimir os hombros com a 
purpura real, exgotar as ultimas e amargosas pheses do cálix, 
que a providencia lhe destinava. 

O amigo da sua infância, o irmão da sua alma e do seu af-, 
fecto, o confidente e companheiro d'aquelles quatro dias de 
anciedade agonisados no mar, o Senhor Infante D. João ha- 
via de ser a ultima victima da fatal enfermidade, que de tão 
viçosa dynastia somente poupou dois Prinéipes, um ainda hoje 
desfalecido da sua terrível lucta com a morte, o outro, apesar 
de superior pelo sentimento do dever á fraqueza humana, accu- 
sando na súbita palidez do semblante os tormentos, que a von- 
tade firme consome comsigo, mas que nunca, por maior que 
seja a magnanimidade do animo, emudecem de modo, que os 
não denuncie uma lagrima furtiva, um suspiro, uma sombra 
sobre o rosto, reflexos do tumulo, que de repente gelam o 
sorriso, que os lábios principiavam a abrir, ou amortecem a 
animação, em que a vista parece prometter, que a alma co- 
meça a esquecer-se. 

O tempo, supremo consolador dos grandes infortúnios, tam- 
bém ha de sua visar estes, que raras vezes foram igualados. Á 
dor aguda sobrevivirá a saudade, lenta e durável, em que revi- 
ve a meiga e melancólica imagem dos que perdemos, e que nos 
precederam para nos sorrir do empyreo, saudando a hora, em 
que se acharam livres dos ferros do seu desterro. Os reis são 
pastores de povos. Chamam por elles a um tempo tantas vo- 
zes, tantos deveres, e tantas desgraças, que seria quasi um 
delicto lembrarem-se mais das magoas domesticas, do que das 
tristezas e misérias publicas» 



— 21— 

O Senhor D. Luiz i, apesar das prèoccupaçSes de uma exis- 
tência tão activa e distrahida, como a que seguira desde a 
infância, acostumou-se de mui cedo a empregar na lçitura, 
tanto dos livros da sua profissão, de que possue uma copiosa 
e escolhida collecção, eomo das obras poéticas de maior vulto 
os curtos ócios, que lhe consentiam os deveres militares. 

N ? esta parte, e em muitas outras, a vocação natural incli- 
nava~o a apreciar os bons modelos, e a deleitar-se na sua 
conversação, chegando a enlevar-se horçs inteiras arrebatado 
pela admiração. Um notável exemplo d'esta prenda, que nos 
príncipes tanto mais esmalta o caracter, quanto é menos fre- 
quente, foi-nos communicado pelo nosso amigo o sr. António 
Feliciaáo de Castilho, o mimoso cantor da solidão e da me- 
lancolia, o primoroso traductor, ou mais exacto, o feliz com- 
petidor de Ovidio, tão seu parente nas qualidades do engenho 
e na mestria do metro. 

Um dos filhos do nosso grande poeta, o sr. Augusto de Cas- 

■ 

tilho, aspirante de marinha, o qual, sem até hoje ter aprovei- 
tado o seu intimo commercio com as musas, as trata e estima 
como quem sente em si o ardor da chamma divina, teve oc- 
casião de observar o muito que ellas mereciam ao gosto deli- 
cado do Príncipe. Era em agosto de 1860, e a curveta Bar- 
tholomeu Dias, entranhava-se pelas solidões do Oceano, em de- 
manda do porto de Angola. Constou ao Senhor D. Luiz, que 
o novo aspirante, mancebo, e de uma familia em que os dons 
da poesia quasi se herdam com o berço, embora não houvesse 
produzido ainda os fructos, que a imaginação para bem pou- 
cos amadurece logo na primeira juventude, possuia já comtudo 
o precioso e entre nós raríssimo condão de sentir como ne- 
nhum as bellezas do verso,, e de as incutir pelo ouvido na ai- 



—22- 
ma do seu auditório por meio de uma recitação tão affectuo- 
sa, tão rica de todos os tons e cambiantes, que avivam a for- 
ma do pensamento poético, que o trecho mais escolhido e ad- 
mirado, passando pela sua voz parecia novo, ou outro, com 
tanta verdade e singelesa o expressava,com tão poderosa arte 
e tão insinuantes modulações sabia graduar-lhe as cores, e to- 
car-lhe os traços !. 

Os serões a bordo são monótonos/ e muitas vezes doe de 
veras no coração do maritimo aquelle sonhar acordado por longo 
espaço sempre com os olhos nas aguas, nas estrellas, e na im- 
mensidade, de que o mar, envolto em silencio, e coberto dos 
véos da noite, é a mais sublime imagem. 

Em que se ha de pensar ali senão na grandeza de Deus, senão 
na terra, nas suas illusões, e nas esperanças que de lá nos acenam, 
abreviando as distancias, e carregando os sorrisos de promessas? 

N'essas horas, pois, que a idade do infante, e a do moço of- 
fiçiál tornavam ainda mais poéticas, o Senhor D. Luiz convi- 
dava o aspirante para a sua camará, e varias vezes, embebi- 
dos na leitura das paginas do auetor de Jocelyn, ou do cantor 
das Folhas de Outono e das Odes e Bailadas, em quanto % 
phantasia lhes voava extasiada, nenhum dos dois advertia a 
rapidez, com que o tempo lhe fugia. 

Quando as leituras se interrompiam por qualquer motivo, 
passavam de ordinário á apreciação e comparação dos poetas, 
e o Senhor Infante, discorrendo solto de preconceitos, c fora 
da mais leve idéa de ostentação, desenvolvia n'estes colloquios, 
não só um largo conhecimento dos principaes escriptores de 
cada uma das línguas, que falia e escreve, mas o que ainda é 
menos vulgar, grande discernimento c apurada critica em ex- 
tremar o bom do mau, e o melhor do bom. 



— 23- 

A sua predilecção por Victor Hugo, o rei dos lyricos moder- 
nos, cujos cantos ama e relê de modo que, segundo se affirma, 
sabe de cór numerosos versos, confirma o juizo, que formam 
do elevado engenho de El-Rei as pessoas, que de perto o avaliam. 

Nada mais acrescentaremos. Hoje o Senhor D. Luiz é Rei, 
e na vida dos reis encerra-se a historia dos povos. 

Do Príncipe dissemos quanto bastava para se conhecer o que 
elle foi como filho, como irmão, e como official do mar. Co- 
meçou o seu reinado. Principiou a escrever nas folhas ainda em 
branco a primeira lauda do seu reinado. Deixemos ao tempo a 
missão de o commentar. 

Depois de tantos infortúnios a Providencia mostrou compade- 
cer-se, concedendo-nos annos de luz e serenidade. O novo So- 
berano aprendeu a reinar mfmeio das lagrimas. ^ a severa, 
mas necessária lição da realeza n'este século. Sem padecer e 
chorar nunca se apreciaram bem os males alheios. 

N'este momento tão suave para o seu coração, e tão festejado 
pelos súbditos, El-Rei principia a encontrar a mais invejada 
recompensa, que pôde satisfazer os virtuosos desejos de um 
Soberano. A sua alegria é a nossa. O ditoso enlace, que lhe es- 
tende os braços, as acclamações unanimes de duas nações, e 
as flores e palmas, de que milhares de mãos lhe juncam os 
caminhos, devem ter dito mais ao seu animo nobre e esclarecido, 
do que cem annos de servil adulação, seguidos de silencio e 
de indefferença depois do tumulo. Gloriosa continue a cingir- 
lhe a fronte a coroa de D. Manoel e de D. Pedro iv ! Desdobre-se 
e ondeie sempre sobre o seu throno, pacifico e prospero, a ban- 
deira azul e branca, hasteada pela mão victoriosa de seu avô, 
bandeira que symbolisa para nós em suas alegres cores a liberda- 
de e os destinos da dynastia, que representa! Possa o Anjo, 



— 24— 

que vem sentar-se áo lado do Senhor D. Luiz e que une ás gra- 
ças da gentileza as prendas do espirito e os dotes da alma, 
nunca ter senão de enchugar as lagrimas do infortúnio conso- 
lado pela sua ardente caridade 1 

Dois povos irmãos, duas raças antigas de reis, duas nações 
livres pelo heroísmo de suas armas abraçam-se, e repetem em 
presença da Europa, que as applaude, a saudação sincera e cor- 
deal dos velhos tempos. 

Itália e Portugal, a pátria das letras e das artes, a pátria 
dos grandes navegadores e dos grandes descobrimentos, tornam' 
a apertar depois de largos séculos os primeiros vínculos, que 
as uniram quasi ao sair do berço. , 

Dois vultos gigantes dos nossos dias, D. Pedro, Duque de 
Bragança, e Carlos Alberto, o reiheroe, sombras históricas, que 
nunca a saudade deixará esquecidas, assistem a esta hora ao gran- 
de facto que a esperança nos abençoa. A epopeia, que um princi- 
piou nos rochedos dá Terceira veiu encerral-a o outro, martyr 
voluntário, no leito do soldado, leito escolhido entre os loiros 
immortaes da cidade, que merece a primeira recordação na 
historia de nossas luctas modernas. 

Permitta Deus que o futuro confirme os vaticínios do pre- 
sente, que nascida e retemperada pelo ar forte da liberdade 
uma geração de príncipes, igual a esta que tanto nos conhece 
e presa, e pela qual nós arriscámos, « arriscaremos tudo, per- 
petue a tradição herdada de pães e avós, inscrevendo em nossos 
annaes datas tão auspiciosas para o progresso e engrandeci- 
mento de Portugal, como a que estamos registando agora. 

Quando os príncipes são queridos o povo é para elles uma 
segunda família. Não admira por isso, que o consorcio do Se- 
nhor D. Luiz excite no peito dos que o amam o mesmo ea- 



— 28 — 

thusiasmo, que a Augusta Filha de Victor Manoel, a graciosa 
Rainha dos portuguezes, deve a tantos milhões de italianos, 
que a saudaram na despedida, formando ardentes votos pela 
sua ventura. Os júbilos espontâneos e unanimes servem de pre- 
mio aos bons, e de lição aos maus. Felizes os reis, que sempre 
assim encontram os súbditos ao seu lado para os acompa- 
nhar no luto e no rogosijo. Metade da sua historia não precisa 
da posteridade para se gravar na memoria, porque principia 
escrevendo no coração de dois grandes e heróicos povos as suas 
primeiras paginas. 

L. A. Rebeuo pa Silva. 



SUA MAGESTADE A RAINHA 



A SENHORA 



D. MARIA DE SABOYA 



t 
\ 



I 



Vão longe, felizmente, os tempos, em que os consórcios dos 
príncipes muitas vezes eram regados de lagrimas pelos povos, 
e não poucas até por elles mesmos. A razão de Estado, severa 
e inflexível, á maneira do sombrio numen, que o paganismo 
adorava acima de todos os deuses, já não invoca a ambição 
como superior aos affectos da humanidade, desprezando e rom- 
pendo os mais estreitos vínculos da natureza. Desde a sua au- 
rora começou o século dezanove a descobrir menos carregados 
horisontes. A sorte dos súbditos e a felicidade domestica dos 
príncipes não se calcula, nem se decide, como outrora, longe do 
coração e da verdade, correndo-se sobre ellas um véo espesso. 

O exemplo da Senhora D. Maria de Sabyoa, esperança do 
reino, que adoptou por sua pátria, orgulho e ufania da glo- 
riosa terra, que deixa entre saudades, attesta o que dizemos, 



— 28 — 

No seu animo generoso entalhou uma esmerada educação, gra- 
vando-as profundamente, as prendas e virtudes, que são como 
o perfume divino da alma em flor. 

Nascida em 16 de outubro de 1847 abriu os olhos no mo- 
mento, em que, sujeita e prostrada a Itália, volvendo em si, 
fitava os olhos na cathedra de S. Pedro, esperando que des- 
cesse do Quirinal em línguas de fogo o verbo creador da sua 
desejada unidade, rediviva, para se levantar do captiveiro, e, 
reunidos em um só corpo os membros dispersos, soltar depois 
da respeitada voz de Pio ix o grito, que tantas vezes fizera es- 
tremecer de jubilo e de ardor guerreiro as suas opulentas ci- 
dades, e as suas férteis campinas., 

N'esse tempo, não só a pátria das artes, mas a Europa in- 
quieta, contemplava, quasi com terror, a claridade, ainda du- 
vidosa, d'aquelles arreboes, que vinham despontando, não saben- 
do se elles lhe anunciavam a esperança, ou novos dias de tem- 
pestade. Ajoelhada nos templos, a liberdade aguardava entre 
cânticos e nuvens de incenso a promessa do Yigario de Chris- 
to; e os mais crédulos, ou os mais intrépidos, imaginavam ou- 
vir já do alto do Vaticano a sublime palavra, que devia conti- 
nuar na sociedade moderna a missão regeneradora do sacerdo- 
cio, repetindo, accommodada aos tempos actuaes, a fecunda pro- 
messa, com que do Golgótha Jesus conquistara o mundo, des- 
pregando as mãos da cruz para com uma d'ellas nos guiar 
pelo amor, e com a outra nos ensinar a igualdade. 

Quando a Princeza mal ensaiava ainda os trémulos passos 
da infância, tudo mudou, e repentinamente. O chão tremia com 
o gallope despedido dos esquadrões, que se encontravam; o 
trovão .das batalhas, depois de rolar ao longe entre acclama- 
Ções, acercando-se mais e mais, annunciou por fim em Mor- 



—29- 

tara e Novara as exéquias da independência. O forno dos ca- 
nhões e dos fuzis disparados, veiu cegar de súbito com uma 
cortina fúnebre a vista do formoso sol, que allegrava os sorri- 
sos innocentes da Filha de Victor Manoel. N'esses dias de desa- 
lento e dor, a Itália, mãe de tantos heroes, depositária sober- 
ba de tantas recordações, viu indignada os inimigos forjarem- 
lhe novas algemas com o ferro das espadas! 

Sobre o seu berço, orvalhado dos prantos de uma santa, a 
Rainha sua mãe, e entristecido pelo luto de tantos revezes, a 
Senhora D. Maria de Saboya na descuidada candidez infantil, 
que torna tão ditosos os anjos da terra, mal podia divisar então 
por entre sonhos o grande vulto de Carlos Alberto, que ainda 
na véspera buscara a morte do soldado como digno remate da 
empreza malograda. De certo não sentiu poisar-se-lhe na fron- 
te o osculo ardente d'aquelles lábios, que . lhe diziam o adeus 
final de uma nobre alma dilacerada, nem enthesoirou, como 
talisman precioso, duas lagrimas, as derradeiras, que rebenta- 
ram d'aquelle peito magnânimo, e que, furtando-se quasi en- 
vergonhadas, caíram congeladas em pérolas sobre uma das mãos 
da Princeza, sobre a que Deus já a essa hora tinha fadado para 
unir os destinos de duas dynastias. 

No dia seguinte, convertendo a cruz de Saboya em symbolo 
do martyrio voluntário, a que se offerecêra, Carlos Alberto, 
lançava a purpura sobre os hombros de seu filho, e deixando 
a, coroa partida sobre o elmo de cavalleiro, vinha j>edir a Por- 
tugal o repouso de alguns dias de silencio e meditação, e al- 
guns punhados da sua terra mais heróica para .sepultar de 
baixo d'ella, não a gloria do nome, porque esse ficou immor- 
tal, mas o que havia de humano e frágil nos desastres, que o 
precipitaram em poucas horas das eminências do throno para 



— 30— 

as tristezas do exílio. Caracter fundido de bronze antigo, resi- 
gnou-se a expiar, elle só, os infortúnios do seu povo; e em quanto 
cada dia, que se deslisava lento, lhe agravava uma das feridas 
recentes, o futuro, em compensação, para o consolar, segreda- 
va-lhe de longe como esperança vaga o que a fortuna por fim 
realisou. 

A espada da Itália, que elle não quiz render, nem trocar 
por um diadema, ficou sobre o seu sepulcro, até bater a 
hora. Quando doze annos depois as águias do segundo império 
desferiram os voos, e remontando-se por cima dos cumes neva- 
dos dos Alpes, voltaram altivas a dominar aquellas planícies 
famosas pelas campanhas de Napoleão i, Marignan, Magenta, 
e Solferino, novos marcos erguidos na estrada milliaria dos 
triumphos bellicosos da Itália, viram o estandarte de Victor 
Manoel hasteado em Millão, os primeiros florões da coroa de 
ferro de Carlos Magno abrilhantados ao fogo das pelejas, e a es- 
pada de Carlos Alberto, reluzindo outra vez ao sol das victo- 
rias, [como instrumento fatídico da suspirada redempção. 



II 



1 A Senhora D. Maria de Saboya contava somente sete annos, 
quando uma enfermidade cruel arrebatou a rainha D. Maria Ade- 
laide. O que valia em thesoiros inapreciáveis de bondade e de 
fervorosa crença o coração da Princeza, que Deus chamava a 
si, affirmam-no sem adulação os louvores de quantos a conhe- 
ceram, e melhor ainda as lagrimas dos que a sua [ardente ca- 
ridade arrancava aos tractos da miséria e da orfandade. Aus- 
tríaca pelo sangue, porém italiana nos sentimentos, os seus 
últimos annos foram uma provação constante durante a terri- 



—31 — 

vel lucta, em que de um lado o esposo, do outro os irmãos e 
os parentes mais chegados disputavam palmo a palmo o solo 
retalhado da pátria, á qual no amor já queria mais, do que â 
própria que lhe dera o ser. 

Que sobresaltos de todos instantes I Que gemidos suffocados 
no segredo de suas vigílias! Quantas orações, começadas en- 
tre a incerteza e a agonia de uma anciedade, que de momento 
para momento se exacerbava, não subiram ao céo, húmidas 
dos prantos de seus olhos t Santa lhe chamaram os súbditos, 
e como santa expirou, quando o Senhor compadecido apressou 
para ella em tão viçosa idade a hora de quebrar o seu des- 
terro, e de se resgatar dos golpes redobrados de tantas amar- 
guras. Se não' fossem os tenros penhores, que deixava priva- 
dos dos carinhos maternos, que saudades levaria do mundo, 
senão as do Esposo e da terra adoptiva, os quaes lhe corta- 
ram as únicas flores, que lhe podiam suavisar os dolorosos tri- 
lhos da existência? 

Mas aquella alma pura e santa por um milagre de ternura 
infundiu-se na alma de duas Filhas. As perfeições, e a genti- 
leza da Mãe reviveram em ambas ellas, e tanto a princeza Clo- 
tilde, na corte imperial, como a Senhora D. Maria de Saboya, 
na de Turin, justificaram a espontanea^admiração, que sempre 
souberam inspirar a naturaes e a estranhos. 

Na família, de que descende, as virtudes são hereditárias, 
assevera no seu conceituoso juízo o sr. Marquez de Sousa 
Holstein, cuja penna sentimos que por causa de ausência seja 
supprida pelos traços fugitivos a que o aperto da hora e da 
occasião sujeitam a nossa. Desde a Rainha D. Mafalda, a esposa 
de Affonso Henriques, princeza, cujo animo devoto e piedoso con- 
firmam numerosas fundações dotadas em favor dos peregrinos 



e dos enfermos sem abrigo, quantos nomes, de que se ensober- 
becem com motivo os fastos da egreja, não trocaram as galas 
e illusões do século pelo cilicio, pela mortificação, e pela vida 
contemplativa da clausura ? i O Pae de D. Mafalda, o conde 
Amadeo, cavalleiro de Christo avistou duas vezes a Palestina 
nas cruzadas contra os infiéis. Perto de nós, e quasi nosso contem- 
porâneo, um dos últimos reis do Piemonte, — Carlos Manoel iv, 
amortalhando todas as vaidades no humilde hábito de noviço, 
recolhido em um convento de Roma cravou com tanto ardor a 
vista no empyreo, que nunca mais soube abaixal-a para o 
mundo. 

De que serviria citar mais exemplos, ou evocar outras sombras 
não menos veneradas ? Não foi só ás armas que a casa de 
Saboya deveu a illustração, que a torna uma das mais anti- 
gas e enobrecidas da Europa. Á coroa singela da santidade, 
menos ostentosa, porém mais solida, não esclarece de menos 
vivas cores a phisionomia dos varões e princezas, que Deus 
elevou por outros caminhos mais estreitos : — os da penitencia 
e da bemaventurança. 

A rainha dos portuguezes é Filha d'esta mãe, e neta d'aquel- 
les modelos de virtude e caridade. A Providencia enrique- 
cera com as qualidades do espirito. A sua piedade não pôde 
ser excedida. A sua caridade é inexgotavel. As associações 
das escolas pobres de Turin saudavam nella o seu anjo tutelar. 
Yisitando-as com frequência, a sua jneiga protecção era como 
uma esperança do ceo, raiando no meio das trevas e descon- 
solo. Subir a Deus com o espirito, e descer com o coração aos 
que padecem tem sido até hoje o suave emprego de toda a 
sua existência, que apenas enceta a primavera dos annos. 

A viveza da imaginação meridional tão inclinada a matizar 



-33 — 

os sonhos, -que enlevam as almas puras, retrata-se-lhe na Vis- 
ta e na expressão do semblante. À modéstia e a affabilidade, 
fazem sobresair ainda mais o engenho prompto, e os dons opu- 
lentos da variada instrucção, que recebeu. Na falta de sua Mãe 
encontrou nos desvelos da Senhora Condeça de Villamarina o 
maternal affecto, e os cuidados, que podiam confirmar as fe- 
lizes disposições, de que nasceu prendada. 

Que mais acrescentaríamos, que não fosse por ora temeri- 
dade, ou imprudeucia? É uma Rainha de quinze annos, cer- 
cada de todas as graças naturaes e adquiridas, cujos dias en- 
tretecidos de luz, de boas obras, e de santas esperanças, cor- 
reram até hoje socegados, e sem estrondo, por baixo das abo- 
badas virentes dos jardins encantados da sua querida Itália. 
A pagina até agora escripta d'esta vida, que é toda rosas e sor- 
risos, quem a sabe são os pobres. A que vai principiar entre 
nós com a nova existência de esposa e de mãe de um povo, 
que acima dos esplendores e magnificências admira n'ella as 
qualidades de sua mãe, e o enthusiasmo do bello, ditoso condão 
de sua primeira pátria, Deus a mandará escrever pelos seus 
anjos. ' 

III 

Voaram as horas, e fugindo espargiram do regaço alastrado 

de flores os myrthos e as rosas. 

« 

Eil-a que aponta entre festivos hymnos, predestinda pela es- 
perança, a venturosa armada ! Dado hontem ô ultimo adeus aos 
viçosos vergéis de Génova, hoje o ínar, os astros, e os destinos 
guiaram-na entre risos, deslizando por cima de vagas azuladas, 
e "brincando com os zephyros, ao seio da opulenta bahia do Tejo. 

No tope dos mastros fluctuam e beijam-se entrelaçadas, co- 

3> 



'i 



-34- 

n}o duas] irmãs amigas, as cores de Itália e Portugal, cores que 
a victoria realça e a liberdade exalta. Às proas orgulhosas or- 
nam-se de trophéos; e a grande voz de duas nações heróicas, 
cujo passado é tão nobre, cujos auspiciosos futuros a Provi- 
dencia enceíra em suas mãos, repete com fervoroso enthusias- 
mo uma s6 a — a mesma saudação. 

Eil-a a Rainha dos portugúezes t A nova pátria lhe estende 
os braços, e amorosa, rendida como a terra do seu berço, jun- 
ça-lhe os caminhos de palmas e boninas. Estes são os jardins 
do Tejo, que se enfloram entre cintos de verdura. Estas são 
as portas, do ocidente ; o sol despede-se d'ellas com o mesmo 
osculo doirado, que pousa na formosa fronte da Itália, coroa- 
do do ;seu invejado diadema pelas letras e artes. Este é quasi 
o mesmo ceo, que sobre o vosso berço de purpura, embalado 
pelo suave murmúrio do Pó, desdobrava aquelle esplendido tol- 
do de noites perfumadas, em que scintillam os diamantes de 
suas estrellas sem conto ! N 

Estais em Portugal, Senhora ! Avistais as margens e as tor- 
res que viram partir o primeiro almirante dos mares da índia, e 
aonde tantos triumphos e conquistas ergueram dignos padrões, 
emulos da fama que immortalisa os campos da vossa pátria. Fi- 
lha de Victor Manoel, Neta de Carlos Alberto, o solo que pizaes 
foi duplamente sagrado pelo sacrifício de dois Príncipes. Aqui 
repousa sem coroa o imperador D. Pedro, que trocou dois sce- 
pjtros por uma espada; alem, no Porto, sobre os loiros ceifados 
por elle, adormeceu do somno dos hcroes vosso glorioso Avô, o 
fundador da unidade italiana. Sede bem-vinda, Rainha de Por- 
tugal ! As vossas e as nossas memorias dizem á Europa uma 
das mais bellas paginas, que n'este século de prodígios e trans- 
formações até hoje escreveu a historia. 



-35 — 

Dois soldados, cujo tumulo guarda a saudade, abençoam o 
throno a que subis no meio das acclamações dos súbditos. Sa- 
bereis quanto Portugal vos quer, lendo no rosto do poro os 
júbilos do seu amor. O que a alma de um reino inteiro sente 
a esta hora, exprimem-no os lábios com alvoroço. Na coroa que 
é hoje vossa cada uma das joiás recorda um grandioso feito. 
É Ceuta, Àrgilla e Tanger. São as victorias de D. João I ; são 
as páreas do Oriente, engastadas com os rubis e pérolas de 
Goa, e Malaca, de Diu, e Ceilão. São finalmente as ultimas 
proezas que avivaram o brazão t das Quinas, alçando-o trium- 

phante entre a liberdade e a independência ! 

■ 

Senhora ! Cada pagina, que volverdes no livro d'esta terra, que 
já vos estremece como filha, voslembrará uma data memorável, 
um monumento de nossos antepassados e dos vossos. Que poema 
para o coração e para o legitimo orgulho de uma Princeza ! 
Vede que é a coroa de D. Mafalda e o throno de Affonso 
Henriques ! O segredo que o porvir esconde por entre as flores 
de esperança, que a mão do hymeneo esfolha, a alegria que inun- 
da a tantos peitos unanimes em vos saudar, não vos assegura 
que é o fausto presentimento da nova era, que vai abrir- 
se ? Ao alvorecer para esta monarchia o radioso dia da sua 
fundação um soberano guerreiro tinha a sei^lado uma de vos- 
sas Avós, e no brando sorriso d'ella adivinhava a promessa das 
maravilhas, com que Deus lhe dilatou os annos e o império ; 
agora que luctamos em diverso campo, não menos trabalhoso, 
o do progresso e da liberdade, e que renascem n'outro Anjo 
da mesma Familia as sublimes perfeições da primeira rainha de 
Portugal, renascerão com ella também, assim o esperamos, 
as prosperidades, para esmaltar os annaes da terra adoptiva. 
Ha coincidências na vida das nações, cuja significação só os 



—36— 

annos revelam. Confiemos nos sorrisos da Providencia. O es- 
pirito de Deus não está longe, quando os factos aceusam a sua 
sombra í 

1 L. À. Rebelio ía Silva. 



VATICÍNIO 



Meia noite I o campo, mudo) 
ermo horrível a cidade! 
só na etherea immcnsidade 
se vem lumes a scismar 1 

Tu me abraça, eu te saúdo, 
noite cara a amor e aos cantos. 
Prophetisa, mãe de encantos, 
pois sou teu, vem-me inspirar. 

Que me importa o sol e o dia, 
que só mostra o que é presente, 
e em seu vórtice fervente 
desatina as multidões? 



—38 — 

Co'as estrellas, co'a poesia, 
co'a mudez meditabunda, » 
só tu, noite, alma e fecunda, 
o ignorado á mente expões. 

Se invocas o futuro, 
se evocas o passado, 
no teu sacrário obscuro 
brilham clarões do Fado. 

Ao Hon\em que hoje é símbolo . 
de um povo, o povo meu, 
qual foi, qual é o horóscopo, 
que amor emfim teceu? 

Noite, inefável magica, 
faze~m'o ver e amar; 
do seu destino a Arbitra 
lá vem rasgando o mar. 

O ouvido, attento, sôffrego, 
néfcta mudez geral, 
já Lhe pressente o anhelito 
do seio virginal. 

De instante a instante acerca-se; 
breve entre nós será, 

# 

£É dom funesto, ou próspero, 
o que desponta lá? 



I 





— 39— ~ 

Falia, immortal fatídica; 
revela' o teu poder ; 
abre-mef os teus oráculos ; 
sei teus mistérios ler. 



Que ouvi no Estreito de Hercules? 
Que ouvi na Hermínia Serra? 
Sons de festivos cânticos! 
Ecos d'estranha guerra! 

No monte baluarte lusitano, 
ao bater da encantada meia-noite, 
resurgiu Viriato, o férreo açoite 
do invencível, 5 te 'li feroz romano. 

Com elle os seus valentes pegureiros 
saltaram em tropel das sepulturas; 
fantasmas com surrftes por armaduras, 
com. maças espectraes inda guerreiros. 

De olhos longos no píncaro mais alto, 
para o Mediterrâneo eil-os absortos. 
Vem lá frota d'Italia ! Ai, mortos ! mortos ! 
como hão-de rebater-lhe o fero assalto! 

Ás columnas hercúleas no entanto, 
acostadas, co'as plantas nas vagas, 



as sereias, de gloria presagas, 
com diademas de myrthos em flor, 
mandam ^bênçãos nas azas do canto 
ao baixel que das costas dltalia, 
como a concha da bella Acidalia, 
traz as Graças, cortejo do Amor. 

CORO DAS SEREIAS 

Vaga^ melodia, 
cytharas e frautas. 
pela undosa via 
soam para os nautas 
na mudez sombria. 

Sós, num mar de prata, 
sob a lua cheia, 
musica tão grata 
n'alma lhes retrata 
a nativa aldeia. 

Cuidam vir sonhando 
musica nas aguas ; 
somos nós cantando, 
nós que as suas maguas 
- vimos dissipando. 

CORO DOS ESPECTROS NO MONTE 'HERMÍNIO 

Ouvi... oiçamos estes sons remotos, 

que, não sei donde, cá nos manda o mar i 






V 



v 



-4f- 

e a armada avança ! que será ! que votos, 
hoste sem vida, nos convém formar ! 

AS .SEREIAS 

Armada doirada, toldada de flores, 
de Lysia e d'Ausonia tremula bandeiras ; 
co'as velas tufadas, co'as rodas ligeiras 
avança em triumpho com bênçãos d'amores. 
Triumpho ! triumpho ! triumpho á tão ljpda ' 
Sereia d'Italia ! bem-vinda ! bem-vinda ! 

OS ESPECTROS 

Já não são pois do horrendo Capitólio 
fulmineas águias, capitães traidores ! 
É Deusa Amante ! marciaes pastores, 
a laurea serra lhe daria um sólio. * 

AS SEREIAS 

Mande-se, irmãs, num sonho este cantar nocturno 
á Donzella Feliz, á Magestosa Flor, 
que do mais régio tronco em terras de Saturno, 
furtou por sua mão, fe a traz soberbo, o Amor. 

Yem para a Lusitânia, a Itália do occidente, 
pátria de antigo povo, em largo mundo rei ; 
berço de homens Tritões, que ao nosso mar fremente, 
a Marte â a Adamastor,, deram co'o jugo a lei. 



— 48— 



OS ESPECTROS 

Ài que terra de gloria a nossa terra ! 
Morta a lacial Bellona que a affrontava, 
eis Lvsia irmã da Itália, em vez de escrava! 
Brotae, palmeiras, pela Hermínia Serrai 

AS SEREIAS 

Nós, musas marinhas nas grutas de escumas, 

outr'ora ás Sibyllas de Tibur e Cumas 

i 

ouvimos cantar: 
Que um dia viria Maria aos dois povos 

tecer fados novos, 
e aos lustres herdados mais lustres juntar. 

OS ESPECTROS 

Ouvi! ouvi... que nome auspicioso! ' 
símbolo de resgate e liberdade! 
Maria! Ô quatro vezes venturoso, 
quem logra a vida em tão propicia edade) 

AS SEREIAS 

Ó Tronco Bragantino, 
que o próspero destino 
cobriu d'aureos troféos, 
sublime te alevanta; 



y 



—4a— 

. amor te enxerta a Planta 
mais cara a terra e ceos. 

Chove-te um Deus seus mimos. 
Fructos vais dar opimos 
ao Luso Portugal: 
co'a Regia Descendência 
firmar a independência 
do teu paiz natal. 

OS ESPECTROS 

Sim, terras do terrível Indovelico, 
séculos dois por nós independentes: 
paz e amor, liberdade e esforço bellico 
vos dem reis de Viriato descendentes. 

AS SEREIAS 

Lemos do Fado o livro aberto 
á luz do facho d'hymeneu: 
Victor Manoel, Carlos Alberto, 
D. Pedro Quarto, o neto seu, 
turba de Heroes e de Heroinas 
do mais esplendido fulgor, 
á sombra plácida das Quinas 
vão renascer, graças a Amor! 

Qual dentre as ondas surge um astro, 
lá vçm a urna d'alabastro, 



— 44— 

Virgínea, Mística, Vivente, 
em cujo seio o Omnipotente 
de destinos tão seus, os germes quiz depor. 

OS ESPECTROS 

Dormimos oito séculos sepultos 
sonhando sempre gloria aos netos nossos. 

> 

Quem nos hoje animara os frios ossos, 
que a Mulher Tal podessemos dar cultos! 



Esvaiu-se a visão. Calou-se o mar e a serra. 
O tácito baixel que o grão futuro encerra, 
á luz da Mãe de Amor, nos astros immortal, 
vinha rasgando ufano o liquido cristal. 

E a Princeza dormia. A azul immensidade 
bafejava-lhe paz. Co'as flores da saudade 
respirava sonhando as rosas do prazer. 
Ah ! d'essa alma virgínea as commoções dizer, 
só o anjo que a proteje acaso poderia. 
Triste e risonha, a bella, a cândida Maria, 
vê traz si, a fugir-lhe, a pátria, o berço, o pae, 
e a infantil liberdade. A Itália já lá vai, 
sepulta, e para sempre ! Em terra alem, distante, 



— 45 — 

que a proa inda não vê, vé Ella a cada instante, 
a aguardál-a insoffrido, os olhos sempre ao ínar, 
um Rei Joven e Heroe, que Lhe ensinou a amar. 
que A. tornará feliz, e que o vai ser por Ella. 

O solo que demanda, é outra Hesperia bella : 
ar^ sol, torrão, varões, renome... é tudo igual I 
Yai ter de novo a Itália entrando em Portugal. 
Bosques de fructos d'oiro, alegres laranjeiras, 
por quem dariam tudo as terras estrangeiras, 
nem vós, nem vós faltaes a dar aqui a amor 
sombras e inspirações, e á noiva a argêntea flor. 
Por isso a tão Saudosa Ingénua Yirgem ri, 
como a nublada aurora ás portas de rubi 
do mundo que a festeja; indecisa um momento 
entre os ceos que além deixa, e um novo firmamento. 
Dorme! dorme, ó Ditosa! a amor e á gloria vais. 
Embale-Te aura amiga; as horas festivaes, 
antecipem-Te em sonho as próximas venturas; N^ 
e a Santa Mãe que em Ti se mira das alturas, 
co'as bênçãos do Senhor Te cubra. Acordarás 
Soberana amanhã. Yirgem, repousa em paz. 



Despertam-Te os canhões! lá vem festiva ;a terra! 
vãs saudades... adeus! Teu jubilo as desterra. 



— 46 — 

É JLisboa ) é Lisboa I a ínclita I a real I * 
que por arcos de loiro, alegre e triumphàl, 
Te saúda e Te hospeda ! A voz da grão Lisboa, 
de eco em eco a medrar, co'o Nome Teu rebôá 
aos últimos confins do ufano Reino Teu. 

Lá vem,. lá chega o Rei que amor Te submetteu; 
abraça-O; já sois um; subi ao throno; impera ^ 
sobre Elle e sobre nós; os fados nos prospera; 
aperta sólio e povo em novos e áureos nós; 
a Elle, Inspiradora; exemplo a todos nós. 
Olha como a Teus pés as Tágides formosas 
Te alastram em tapete as mais fragrantes rosas ! 
celebra-Te a poesia; o templo Te bemdiz; 
o pobre Te abençoa; ao pobre, hoje feliz, 
dos^ loiros Teus á sombra ao longo da cidade 
banqueteia em teu nome a terna caridade. 



Basta, Senhora ! eu creio em Teu Real condão. 
Futura Mãe de Reis, já Mãe da multidão, 
escuta o que hoje um vate, obscuro, amigo, serio, 
Tc exora fervoroso a bem de todo o império. 

Vivas, salvas, festins, a noite envolta em luz, 
vão passar. Amanhã, de quanto hoje reluz, 
tumultua, pompeia, encanta, o que nos resta ? 
ui» loiro aos pés calcado ; os ecos d'uma festa ; 



—47 — 

o aborrido cançaço; o escuro; a lida vã. 
Tal d'este hoje fastoso o niisero amanhã. 

Melhor, melhor triumplio, immenso, duradoiro, 
compete ao Joven Par que ascende ao sólio d'oiro : 
Fundae a nova escola ; a escola maternal ; 
cheia de luz e amor, como a alva matinal; . 
qual o meigo Jesus sem duvida a amaria. 

Ao nome de Luiz, ao nome de* Maria, 

escriptos no frontão de asilo tfio feliz... 

sim, de Maria ao nome, ao nome de Luiz, 

quem não vê que a ignorância estulta e desdenhosa 

vai recuar confusa? a infância carinhosa, 

colhe, por vós chamada ás fontes do saber, 

os fructos da instrucção co'as flores do prazer. 

Dos- factos a evidencia em breve se irradia; 
c com mais persuasão que a só philosqphia, 
attrae, venceu, doirçina. O ensino vão e algoz, 
da cáthedra usurpada, em que a estultícia o poz, 
e em que ha mil annos queima as pátrias esperanças, 
desapparece. Então, co'os hymnos das crianças, 
pães, mães, um reino todo, entrado a mais feliz, 
abençoarão Maria, abençoarão Luiz. 

António Feliciano de Castilho. 



ALVOROÇO 



Para consorte cTelle, anjo em princeza occullo. 
(Castilho — i. a EpUtola aS. M. a Imp. do Brazil.) 



Ao sol da Itália artística 
nasceste, 6 Bella Diva, 
da Itália rediviva 
que soa glorias mil ; 
que, sem temer dos séculos 
a mão sempre homicida, 
respira a antiga vida 
donosa e senhoril. 



Na tua aurora fulgida, 
sorrindo o ceo vestia 
mais galas do que o dia 
pompeia no arrebol : 
feliz no teu horóscopo, 
ó ínclita Princeza, 
exulta a natureza ; 
tem luz mais viva o sol ; 



— 49 — 

sussurram brandos zephyros 
cTamor canções suaves ; 
àjL trinam hosanna as aves; 

dá novo aroma a flor ; 
cantam celestes júbilos 
os anjos nas alturas. 

9 

Assim prediz venturas 
aos justos o Senhor. 

Depois em annos rápidos 
cumpriu-se a prophecia : 
em ti medrar se yia 
um génio d'eleição. 
Que vai a pompa frívola 
que ao vulgo a vista illude? 
da cândida virtude 
é templo o coração. 

Não foi reflexo ephemero 
da térrea magestade 
que no viçar da cdad3 
te fez resplandecer; 
cingias uma aureola 
que em mundos se dilata, 
que vai da pátria ingrata 
á Pátria do Prazer. 



Talvez o influxo magico 
do teu condão bemdito 
fez rebentar o grito 



4 



— 50 — 

que á Itália vai salvar. 
Talvez ? ! oh foi sem duvida 
anjo em princeza occulto, 
a quem pertence o culto 
de Numen Tutelar. 

* 
Tornaste mais esplendido 

o throno lusitano, 

ao joven Soberano 

doando o coração. 

Oh vem, Rainha, enflora-lhe 

o sceptro ha pouco em luto, 

o sceptro mal enxuto 

dos prantos da nação ! 

Serás mais pura Egeria 
de novo e melhor Numa ; 
talvez em ti resuma 
mil bens este paiz. 
Quiçá gelada múmia, 
a forte monarchia, 
ao nome de Maria 
resurgirá feliz ! 

Ditoso tal consorcio, 
que, por fraterno abraço, 
estreita num só laço 
Itália e Portugal ! 
dois povos que, sol liei tos 
no altar da liberdade, 



— 51 — 

a essa divindade 
dão culto percnnal. 

De rosas tens um thalamo, 
um sólio tens d'amores ; 
unisono em louvores 
o reino ha-de ecoar. 
Ja vês em cada súbdito 
erguido, altar d'affecto ; 
ja vês ridente aspecto 
em ceo, em terra, em mar. 



i 



A. S. de Cabedo. 



O ANJO 



Carlos [Alberto, o Campeador de Itália, • 
ao ver fugir-lhe o anjo da vicforia, 
o diadema arrancou; mas cingio outro 
— o diadema dos martyres, que o foram 
do resgate dos seus. E, peregrino, 
um tumulo buscou em livres plagas, 
e vio sobre as severas penedias 
d'aquelle torvo Douro, entre os destroços 
de heróicas pugnas, o paládio, o berço 
da Liberdade. «E aqui!» o martyr disse. 

E o Porto, a um tempo, amargurado e alegre, 
sahe ao encontro do Rei, e os pés lhe inflora. 
O bravo de Novara erguia a fronte, 
alquebrada de magua, e o régio aspeito 
abria n'um sorrir de grata alma. 



-53- 

Aquelle povo amava o Rei sem reino; 

amava a desventura com tal porte 

de coragem christã, paciência, e honra. 

Quando o Rei se escondeu em soledade, 
n'um recanto do Porte^e ali, cruzando 
as mãos serenas sobre o peito anciado 
em anciãs d'outra luz, sorria á morte, 
este bom povo d'esta livre terra, 
em chusmas se ia aos átrios do %fc hospede, 
e, triste e lagrimoso, perguntava ^ 
pelo 'Rei, pelo amigo, e pelo santo: 
— que «santo» lhe chamavam quantos viram 
Carlos Alberto a oscular a imagem 
, da Yirgcm Mãe de Deus, que, desde o campo 
da batalha final, com elle fora 
na .dolorosa via do desterro. 

Chamara Deus o martyr. Morre. E a nova 
nos bronzes vái gemendo, e o povo chora. 
O cadáver, cercado de mil cyrios, 
está patente; e o povo ora em joelhos, 
e crê que tem por si nos céos um santo. 

Estava em gloria divina 
a alma santificada 
pela dor de ver quebrada 
contra a servidão a folha 
da cavalleirosa espada. 
Estava em gosos dos céus 
o coração, que levara 



—54— 

ao seio do eterno Deus 
sua redeniptora esp'rança, 
que na terra não vingara. 
E, de lá, vendo que dôr 
, deixa ao triste Portugal^ 
cobra-lhe extremos de amor 
como a terra a quem pedira, 
na sua angustia mortal, 
um leito d'onde desfira 
o seu alento final. 
E, grato aos prantos do povo, 
pede a Deus um dos seus anjos, 
para dar exemplo novo 
de affeição a Portugal. 

Concedeu-lhe o Senhor um dos seus anjos. 
Eis, n'um raio de sol c graça, desce: 
veste as formas humanas; eil-o virgem 
com quantas prendas seraphins lhe ensinam. 

Diz o santo ao seu Deus: «Aquelle anjo, 
«que' me destes, Senhor, é de meu filho 
«a filha amada: inspirai-os ambos. 
«Fazei que ella me seja o dom celeste 
«com que eu possa pagar a portuguezes 
«o muito que me deram de seus prantos. 
« Concedei-m'a, Senhor, que eu quero dal-a 
«ao rei dos homens livres. » Disse; e o Eterno, 
sorrindo á gratidão da nobre alma, 
" ao Rei de Portugal concede o Anjo. 

Camullo Castello Branco. 



j 



* 



PATUITDEA! 



Eil-a ! chegou ! bem-vinda ! 
bem-vinda sois mil vezes l 
Em rostos portuguezes 
íntimo amor sorri. 
É vossa pátria a Itália ; 
temos egual aurora... 
bem-vinda sois, Senhora, 
bem-vinda sois aqui ! 

Oht quem não ama a Itália, 
ninho onde vos creastes, 
jardim por onde errastes 
inda com débil pé ! 
Oh I quem não ama a Itália, 
do génio a mãe querida, 
Itália — a que deu vida 
a Garibaldi até I 



— 56 — 

Bera-vinda sois! Do povo 
erguc-se-a fronte nobre; 
o que trabalha, o pobre, 
também por vós se ergueu: 
= — «Eil-a! chegou! —bradava, — 
«bem haja a Providencia!...» — 
de raios d'innocencia 
vos inundava ó ceo! 

Eil-a ! Como a estrellinha 
que pelo ceo deriva, 
sorríeis pensativa 
de angélico pudor ; 
o olhar do Rei, do Esposo, 
deu-vos na face pura». . .. 
que sonhos, que ventura, 
naquelle olhar d'amorl 

Correra um vago affecto 
por tantos centos d'almas ; — 
que refloridas palmas! 
que alegres saudações! 
unia-se, estreitava-se 
num fraternal abraço, 
a pátria audaz do Tasso 
co'a terra de Camões I 

\ 

Creou-se a luz ! Bem-vinda, 
bem-vinda sois mil vezes! 
Efn rostos portuguezes 







— 57 — 

íntimo amor sorri. 
Neste torrão bemdito 
tendes a pátria agora. 
Bem-vínda sois, Senhora, 
bem-vinda sois aqui! 






B. A. Vidal. 









*.. 



V 



AL TAJO 



■3tr 



Coo Wivo dei régio enlace 

* 



• •**«•«« 



I Quien 10 te admira Tajo magestuoso 
brillante espcjo de la azul esfera, 
si de tus ondas el raudal copioso 
á millares los astros reverbera! 

Ày! yo le vi naccr humilde rio 
allá en los montes de ini amada Espada, 
y el niismo Tajo con pujante brio 
de la imperial ciudad los campos bana. 



Testigo fué dei cspanol denuedo, 
y el triunfo ensalzan sus arenas de oro 
dei Rcy Cristiano que ganó à Toledo 
en las sangrientas lides contra el moro. 



— 59 — 

Rcflejan sus cristales trasparentes 
de la antigua ciudad los torreones 
que alzan gallardos sus altivas frentes, 
de sus glorias perínclitos blasones. 

La catedral, dei génio obra divina ; 
el alcazar de piedra, audaz gigante, 
se miran en el agua cristalina; 
y dei Tajo el caudal crece arrogante. 

El dique rompe que su sien circunda; 
se estiende el rio como inmenso lago, 
los arboles desgarra, el campo inunda, 
y en su curso veloz sietnbra el çstrago. 

Del crudo.invierno acrece los rigores; 
impetuoso torrente se desata; 
espanto de los pobres labradores 
los ganados y mieses arrebata. 

Mas tambien en la dulce primavera 
contemple cnagenado su onda pura, 
de rosas esmaltada la ribera 
cuando Aranjuez ostenta su hermosura; 

Y claro y terso copia los primores 
de frondosos, magníficos jardines, ' 
paraíso de amor, Éden de flores, 
y encanto de três bellos serafines. 



— 60 — 

De álamos gigantescos enlazados 
sus anchas copas escalando el ciclo 
esmalta el rio en hilos plateados, 
su vapor exhalando en blanco velo. 

De nívea espuma en lluvia de diamantes 
en cascada desciende cadencioso, 
y sus gotas resàltan cual brillantes 
á los rayos dei sol esplendoroso. 

|Oh! cuan ufano entonccs se engalana 
retratando beldades seductoras, 
flores de nácar y purpúrea grana, 
luceros de oro y nítidas auroras! 

9 

Torna veloz, risuena primavera, 
y ai apacible son de la onda pura 
gozaré ai ver la plácida ribera 
cuando Aranjuez ostenta su hermosura. 

^Pero es el Tajo que soberbio avanza 
á las costas dei reino lusitano? 
Con noble magestad sus ondas lanza 
en el profundo seno dei Oceano. 

^Que mole gigantesca le domina? 
Del Tajo orna la sicn férrea corona, 
un puente obra dei arte peregrina 
que el ingenio de Page audaz pregona. 



— 61 — 

Génio dei siglo, espiritu moderno 

que el progreso y las ciências enaltece : 

• 

el vigoroso aliento dei eterno 
en tantas maravillas resplandece. 

Àumentan la corriente de los mares 
las claras linfas de brunida plata; 
lejos el rio de los pátrios lares 
se engrandece, se estiendc, y se dilata: 

Es un inmenso mar Yed cual descuella 
ai albor matinal rica en palácios 
la esplendi^ Lisboa, ciudad bella 
ornada de zafiros y topacios. 

Matrona que gallarda y vaporosa 

se mece en la onda azul como su cielo, 

ai ravo de la luna misteriosa 

liada divina envuelta en blanco velo. 

Faro de la esperanza, puerto hermoso, 
libras de las borrascas ai marino, 
y en tu seno le acoges carinoso 
estrella tutelar de su destino. 

Diosa cual Yenus de las aguas brotas 
tus pies besando la onda cortesana; 
te rinden homenage islãs remotas, 
y crés dei Tajo la feliz sultana. 






— 62— 

Cuna de reyes de animo esforzado; 
Àlfonso y D. Manuel, nobles campcones, 
suenan en un império dilatado; .) 

y tremolan triunfantes sus pendones. 

Las naves surcan el revuelto seno: 
dei remar de los botes la porfia 
llenaba el corazon bajo un sereno 
firmamento, radiante de alegria. 

Camino un tiempo de esplendentes glorias 
fuiste, ó sagrado rio, á Magallanes; . 
que abrio campo á las célebres historias 
de invencibles, ardientes capitanes. 

Ásia, América, y Africa, y el mundo 
pregoijan su valor y excelsa fama, 
la sien ornando con laurel fecundo 
ai héroe, ai inmortal Yasco de Gama. 

Ataíde, Albuquerque, Almeida y Castro 
cruzan armados de la fé divina 
los vastos mares; de la gloria el astro 
sus frentes victoriosas ilumina. 

Y la estrella dei noble pensamiento, 
génio admi rabie, se alza magestuoso, 
de Portugal magnifico ornamento 
de los Lusíadas el cantor famoso. * 



— 63 — 
De sus lãuros, venturas y grandezas 
resonó el eco en la nacion hispana, 
iy si admira la Espana sus proezas, 
como no ha de quereria si es su hermana! 

Espana y Portugal triunfos iguales 
en ambos hemisférios, realizaron, 
y juntas en combates inmortales 
su sangre y sus tesoros derramaron. 

Los huesos de sus hijos confundidos 
cubre la misma tierra infortunada, 
los llama héroes la historia aunque vencidos 
de Alcazar en la trágica jornada. 

Entre pueblos- idólatras, lejanos 
difundieron la luz dei cristianismo, 
las dos tambien en dias mas cercanos 
combatieron ai fiero despotismo. 

Ramas de un arbol, de una misma raza, 
icómo si se confunden en la historia, 
y un território mismo los enlaza, 
el porvenir no hará comun la gloriai 

El poeta henchido de entusiasmo santo 
consagra un himno á tan glorioso emblema : 
jay, si estampara con su débil canto 
una flor de oro en tu imperial diadema!... 



/ 



i 



— 64 — 



II 



* 
•• 



& Mas por qué reilejando la alegria 
se viste el Tajo de brillante gala? 
por qué pucbla las ondas de armonia 
y májicos conciertos hoy exhala? 

Le surcan en tropel naves veleras 
ostentando bellisimos colores 

i 

flâmulas, -gallardetes y banderas 
como pênsil de .peregrinas flores. 

£À. quien rinden tributo respetuoso 
las ondas de ese rio alborozadas? 
y con grato murmullo cadencioso 
caen ante una nave prosternadas? 

Es una nave airosa y esplendcnte, 
que ai rasgar con su quilla las espumas 
mecida por la ola trasparente 
semeja un cisne de nevadas plumas. / 

Besan las auras la ligcra lona, 
el pabellon de Itália Dota ai viento, 
y ostenta el pabellon rega corona, 
tronando cl bronce con robusto acento. 



■ '#, 



£À quien rinden sonoras tanta salva? 
À virgen bella en cuna real niecida, 
primer rayo purisimo dei alba, 
flor dei vergel de Itália desprendida. 

% 

Salve, futura reina! Astro de amores 
brillarás en el cielo Lusitano ; 
te brinda la ciu^ad palmas y flores 
ai ascender ai sólio soberano. 

Princesa ilustre de la Itália bella, 
no llores de tu pátria ai abandono; 
porque otra pátria encuentras y con cila 
de un joven rey el corazon y el trono. 

Será prenda de union tu hermosa mano 
que enlace los colores en la historia 
dei pabeilon de Itália >y lusitano: 
blanco, verde y azul, signos de gloria. 

De paz el blanco, el verde de esperanza, 
v de cielo el azul: av! dei consuelo 
eros el angel ; pues tu reyno alcanza 
la esperanza, y la paz tambien el cielo. 

Un rey y tierno hermano hondo tributo 

rindo á triste memoria, y tu alma pura 

tias dias de dolor y amargo luto 

aparece cual iris de ventura. 

5 



— 66 — 

Hija de un pueblo libre y esforzado 
que conquisto la santa^ independência, 
y á un porvenir glorioso está llamado: 
la libertad es tu preciosa herençia. 

f 

Radiante sol, fecundo á las naciones, 
sus grandiosos destinos ilumina; 
y pues dei cielo son tan ricos dones 
sella tú con tu amor la obra divina. 

Tainbien te acoge en sus amantes brazos 
un pueblo libre; madre carinosa, 
dei pueblo y trono estrecharás los lazos, 
y Dios bendicirá tu union diçhosa; 

Mientras la sombra veneranda y pia 

dei noble rey, tu generoso abuelo, ** 

sobre esta hospitalaria tierra envia 

inefable mirada de consuelo. 

Eusébio Asquerino. 



LA PREGHIERA 



Sonetto 



AlPombra dclPaltar, quando sciorrai 
la fervida preghiera, Ti rammenla 
di quella Terra, per cui pianto ayrai 
nella piena dei mâl, che la tormenta... 

X 4 

Ah! prega... prega, che pur cessi ornai 
la cruda lotta, che le rende spenta 
quasi dei tutto quella fé, che i rai 
le aprí alia gloria, per ctii fu redenta : 

L'inclita maestà delPalma reggia 
delPavita pietà sostenti il brio, 
che nelFitalo Cielo ancor lumeggia. 

Prega, che alfín ITtalia sia felice, 
e col suo scudo la difendi Iddio, 
perche non sia piú misera, e infelice... 

Cav. Gaetano Frascarelli. 



m 



PARABÉNS 



Vem, ohl vem, Princeza Augusta, 
espargir, qual branda aurora, 
sobre um povo que le adora 
raios de luz e de amor. 
Yem, que serás nesta terra 
a esperança da orfandade, 
a estrella da liberdade, 
Gentil e Mimosa Flor! 

Sentiste, Cândida Virgem?... 
Um murmúrio agradecido 
não passou do teu ouvido 
docemente ao coração? 
Que pensas que foi? Não sabes? 
Nesse rumor delirante 
recebes tu neste instante 
as bênçãos da multidão! 



— 69 — 

Acclamarain-Te! Es Rainha! 
Que.bello dia na vida! 
ter a fronte assim cingida 
por essa coroa de amor, 
tecida por mil affectos ! ! 
Parabéns, Virgem Formosa, 
parabéns, ja és esposa 
Gentil e Mimosa Flor! 

Jacinto Augusto de SajstaiNjsa e Yasconcellos. 



SAVOJA E BRAGANZA 



POSMÁ IK DIECI CANT1 



(Franjmenti) 



NelPantica dei mondo nota parte 
Due Penisole sonvi rinomate 
A cui si eguali doni il ciei riparte 
Che col nome d'Esperia fur chiamatc. 
Non sai ai vederle se natura od arte 
Tali dovizie in loro abbia versate, 
£ una si tanto ali 9 altra rassomiglia, 
Che due non vedi, ma una meraviglia. 

Itália e Ibéria qúindi fur eh ia ma te 
Coiralterno seguirsi degli eventi, 
Ché il cielo non permise lunga ctate 
Che a' suoi imperscrutabili portenti, 



—71 — 

Ma quante sono ai mondo cose nate 
Deggion sparir siccome nebbia ai venti, 
Ché da distruzion quanto nasce ha vila 
E da cosa fu cosa ognor sortita. 

Dann'ivi legge ai popoli soggetti 

Con savio, forte, giusto, umano impero 

Dal popolo e da Dio' due Tronchi eletti 

Che pregiansi seguir le vie dei vero. 

Giá Braganza e Savoja furon detti, 

E ognun puó andar dei próprio nome altiero 

Che per quanto su terra il ciei si spande 

Stirpe non vedi né piu eccelsa o grande. 



Nel bel giardin che a sua difesa ha PAlpi 
E a cui il mar lambe mollemente il piede 
La bella Pia s'inspirava agli alti 
Pensieri di virtu. Quanti concede , 
L'Eterno ai male oprar solidi spalti, 
Intellétto, vigor, saggezza e fede 
Tutto ha Maria ; ne sai se van lodate 
Piú in lei virtú acquisite o 'doti innate. 

Giace la reggia degli avi antichi 

Appié dei bel paese subalpino ; * ■ 

Di colli è circondata e luoghi aprichi 

E fá come puntello ai giogo alpino ; 

La bagna il Pó, che par che ai mondo indichi 



— 72 — 

Che pari ai suo ingrandirsi nol cammino 

Un dí il Sabaudo Prcncc (ia sovrano 

Di quanto acchiude Itália in monte c in piano. 

Duri iiupetuosi assalti ella sostennc, 
E in prove di valor sorti vincente, 
Che mai non volle alia crudel bipenne 
Piegare ri capo di straniera gente.' 
Contra un oste agguerrita essa sol tennc 
Alta la fronte, e la scacciò perdente; 
Di Pietro Micca il pátrio amor, Fardire 
É ben noto, nè vai or qui ridire. 

Lá nacque, s'educó, la visse e crebbe 
Queila che in noi or fá tanta csultanza ; 
Lá di virtude gli alti sensi accrebbe 
Dei patri colli alia gentil fragranza. 
Per un angiolo presa ognun Pavrebbe 
Ai modi eletti, alia genial sembianza; 
Lá, ai povero e ai tapino era sua cura 
Render la sorte prava meno dura. 

Figlia a Vittorio, cui vittoria arride 
E a Adelaide Ranier nacque la Pia ; 
La luce il dí sedici Ottobrc ude 
Siccome fior che ad alitar.s ? apria. 
Quando PItalia dei bel don s ? avvidc 
Che in quclPAngiol dei cielo il ciei Pinvia 
Anni faceano allor mille ottocento 
Quarantasette ch'era 1'uom redento. 



-73- 

Godeva in pace la gentil donzella 
In grembo delia Madre i suoi vcrd'anni, 
Quando sorse improvisa gran procella 
Che in un mar la gettò di crudi alTanni ; 
Perche invidiando il "ciei Panima bella , 
D'Adelaide ? di questo mondo ai danni 
Che restasse piii tempo Egli non volse 
E quel ch'era suo come suo si tolse. 



Prima círio canti degli sposi egregi 
L'altc virtu che dan splendorc ai soglio, 
E quanti sono in lor sovrani pregi, 
Narrar le imprese, gli alti sensi io voglio 
Degli avi illustri dei due tronchi regi, 
Dei popoli soggetti onore e orgoglio, 
Le cui sublimi gesta in guerra o in pace 
Non giunge a canccllare il tempo edace. 

Narrar le gesta! mi perdoni lddio 

Se tanfosa volare il mio pensicro ! 

Piú che a mie forze guardisi ai desio 

Che il ver vuol dir in olocausto ai vero. 

Se nelFagone generoso e pio 

Mancan sublimi voli a un cor sincero 

Di Luigi e Pia la bontá mi affida 

Che nel mio viaggio ro prendo a scorta e guida. 






— 74 — 

Giaceva Itália ritagliata in lembi 
Qual mantello sdrucito d'un pezzente, 
E benché alcuni fosser torti o sghembi 
Trovato avean Puncino d'un potente. 
Squadre non giá, ma distruttori nembi 
Di stranier 1'invadean qual lava ardente 
Ed era premio dato ai suo coraggio 
Ruine, incendi, dolor, Djiorte o servaggio. 

Di sovrani stranieri ancella e schiava 
Yietato le era aver speme e desio ; 
Dell'iniquo tiran la voglia prava 
Era spacciata volontá di Dio. 
Dritto e legge or non piú, bensí imperava 
La volontá d'un ré crudele e rio 
E a chi d'opporsi ardia, sola ragione 
D'assoluto signor era il canuone. 

• 
Povera Itália! Tu soffrivi tanto 
Ed eran tutti sordi ai tuo dolore, 
Ché le Nazion ti deridevan quanto 
Àvevan giá tremato ai tuo valore; 
Qual meraviglià or dunque se ai tuo pianto 

Rispondea collo scherno il tuo signore, 
Se a te che senno avevi e álti pensieri 

Di governarti, dtcean, degna non eri? 

Dcgna non eri tu ! dunque in obblio 
Era giá andata la virtii latina ? 
Force il valor, il senno tuo, per Dio a 



—75 — 

Maledetti gli avea Tira divina? 
Dunque perche con sprezzo crudo e rio 
A te serbavan sol stragi e rovina, 
E chi te fral dicea, essi sol forti, 
Non davati una sol, ma mille morti? 

Ah ! perche unita eri potente e forte 
E 1'avevan ben giá provato in guerra I 
Dunque non fia che cangi la tua sorte 
Finché lo stranio calcherá tua terra. 
Ma il giusto Dio, che i rei potenti atterra 
E dei deboli spezza le ritorte, 
A ré Cario inspiro santo dcsire 
Di far redenta Itália oppur mor ire. 

E il voto egli adempii. Là di Superga 
Tra le tombe degli a vi or giace in pacc. 
Ben ei tento morir quando le terga 
Yolse fortuna e si mostro fallace; 
Ma invan cerca sul campo chi grimmerga 
líel petto un ferro c slacci 1'alma audace, 
Che da acerbo dplor sempre in cor punto 
In esiglio morri tristo e consuuto. 

Ha la sua pátria ogu'uom 3 sol 1'italiano 
Erane privo. Schiavo vil rejetto 
Nel próprio suolo era tenuto estrano 
Simil di Giuda ai popol maledetto. 
Di rose e gigli a lui spargeva invano 
Pronubo amor il marital suo letto 



— 76— 

Ch' ci malcdiva il scme suo, se schiavi 
Erano i figli sul terren degli avi. 

Delle gravezze il peso sol portava 
E il domandar giustizia gli era tolto, 
Ché 1'aquila sovrana depredava 
Del tristo agricoltor tut(o il raccolto. 
Se chi era, qualcun gli domandava, 
Chinava il guardo ed arrossiva in volto 
Chè per crudo destin malvaggio e rio 
Non potea dir: questo paese é mio. 

E mentre ogn r uomo dice: io son germano, 
Altri io son anglo, son spagnuol, francese, 
Ei sol non puote dir: sono italiano! 
Ché estrano in próprio suol violenza il rese. 
Oh! come vorrebb' ei di própria mano 
Far vendetta di si crudeli offese! 
Ma 7 invan; ché sospettosa tirannia 
Di quanti Pavvieinan fé una spia. 

Sapete voi qual duol porta nel core 
Chi non ha pátria? É un spasimar violento 
Come chi cerca il guardo dei Signore; 
E dei bastardo Tonta cd il tormento 
Che un padre cerca invano a tutte 1'ore; 
\ É d'orribil fantasma lo spa vento; 
Sono lc anibasrc, i pati menti e 1'onte 
D'abbietto schiavo che ha vil marchio in fronte. 



— 77 — 
E Cario ai grande dí si preparava 
Con un saggio governo forte e retto; 
Codici attinti ai vero egli dettava 
E leggi che tendeano a giusto oggetto; 
Consigli e Tribunali decretava 
Ove giustizia avea tempio e ricetto, 
Si che vedeasi andare in stretta unione 
Giustizia ed equitá. dritto e ragione. 

Non trascuró, peró, nelle soavi 
Cure di pace, il militar governo; 
Anzi con sforzi i piú indefessi e gravi 
NelParmi introducea il progresso odiento : 
E quella armata che già sotto gli avi 
Aveva il chiaro nome reso eterno 
Ei preparava a piú glorioso imprese 
E a quel valor che si chiara la rese. 

A tale di governo saggio impero 

Che d'un picciol faceva un forte stato 

I popoli drizzavano il pensiero 

Come a un ben lungamente invan desiato. 

Minaccioso il vcdean sorger foriero 

Di punizion, mostrando il braccio armato, 

E con nobile c generoso ardire 

Sdegnar delFaustro agli ordini ubbidire. 

Scuote ogni mente quel desio di guerra 
Che da lungo repressp or fá esplosione; 
Stendesi ratto per Titala terra 



— 78 — 

E ognun ne fa suo altare e relijgione; 
E a quel ferocc frémito che atterra 
Resta il tiranno privo di ragione 
E incrudelisce alio scrollar dee trono 
Contro colui cui chieder dee perdono. 

Per tutta Itália un grido sol s'udiva 
Che potente sorti va d'ogni petto; 
D'emancipar la pátria ognuno ambiva 
E volea col desir anche Peffetto. 
Al sacrifício ognun sè stesso offriva, 
E quanto avea piú caro e piii diletto, 
Che di pátria Pamor quando é veracc 
Bruccia bon piii che su delPesca brace. 

Dal casolar ú tácito attendea 

Lieto e ignoto agli agricoli lavori 

Parte il villan, e va ove ogni uom coríea 

A mieter per la pátria santi allori. 

Scagliasi ardito su la gente rea, 

E in petto non ha un cor ma mille cori, 

E da forte soccombe col contento 

Per la pátria d'aver la vita spento. 

NelPaule auratc ove tutto é incauto 
Armasi il titolar dagli avi antichi; 
Corre pedone coi pedoni ai campo 
E dona sue ricchezze ai piu mendichi; 
Sembra ogn'indugio alia vittoria inciampo 



—79 — 

E si scaglian furiosi sui nemichi, 
£ con un santo e temerário ardire 
Disciplinate squadre fan fuggire. 



NelPinvilta e fedei cittá d ? Oporto 
Chiuse Pestreme luci il pró guerriero; 
Lontan dalla famiglia, sol conforto 
Ebbe in trovarsi il cor leale e sincero; 
Tranquillo con sé stesso giunse ai porto 
Ove l'uom trova la maestá dei vero; 
Ma prima di morir sacro legato 
A Yittorio lasció, suo figlio ainato. 

r 

Yittorio Paccettó. Scorsi dieci anni 
Ecco un armata sorge ed una squadra, 
Che delPaustriaco s'apparecchia ai danni 
E a rintuzzare la sua voglia ladra; 
Plaudono i popoli che ai loro affaqni 
Voglion pôr fine ed a loro sorte adra, 
Infiammasi ogni cor qual face ai vento 
Che il fuoco sopito era, ma non spento. 

* • 

Freme ogni petto; e a lavar Tonta antica 

Giá apprestasi ogni braccio ed ogni core; 

Col guardo e coll' andar par che ognun dica, 

Non guerra, schiavitii avere a orrore, 



— 78 — 

E ognun ne fa suo ai tare e relijgione; 
E a quel ferocc frémito che atterra 
Resta il tiranno privo di ragione 
E incrudelisce alio scrollar dee trono 
Contro colui cui chieder dee perdono. 

Per tutta Itália un grido sol s'udiva 
Che potente sortiva d'ogni petto; 
D'emancipar la pátria ognuno ambiva 
E volea col desir anche 1'effetto. 
Al sacrifício ognun sè stesso offriva, 
E quanto avea piú caro e piii diletto, 
Che di pátria l'amor quando é veracc 
Bruccia bon piii che su dell'esca brace. 

Dal casolar ú tácito attendea 

Lieto c ignoto agli agricoli lavori 

Parte il villan, e va ove ogni uom coríea 

A mieter per la pátria santi allori. 

Scagliasi ardito su la gente rea, 

E in petto non ha un cor ma mille cori, 

E da forte soccombe col contento 

Per la pátria d'aver la vita spento. 

Nell'aule auratc ove tutto é incanto 
Armas i il titolar dagli avi antichi; 
Corre pedone coi pedoni ai campo 
E dona sue ricchezze ai piu mendichi; 
Sembra ognlndugio alia vittoria inciampo 



— 79 — 

£ si scaglian furiosi sui nemichi, 
E con un santo e temerário ardire 
Disciplinate squadre fan fuggire. 



NelPinvitta e fedei cittá d'Oporto 
Chiuse 1'estreme iuci il pró guerriero; 
Lontan dalla famiglia, sol conforto 
Ebbe in trovarsi il cor leale e sincero; 
Tranquillo con sé stcsso giunse ai porto 
Ove 1'uom trova la maestá dei vero; 
Ma prima di morir sacro legato 
A Yittorio lasció, suo íiglio ainato. 

Yittorio Paccettó. Scorsi dieci anni 
Ecco un armata sorge ed una squadra, 
Che dell'austriaco s'apparecchia ai danni 
E a rintuzzare la sua voglia ladra; 
Plaudono i popoli che ai loro affaijni 
Yoglion pôr fine ed a loro sorte adra, 
Infiammasi ogni cor qual face ai vento 
Che il fuoco sopito era, ma non spento. 

• • • ■ 

Freme ogni petto; e a lavar Tonta antica 

Giá apprestasi ogni bracejo ed ogni core; 

Col guardo e colP andar par che ognun dica, 

Non guerra, schiavitii avere a orrore, 



— 80 — 
E se fortuna mostrasi nemica 
Renderalla benigna il si^o valore; 
Di cittadin, guerrier, fanti e cavalli 
Ingombre son le vie. colline e valli 



Spettacolo sublime era il vedersi 
Dal Tebro, dal Ticin, dallc Lagune, 
Dal Sebcto, dalPArno, c dai divorsi 
Ducati ove il tiran rendeasi immune, 
Da quanti Itália ha mai luoghi dispersi, 
Sia villa, sia cittá, borgo o comunc, 
lnfiaramati di pátrio c santo ardire 
Giovani prodi d^gni etá partire. 

Àhi! forse scosso invan le sue ritorte 

Ora avrcblfanco la virtii latina, 

Ché di gran lunga era il ncmico forte, 

Se non pensava a lei pictá divina, 

Chè mentre sparge Faustro stragi e morte 

Scagliandosi d'Italia a estrema ruina 

Appar sulPAlpi minaccioso c irato 

11 Grande Napoleon di brando armato. 

Siccome ai sovrastar di gran periglio 
D"incendio, di tremuoto o di naufrágio 
Stupido é ognun, né sá prender consiglio 
E col inalo confonde anche il piíi saggio, 
Nè s'arrischia a parlar, nc a mover ciglio. 
Ne si che sia \iriii, che sia toraggio, 



^-81 — 

Stupidita resto 1'austriaca gente 
All'apparir d'un nembo si repente. 



G. P. Biancdi. 



A SOMBRA DE CARLOS ALBERTO 



Funda mudez impera na cidade 

dos Césares outr'ora, hoje de Christo, 

na duas vezes soberana, em Roma. 

Deslisa pelo claro firmamento 

a prateada lua, com seus raios 

pallida allumiando esses soberbos 

monumentos do engenho, e essas ruínas, 

restos de um povo que passou no mundo : 

S. Pedro, o Capitólio, o Vaticano, 

o Colosseu, o Pantheon, e o Circo; 

a Roma de hoje e a Roma d'outras eras. 

Em meio corre murmurando o Tibre, 

testemunha de tanta magestade, 

e de tanta mudança; o mais repousa. 

Tudo está silencioso; a noite é alta. 

Mas além no elevado Capitólio 
que vulto é esse? como jaz immovell 
como alveja ao luar) marmórea estatua 
o julgáreis talvez, em hora boa 



— 83 — 

por mão de insigne artista cinzelada, 
ou gemebunda sombra, que a deshoras, 
lembrada do que foi, vaga na terra. 
É César, o triumviro guerreiro, 
o ambicioso, audaz liberticida 
inda sonhando a imperial coroa ? 
é Pompeu, seu rival, morto no exilio, 
que vem chorar na pátria a desventura? 
é Catão que a existência sacrifica 
para não ver a liberdade escrava ? 
é Scipião? é Mário? nenhum d'elles. 
Desejo insaciável de conquistas 
não o animou na vida, mas a idéa 
de reunir em reino poderoso 
um povo grande, retalhado e oppresso; 
não arrancou da espada em lueta inglória 
contra irmãos; só estranhos e verdugos 
a viram lampejar, tremeram d'ella; 
vencedor, foi magnânimo e sublime, 
vencida, a si venceu-se, e contra os males 
não foi na morte procurar abrigo; 
no desterro morreu, mas elle mesmo 
o demandou para não ver sangrando 
a pátria sob o ferro dos tyrannos 
Quem é pois? é da Itália o patriota, 
Carlos Alberto, o plantador ardido 
da gloria, da unidade italiana. 

Oh! como se ergue nobre e grandioso 
no alto Capitólio., contemplando 



— 84 — 
a rainha dos séculos ! A sombra 
da cidade de outr'ora elle medita, 
elle, sombra do liomem que ha passado! 

Mas não é triste o rosto seu; levanta-o 
confiado e sereno; luz de esp'rança 
lhe fulgura no olhar, como nos dias 
de Rivoli e de Goito, quando ao lado 
via a victoria a coroar-lhe as armas, 
e a Áustria recuando espavorida; 
co'a dextra o coração comprime e aperta, 
qual se fora indavivo; sobre a espada 
pousa a sinistra, e os lábios entre-abertos 
como que vão fallar. 

Por largo espaço 
volve os olhos em roda, e emfim prorompe : 

«Ó Roma, antiga Roma t que venturas 

te esperam no porvir! Serás de novo 

poderosa e senhora! Já vem perto 

o instante de acordares do lethargo 

do teu somno de séculos. Acorda, 

acorda, capital da egrégia Itália, 

e ao mesmo tempo capital de Christo. 

Podem juntos viver o sceptro e as chaves, 

e hão de juntos viver, aquelle dando 

leis da Sicilia austral até aos Alpes, 

estas mandando aos povos do universo 

da crença do Homem Deus brandos dictames. 



— 85 — 

Mas não é inda o dia destinado 

pelo Eterno. Esperae, italianos, 

romanos, esperae; fora improfícua 

tentativa qualquer, fora baldada. 

Tu que o digas, ó alma generosa, 

ó guerreiro fatal e enthusiasta, 

que, sempre vencedor, foste vencido. 

Mas vencido e infeliz, como és agora 

maior do que nas horas de triunfo, 

martyr da grande idéa italiana ! 

Garibaldi, consola-te comigo ! 

como tu, pelejei, venci, venceu-me 

a sorte, os homens não, por lhe if d'encontro, 

por ter antecipado a empreza que hoje 

meu filho, mais feliz, prosegue e acaba. 

Esperae; também eu aqui o espero 

o dia da victoria, eu, sombra apenas 

entre os vivos, e só quando elle brilhe 

vos deixarei, e deixarei o mundo. 

Julgáveis que morri ? o corpo ao nada 
é verdade volveu, porém comvosco 
o espirito ficou, filhos da Itália. 
Foi elle que ateou nos vossos peitos 
da liberdade a chamma, que no exilio, 
nos horrorosos cárceres, na morte 
vos confortou, apóstolos da pátria; 
foi elle que em Magenta, cm Solferino, 
e em tantas outras pugnas deu alento 
aos livres esquadrões contra as cerradas 



—86 — 

fileiras de oppressores e de escravos; 
é elle que vos ha de abrir as portas, 
não com ferro, com ramos de oliveira, 
d'esta cidade, dá fadada corte 
do reino italiano, emfim de Roma.» 

Assim dizendo, a inspiração divina 
lhe irradiava o rosto, e resoava 
a sua voz poderosa, como um echo 
dos arcanos de Deus. 

«Porém que vejo, 
(e apontava] o occideute) ao longe, ao longe, 
no fim da Europa, do oceano á beira? 
O meu sangue se casa ao sangue illustre 
do portuguez monarcha. A minha divida 
pagas, ó filho meu, co'o mais querido, 
mais do teu coração, co'a própria filha. 
Dois legados, além do diadema, 
eu deixei: um ao solo do meu berço, 
á minha cara Itália, o outro á nobre 
terra de Portugal, em cujo seio 
me acolhi na desgraça, e em cujos braços, 
carpido e amado, me apartei do mundo. 
O primeiro nos campos de batalha 
começaste a cumpril-o, expondo a vida 
no mais rijo da lucta, e confiando 
aos azares da guerra, e á varia sorte 
os súbditos fieis, a a vi ta c'rôa. 
Esse já perto o vejo do seu termo. 



—87 — 
O segundo de todo eil-o cumprido t 
Que prazer 1 quanto góso n'este instante) 
Itália, Portugal são minha pátria 
uma e outro; escutou-me alegre aquella 
apenas vim á luz ; este escutou-me 
compassivo ao morrer o extremo alento. 
Que amisade, que ardor, que enthusiasmo 
não achei iresse povo, tão sublime 
como os seus feitos de que brilha a historia, 
quando o fui procurar quebrado e triste, 
Após o dia da infeliz No vara! 
Qual a seu conterrâneo, me acolheram; 
cingiram-me de affecto, e de carinhos; 
quinhoaram com animo brioso 
a minha acerba dôr; e quando a morte 
d'entre elles me roubou, com pranto e lucto 
inda a memoria unanimes honraram, 
nem que fora seu rei, de pobre extranho, 
do monarcha vencido e desterrado. 
De divida tamanha a maior parte 
pertence a ti, ó Porto, ínclita origem 
do nome portuguez, valente berço 
da santa liberdade luzitana. 
Foi a ti que eu busquei entre as cidades 
do mundo para escudo contra os tiros 
da fortuna cruel, a ti, de ha muito 
costumado a tomares o partido 
do fraco, e do opprimldo, e que em teus muros 
D. Pedro defendeste, e os seus heróicos 
soldados em tenaz e duro assedio 



— 88 — 
contra a hoste infinita dos tyrannos, 
crus algozes dos seus. 

, Ao claro neto 
do rei, libertador dos portuguezes, 
te vaes unir, ó filha de meu filho. 
Serás feliz; de paz e de alegria 
vida longa te espera sobre o sólio 
donde tantos monarchas poderosos 
dictaram n'outro tempo leis aos mares, 
e donde agora nova luz começa 
a scintillar, a dardejar espr'anças. 
Do esposo aò lado encontrarás a dita 
que podes ter no mundo, e que merece 
teu coração affavel, virtuoso. 
0& portuguezes te amarão, querida, 
bem como sua mãe, pois da corôá 
só filhos querem ser e não vassallos. 
Como* na nossa terra, liberdade 
entre elles verte o ar, sereno e puro, 
igual ao nosso ar; o céo benigno, 
pródigo chove flores sobre o solo, 
e ditosa abundância. Ah! quantas vezes, 
vendo-lhe o meigo azul, c ouvindo a falia, 
a maviosa falia portugueza, 
tu não dirás comtigo: eis minha Itália! 
Outras vezes também far-te-hão saudades 
os teus campos, teu pac, e irmãos presados, 
c a causa consagrada a <jue não pódes, 
presente, ver o fim; mas escutando 



— 89— 
como o desejam todos que te cercam, 
todo o teu povo amigo, c como sempre, 
e a cada passo de teu pac repete, 
e dos nossos hcroes os grandes nomes, 
ainda pensarás: eis minha pátria. 
Depois, quando chegar o dia escripto 
pelo Eterno no livro dos destinos 
em que ha de esta cidade abrir as portas 
a seus irmãos, e aqui no Capitólio 
arvorar a bandeira italiana 
a v inão da liberdade, ó minha filha, 
lá no teu novo reino o fausto annuncio 
saberás pelo brado fervoroso 
de Portugal inteiro, o qual unisouo 
dirá: Roma cedeu, a Itália é uma!» 

Assim acaba; mas ao longe os cchos, 
pela mudez da noite retumbando, 
longamente repetem nas ruinas 
as palavras finaes: a Itália é uma! 
Julgareis nos seus túmulos de pedra 
os séculos já mortos levantarem-se 
a confirmar o \aticinio augusto, 
e que esses monumentos veneraveies 
de tantas gerações se commoviam 
ao pensar no futuro que inda espera 
a dantes soberana do universo, 
a rediviva Roma. 

Porém breve 



— 90— 

tudo em silencio cae; ouve-se apenas, 

como gemer de queixa dolorosa, 

do Tibre o jnurmurío. O branco vulto 

inda lá está im movei, contemplando 

a cidade dormida; emfiin acorda 

do longo meditar, e, erguida a fronte. 

desce do Capitólio; mas seus passos 

não produzem rumor; pausado, lento, 

marcha ao clarão da lua entre as ruinas 
té se perder dos muros derrocados 
do vasto Colosseu na sombra enorme. 



José Ramos Coelho. 



AVE, STELLA! 



Assoma a luz percursora, 
c logo o espaço domina. 
Bem-vinda sejaes, Senhora, 
como a estrella matutina 
que precede a nova aurora! 

Bein-vinda, Esposa Real! 
Gentil PrinCeza, bem-vinda 
aos braços de Portugal! 
Pátria vossa é esta ainda, 
pátria e irmã do chão natal! 

Revê-se flor 'entre flores; 
são os jardins só mudados : 
acha os mesmos explendores, 
as mesmas selvas e prados, 
ceo egual e eguaes amores t 



— 92 — 

De alvoroçado e saudoso, 
como que o berço da infância, 
por dobrar-lhe dita e goso, 
quiz seguil-A á nobre estancia 
onde a aguarda o Excelso Esposo. 

Num povo d'alnias leaes, 
que já por fé vos adora, 
profundo affecto encontraes. 
Vossa pátria é esta agora: 
bem-vinda a ella sejaes! 

» 



Honra nos foi e nos fez 
uma Filha de Saboya. 
Signal de gloria outra vez 
ha-de ser d'Italia a Jóia 
sobre o throno portuguez! 

A voz que as bênçãos implora 
jamais aos Vossos foi muda : 
Vosso Avô cantou outrora 
musa que hoje vos saúda. 
Bem-vinda, Augusta Senhora! 

s 

Apoz tormenta voraz, ' 
desce a vaga, aclara o norte. 
Bem-vinda, íris de paz, 
luz de amor, como o Consorte: - 
o ceo, que O trouxe, Vos traz! 



— 93 — 

A estrella d'alva descora 
entre as rosas do oriente. 
Sejaes beni-vinda, Senhora, 
como o astro que fulgente 
surge e inflamma a nova aurora. 



J. da S. Mendes Leal. 



s 



EMBORAS 



.,/ 



» « ** 



De galas cortezãs não visto alyraf 
Idolatra servil não curvo a fronte, 
nem vou rojar-me ante os degraus do throno 
a espreitar o surgir da Estrella. Nova 
nos ecos da realeza; amo a virtude 
quer de realce á purpura esplendente, 
quer entre andrajos vis esconda o brilho! 

Não me deslumbra o sol da realeza t 
Entre o luzir fugaz diviso as manchas, 
mas distingo também a luz mais viva 
da cVoa divinal, que cinge as frontes 
dos eleitos de Deus, reis sobre a terra! 
Adoro então o esplendido da c'rôa, 
adoro «o monarcha o justo, o sábio 



— 95— ' 

se o vejo caminhar na senda agreste 
preenchendo animoso o duro encargo. 

Vós sois, Vós sois, Senhor, um d'esses poucos! 

Foi d'espinhos a c'rôa que cingistes) 

Co'a d$r no coração, na face o pranto, 

consolastes um povo que gemia 

órfão de um pae, de um ermo throno em roda. 

Fostes herdeiro dMnclitas virtudes) 

Nesse trance fatal, resplandecestes 

grande na dôr, e no valor. . . sublime ! 

Hoje inflora-vos Deus o alto diadema ) 
Nos espinhos da c'rôa se entretece 
cândida rosa (oda amor c graças) 
Apoz a Tempestade, vem a pomba, 
precursora de paz e de venturas) 
Gentil Pomba da Ausonia, a Vós meu canto! 
Meus lábios, não aíTeitos a lisonjas, 
soltam a saudação livre, espontânea, 
á Meiga Flor, que vem brilhar nos Paços 
de incantos mil ornada... e que rescende 
não sei que vago aroma de virtudes! 

Quando á voz de liberdade 
do seu tumulo aviltante 
se ergueu a Itália radiante 
d'enthusiasmo, e de fé, 
cairam thronos vetustos 
ao troar da voz diVma; 



' —96 — 
mas sobre a immensa ruina 
ficou um throno de pé ! 

Brilhava fulgida auréola 
. em torno do augusto sólio! 
Era o novo Capitólio! 
era da Itália o porvir! 
do Rei-heróe, do Rei-martvr 
inda guardava a saudade; 
sempre o sol da liberdade 
ali se vira fulgir! 

Era um throno augusto e santo! 
De virtpdes um sacrário! 
Sempre aquelle sanctuario ,- 

dera á Itália força c luz; 
descera d'elle o Rei-martyr 
dcixando-lhe immenso brilho! 
Mais feliz, o Heróe Seu Filho 
á gloria a Itália conduz! 

É livre a Itália 1 Livre a Itália c unida 
entoa um hymno de respeito e amor 
ao Rei, que soube despertar-lhe a vida, 
que soube outr'ora consolar-lhe a dôr! 

4 

I 

Junto do Heróe, que um povo inteiro acclama, 
que meiga Virgem lá se vê brilhar? 
E junto ao roble de frondente rama 
cândida rosa de frescor sem par! 



— 97 — 
Anjo dâ Itália a julga o povo crente, 
Anjo Celeste, que só bens lhe^tràz! 
No ardor da lucta, na virgínea frente 
lhe fulge a aurora, que promette a paz! 

Anjo de paz e de amor 
vem á terra Lusitana, 
que também também se ufana 
com acções d'alto valor 1 
Se os filhos da Itália bella, 
fiados na vossa estrella, 
iam firmes combater, 
também com firme vontade 
pela pátria liberdade 
* sabem os Lusos morrer I 

Em feitos d'immensa gloria 
Portugal não tem segundo! 
Estão espalhadas no mundo 
as folhas da nossa historia ! 
Nossas Quinas Lusitanas, 
mais do que as águias Romanas 
dictaram ao mundo a lei! 
E se caía um valente, 
bradava altivo e contente: 
«Pela Pátria, e pelo Rei!» 

No throno portuguez sempre a virtude 

á terra c ao ceo brilhou^ 
Nunca o povo, ao passar régio ataúde, 

alegre respirou! 

7 



— 98 — 

Vinde dar novo brilho ao sólio esplendido I 

Risonha Es t rei la, divinal fulgi 1 

Ao contemplarem esse rosto angélico 

em que a innocencia, em que a bondade ri, 

clamam todos: — «Ditoso o Soberano, 

«a quem Esposa Tal Deus concedeu! 

«Mais um Anjo no sólio Lusitano! 

«Mais uma Flor là%os jardins do ceo!» — 

M. Pinheiro Chagas. 



BEM-VINDA! 



Bem-vinda ao' nosso Tejo, ó triumphal bandeira! 
iris da bella Itália! astro de muita esp'rança! 
segues do nosso Rei a Augusta companheira! 
Dissipe-se a tormenta aos rizos da bonança! 

Emfim respire a greyt levante um hymno em coro, 
de bênçãos, d'alegria, apoz o immenso lueto. 
Aos pés do throno em gala, inverta em rizo o choro 
inteiro o coração! É justo esse tributo. 

Tu não sabes, Rainha?... O peito era opprimido, 
d'anciar por esta pátria, a quem queremos tanto! 
Ao ver chegar, tão só, pallido, compungido, 
o Rei junto do throno, a desfarçar seu pranto, 



— 100 — 

pedimos muito t muito! ao Martyr do Calvário 
que lhe arrancasse da alma essa amargura infinda! 
Foi Deus que Tc mandou, Pomba do Sanctuario ! ! 
Yens consolál-o emfim ! . . . Bem-vinda ! oh ! sê bem-vinda ! 



-^ 



Se no teu berço augusto a paz é combatida, 
se os hórridos volcões tem flammas na cratera, 
a causa do opprimido,* a Deus é commettida ! 
Confia no Juiz, acalma a dor,— espera! 

A vasta nau da Itália abriu todas as velas 
sem medo ao pego fundo e ao turbilhão que freme. 
Tem, a mostrar-lhe o porto, ou iris ou estrellas; 
a liberdade á proa! a lealdade ao leme! 

E se inda irado mar em torno ao teu palácio 
brama aos duros tufões da Áustria e d'Aspromonte, 
em breve um sopro do Alto ha-de limpar do Lacio 
a escuma da tormenta, as nuvens do horisonte! 

£ Tu no entanto a nós, ó Pomba Espavorida, 
acolhe-Te, da paz formosa mensageira! 
na arca de nosso peito has-de encontrar guarida; 
nos braços d'este povo... os ramos da oliveira! 

Terás na Lusa praia as ribas italianas; 

sollo que diz: — fartura;— e ceo que diz:— bonança; 

searas da Cicilia; auras napolitanas; 

e flores da Saboya em prados de Bragança! 



— 101 

Terás do povo o amor, que Te foi dado inteiro, 
mal que a paterna mão de nós te confiara; 
o braço, o coração de D. Luiz Primeiro, 
e as bênçãos que Te guarda o Martyr de No vara. 



Senhora I pois que vens a semear venturas, 
no campo que inda enxuga os prantos da saudade, 
Bainha! ajuda o Rei a ter-nos bem seguras, 
a paz, a independência, a honra, a liberdade! 

£ nós, cheios de amor e d'alegria infinda, 
iremos supplicar ao Martyr do Calvário 
haja de transformar Á que nos foi bem-vinda, 
a pátria, num altar; o sólio, num sacrário) 

Thomaz Ribeiro. 



SONETTO 



«Viva Savoia» risonar si udio, 
settc secoli son, dal Duero ai Tago, 
quando á Mafalda, di bei nodi vago, 
il primo Affonso il core e un Trono offrio. 

Sulle spondc di questo c di quel rio 
desta Maria, d'ogni virtude imago, 
plauso maggiore, or che contento e pago 
Lisia ravvisa il pubblico desio. 

Di Luigi la Sposa ai Tago in riva 
eccola giunta ormai... Danzc c carole 
sciolgonsi ovunque, cd echegianti cvvival 

Col diadema regai mirti e viole 
intrecciate miriamo... Itália viva! 
evviva, evviva la Sabaudea Prole t 



FRAMMENTI D'UNA CANTATA 



(Questa Cantata dovea eseguirsi ai Régio Teatro S. Cario la será che ve- 
» nisse onorato delia prosenza dclle LL. AA» Macstá; ma per insormon- 
tabili difflcoltá verme rimandata la sua rappresentazione ad altra fausta 
occorrenza.) 



CORO 

Forte, temuta; e bella 
Quale romita stella 
Eri mia Lisia un dí; 

Fiorivi, ed il tuo core 
Tale chiudea valore 
Che mai noa fii cosi. 

Dch sorgi; e nel passato 
Yedi il futuro fato 
Ché il spirito non muor; 

Ma piii rinasce baldo 
Se per la pátria caldo 
Amor si nutre in cor. 



— 104 



II Génio delia Lusitânia 

Ben grato, o Dive, c il ricordarsi altero 
Dei giorni che giá fur, giorni di gloria, 
E rincorarsi nelli fasti aviti. 
Ma il passato non é d'invidia oggetto 
A chi nella presente etade alPaura 
Yive dei Grande Luigi, certa spcne 
Di gloria antica e di presente bene. 
Perche vaga splende in cielo 

Una stella oltre 1'usato? 

Perche il raggio suo infocato 

Palpitar fa piú d'un cor? 
Ma d'un palpito represso 

Che provar fá a un tempo istesso 

Gáudio, amor, speme e timor? 
Queila stella, quel fulgore, 

Fisso, o Lisia, ha il tuo destino; 

E predice un dí vicino, 

Giusto premio ai tuo valor, 
Fia quel dí giorno di gloria, 

Fia dei senno la vittoria, 

Di Braganza fia Tonor. 

CORO E BALLABILE 

Tempriam le cetere; 
Spargiamo ai venti 
D'amore e giubilo 



—105 — 

Dolci concenti: 

Dovuto omaggio 

Si porga ai Ré. 
Tuoi dí celebrinsi 

Per lunga etade, 

Felici varchino 

Rosec contrade; 

Tuo cor magnânimo 

Sia guida a te. 
NelPalme susciti 

Conforto e spcne; 

Da te il tuo popòlo 

Spera ogni bene, 

Tuo nome é oroscopo 

Di gran splendor. 
L'etadç tenera 

Di scienza onusta, 

Che il senno accoppia 

D'etá vetusta, 

La luce accrescere 

Fá ai tuo fulgor. 
Tue gesta attendono 

Calliope e Clie; 

Sarai la gloria 

Del suol natio, 

Tu nome ai posteri 

D 'amor sara. 
Don Luigi accrescere 

Chi puó tua fama? 

Del Rege il modulo 



— 106 — 

Giá ognun ti chiama; 
Suir ali ai secoli 
Tuo nome andrá. 

SCENÀ II 

IA FAMA £ DETTI 

Fama 

Spirti di Lusitânia, a voi che in petto 
La prisca avete ancor virtú latina 
Grata novclla arreco. 
,Lá deirAusonio suol, terra d'eroi, 
II popolo con ira giusta e santa 
Scuotc un autico giogo, c di fortuna 
Menda il capriccio col valor dei braccio. 
Tal veggonsi d'eroici fatti escmpli 
Che la lontana etade altri non veda 
E questi che vcdiam forse non creda. 

Génio Lusitano 

Che mai ne dici tu? 

Fama 

Taci e ni'ascolta. 

Giacòva Fltalia — dalPirc dei fato 
Lanciata in catene — che mai non mcrtó; 



— 107 — 

Ma il prisco valore — il braccio fatato 
Trá despoti e schiavi — possente serbó. 

E un dí rammentando — la pátria degli avi 
II brando temuto — di nuovo impugno; 
E sorse sclamando — che terra di schiavi 
Chi vinse giá il mondo — giammai si chiamó. 

Alloça Vittorio — lo scettro gcttando, 
I prodi alie pugne — ai trionfo guidó, 
E Regi stranieri — e squadre fuggando 
E libera e unita — 1'Italia formo. 



CORO 



Sia gloria a Vittorio — che scettro e corona 
E spada c persona — a Itália dopo. 



SCEiNA 111 

IL GÉNIO d'iTALIA 

Eccomi giunto in Lusitânia! Oh terra 

Sacro cener di prodi, io ti saluto! 

Bello c ridente é il suolo tuo che ua riso 

Par dclPEtcrno, e ove germoglian tante 

Di sublimi virtú inclite gesta. 

Oh come all'cco dei valore antico 

Tu grande, tu magnânima rispondi 

Col senno, col pensicr che in pace effondií 



— 108 — 

Bello 6 il tuo ciclo, o Lisia, 
Son forti i figli tuoi; 
Superba andar ne puoi 
Lo dice Itália a te. 

Non arrestare il passo 
Varca il segnato calle, 
Mai non discese a vallc 
Chi volse ad alto il pie. 



TUTTI 

Coppia Eletta ascendi ai soglio 
Degli Augusti tuoi maggiori, 
E per te di nuovi allori 
Lusitânia avrá fulgor. 

Regai serto il crin ti cinge 
D'una stirpe ognor famosa, 
Ma corona piíi gloriosa 
Hai dei popol neiramor. 



G. P. Bianchi. 



i SALVE, REGIA BELDAD! 



I Ya sois de Portugal ! Ya vuestra frente 
los rayos de su cielo esplendoroso 
iluminan, y alhagan dulcemente 
de las auras el beso carinoso. 

Excelsa, pura, cândida y lozana 
dei Tajo vais á ser la flor mas bella; 
Lísia para acogeros se engalana 
y de jazmines cubre vuestra huella. 



—110— 

jOh cuanto bienhadada si cl futuro 
la memoria os guárdare de qjtc dial 
Estrangero cantor, ai pueblo auguro 
cn vos la nueva luz que Dios lc envia. 

ídolo ya dei Lusitano suelo, 
mitad dei alma de su Re/ amante, 
vais á calmar tan generoso anhelo 
cuando la fama vuestra gloria cante. 

El lloro que enjugueis, perla divina 
será de vuestra fúlgida diadema, 
cifra veraz que ostente peregrina 
tan dulce nombre, de bondad emblema. 

El sin ventura huérfano; el anciano, 
la víuda llorosa, desvalida, 
Tendran alivio en vuestra nívea mano, 
recompensa feliz de esta acogida. 



Salud, Régia Beldad! cual rúbia aurora 
descollando entre nácares serena 
de esperanzas el ânimo atesora, 
tal asomais de mil encantos llena. 

Que las flores os dén su puro aliento, 
las auras sus mas gráciles suspiros, 
cl avecilla con su vário acento 
"Vinil arrullos de amor en dulces giros. 



—111 — 

Y ai deponer colmado de alegria, 

bardo sin noiabre, esta humildosa ofrcnda 

no desecheis su débil armonia, 

pues de lá vóz dei corazon es prenda. 

Luís Brkton y Yedra.