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ARTES SCILNTIA VERITAS
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COROA POÉTICA
NO CONSORCIO
DE
• SUAS MAGESTADES FIDELÍSSIMAS
O SENHOR REI D. LUIZ
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A SENHORA RAINHA D. NAR1A DE SAROY A
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COLLABORADOBES
António F. de Castilho.— A. S. Cabedo. — Camillo Castello Branco.— E. A. Vidal.—
Eusébio Asquerino. — Gaeteno Frascarelli. — Jacinto Augusto de SanfAnna e Vasconcel-
los. — José Maria Latino Coelho.— J. P. Bianchi.— José Ramos Coelho.— José da Silva
Mendes Leal— Júlio de Castilho. — ** L — Luiz Augusto Palmeirim.— Luiz Augusto
Rebello da Silva.— Manuel Pinheiro.— Thomaz Ribeiro.— Luiz Breton y Vedra.
LISBOA
SOCIEDADE TYPOGItAriIICÀ FIl AXCO-PORTUG UE Z A
G, Rua do Thcsouro Velho, C.
1862
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ESTABELECIMENTO TYPOGRAPHICO
t, 1m d» Thesoiri Ttlho, «,
Administrado por Françoia Lallemant.
Lisboa,
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A SUAS MAGESTADES FIDELÍSSIMAS
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A SENHORA RAINHA DONA MARIA OE SABOYA
NO
SEU AUSPICIOSO CONSORCIO
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Offerece reverente
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SUÀ MAGESTADE EL-REI O SENHOR D. LUIZ I
As paginas do livro de um novo reinado dicta-as a provi-
dencia, e escreveras o futuro. O Princepe, que hoje está sen-
tado debaixo do sólio de D. Maria n e de D. Pedro v antes
de cingir a coroa aprendeu o officio de rei com os trabalhos
de homem. Grandes exemplos e grandes virtudes rodearam o
seu berço, instruíram a sua infância, e robusteceram a sua
adolescência. Ás portas de ouro da juventude, ao lado da es-
perança, que o chamava coroada de flores e com o riso nos
lábios, aguardavam-n'o também a dôr e as lagrimas. Subio os
degraus do throno cuberto de luto, e calcando espinhos, e cus-
tou-lhe mais prantos o esplendor do diadema, do que remor-
sos e crimes custa muitas vezes á ambição a idéa da suspi-
rada grandesa, que a deslumbra.
A aurora da época, que ha de abrir, apenas rompeu hontem.
4
Os goivos e as perpetuas entroncaram-se com as pérolas e os
diamantes do manto real. O nome do rei profere-o o povo com
I
% -8-
o mesmo amor, com que dizia o do soberano querido, que le-
vou nos braços a descançar [de seis annos de magoas e fa-
digas, ao lado de sua mãe e de seu avô, debaixo das abobe-
das de S. Vicente de Fora. O senhor D. Luiz i em todos os
passos adiantados desde que empunhou o sceptro, nunca des-
mentío as promessas do seu coração, os brios do seu nasci-
mento, ou a escrupulosa lealdade da sua palavra de Príncipe e
de primeiro cidadão portuguez. Religioso observador do seu
juramento, e herdeiro dos nobres commettimentos do seu an-
tecessor, edifica a sua gloria no monumento, das gloriosas tra-
dições, de que não sabe apartar-se, porque firmam entre nós
as bases da monarchia no solido alicerce do affecto popular.
A Senhora D. Maria 11, como a grande imperatriz Maria The-
reza d'Austria, não foi só uma Rainha notável pelas prendas
varonis; foi mais; foi mãe inimitável, educadora zelosa, e mo-
dêlo constante das perfeições, que possuio o raro segredo .de
incutir no tenro animo de uma geração abençoada.
Quando a morte chegou, não esperada, e veio cerrar-lhe os
olhos; quando o sceptro lhe escapou das mãos; aquella nobre
alma ao desprender-se do mundo, quando relanciava sobre os
que ia deixar uma derradeira vista de infinito amor, pôde ele-
var-se ao seio da immortalidade com a sublime confiança, de
que o maior e mais durável padrão de sua memoria, que legava,
eram as qualidades do caracter e do espirito, o culto da honra
e do dever, a religião da liberdade, e a entranhavel affeição
pela terra natal, que a sua desvelada ternura soubera gravar
no peito de tantos filhos, creando-os como homens para não es-
tranharem os trabalhos da vida, e educando-os, como cidadãos,
para depois, rei e infantes, fazerem sobresahir a purpura com
o esplendor das virtudes pessoaes.
E esta hcrjmça, mais preciosa cem vezes, do que a própria
coroa, torna os nossos príncipes tão queridos dos súbditos,
quanto os súbditos sabem que são amados (Telles. Suave e gran-
diosa recompensa, que de certo não alcançam, por mais que ce-
guem, as pompas da realeza orgulhosa, os trophéos de admi-
radas victorias, ou os brazões de" opulentas conquistas.
A dynastia de Aviz, firmada, como a actual, pela espada de
um Rei soldado, realçou do mesmo modo a sua gloriosa ori-
gem. Os filhos de D. João i e de D. Filippa de Lencastre sem-
pre foram os primeiros na corte de seus pães, não só pelo nas-
cimeijto, mas porque ninguém os excedeu e poucos se lhes po-
deram comparar como cavalleiros no primor das armas, ou co-
mo esclarecidos cultores das sciencias, das lettras, e das artes,
engenho e no ardor do estudo.
Quiz a providencia, que o ditoso fado d'esta heróica raça
se repetisse em nossos dias na família da Senhora D. Maria u.
Nenhum dos irmãos do Senhor D. Pedro v desmentio as espe-
ranças da sua educação; nenhum deixou em todos os lances
da sua vida de corresponder ao que requeriam de seus brios
a nobresa do sangue e a nobresa dos sentimentos. Por isso no
meio do terror e desalento das trágicas sccnas da epidemia,
que assolou a capital, nós contemplámos o herdeiro da Rainha,
aprendendo como D. Duarte nas lições do infortúnio o que
elle com rasão chamava o doloroso officio de reinar; offerecen-
do-se todos os dias sem ostentação em holocausto á fúria do
flagello; e encarando a cada momento a morte com a mais se-
rena intrepidez. A cidade inteira tremia consternada por si e
por elle entre lutos, gemidos e amarguras!
Dominado pelo mesmo austero principio vimol-o depois en-
xugar á purpura as lagrimas de homem, e sentindo despede-
-10—
çar-se-lhc o peito, que já tinhanf retalhado tantas magoas, \i-
mol-o levantar-se, Rei e christão, de junto do sepulchro da es-
posa, e volver obreiro incansável com o luto da viuvez estam-
pado no rosto ás fadigas e cuidados do poder. Os espinhos da
coroa pungiam-o tanto mais n'essa hora, quanto lhe avivavam a
cada instante a recordação inconsolável (Taquelle anjo, que só
lhe fora dado por momentos contemplar ao seu lado, e que es-
pirito já do céo lhe voara dos braços para o ir esperar aos
pés do throno de Deus!
Todos os netos do imperador sahiram dignos do glorioso
fundador da dynastia. Ligados pelo estreito vinculo do mais
carinhoso affecto, e como que não formando todos senão uma só
alma, sempre compozeram uma família tão unida, tão intima,
c tão igual nas prendas e sentimentos, que nunca nem a leve
sombra de momentâneo dissabor veiu empanar o brilho da es-
tremosa amisade, que os fez viver a mesma vida, e que, por
ardente e arrebatada converteu para dois d'elles, Rei e In-
fante, a dôr e a saudade em funestas percursoras da mesma
morte.
Desde que abrio os olhos, o Senhor D. Luiz i nunca obser-
vou outros exemplos, nem seguio outros preceitos. As adula-
ções, cujo incenso tem offuscado tantos monarchas nas desampa-
radas eminências do poder, nunca acharam entrada nos paços
de sua mãe, nem no seu animo, ou no de seus irmãos. A jac-
tanciosa ignorância de reputar ainda hoje o estudo e o traba-
lho como desdouro nunca lhe mereceu senão despreso. Con-
vencido de que os titulos adquiridos enobrecem tanto, ou mais
que os herdados, buscou na applicação aos livros e no exercí-
cio da profissão, que* abraçara, uma honrosa carreira, e mais
v/na ilustração pessoal. Sabendo quanto o sangue nobre obriga,
-11-
cmpenhou desde a mais tenra juventude todos os esforços
para sobredourar o seu berço com as palmas de navegador e
os louros de soldado.
A educação do Rei actual, assim como a de todos os filhos
da Senhora D. Maria ir, foi esmerada e completa. As línguas
vivas, $s linguas mortas, as disciplinas, que os nossos antigos
denominavam humanidades, e as seiencias mathematicas, ensi-
nadas por mestres não só diligentes e zelosos, mas competen-
tíssimos, e honrosamente abonados pelos seus escriptos, oceu-
param a assiduidade e a fácil penetração do Infante. A natu-
ral propensão inclinava-o sobre tudo para algumas d'ellas, em
que se distinguio com justificado louvor.
O desenho, a musica, a esgrima, e a gymnastica, aprendi-
das como recreação dos estudos mais austeros, não acharam
menos disposta a sua indole para acolher e aproveitar o que
as boas artes promettem a quem sabe estimal-as, c consegue
familiarisar-se com ellas.
Nascido em 31 de outubro de 1838, um anno depois do se-
nhor D. Pedro v, e obedecendo á vocação precoce, assentou
praça na armada aos oito annos de idade, e foi nomeado guarda
marinha em 9 de outubro de 1846. Promovido ao posto de se-
gundo tenente em 19 de maio de 1851, ao de capitão tenente
em 29 de outubro de 1854, e ao de capitão de fragata em 24
de março de 1858, encetou còm menos de vinte annos a vida
do mar, assumindo em 12 de setembro de 1857 o commando de
brigue Pedro Nunes, e cruzando na costa de Portugal desde o
dia 18 de janeiro do seguinte anno, sujeito em tudo como sim-
ples official ás obrigações e á responsabilidade do serviço naval.
Desde então as viagens seguiram-se umas ás outras, e os
largos horisontes da carreira, que preferira, começaram a dir
— 12 —
latar-se diante da vista do mancebo, que tão grandes memo-
rias convidavam a presar como primeiras armas do seu enthu-
siasmo juvenil as solitárias conversações de um espirito dese-
joso .de grandes coisas com a solidão das aguas, com o culto
heróico das epochas ,mais notáveis da nossa historia, e com
os sonhos de ousada ambição, que nenhuma poesia inspira e
eleva tanto, como a que brota nas vigílias do convez do espe-
ctáculo da immensidade das aguas, guando a noite, o silencio,
e até as estrellas do céo faliam do passado, e em uma alma
nova redobram sobre tudo a saudade do vasto império, que a
victoria nos ganhou, e que os infortúnios e os tempos nos fi-
zeram perder.
Nomeado còmmandante da curveta Bartholomeu Dias em 12
de junho de 1858, querendo justificar a escolha de El-rei seu
irmão, apenas respirava alguns dias no seio da familia e nos
braços dos que tanto estremecia, tornava logo depois ás fadi-
gas e navegações, cada »vez mais desejoso de visitar novos
climas e de se medir com maiores trabalhos.
Em outubro de 1858 vio a Madeira e os Açores. Em abril
de 1858 entrou pela primeira vez os portos de Inglaterra.
Em li de maio do mesmo anno repetio á jornada, conduzindo
a seu bordo Sua Alteza a Senhora D. Maria Ànna e o prínci-
pe Jorge, seu esposo.
No mez de setembro de 1859, sendo já capitão de mar e
guerra desde 9 de março, verificou a sua viagem a Tanger, nos
Estados Barbarescos, para com a presença do Senhor Infante e
com a valiosa protecção da bandeira portugueza se assegurar
melhor o respeito dos direitos e interesses dos nossos súbditos
residentes nas terras marroquinas. Se a brevidade, porém, nos
obriga a abstermo-nos de traça* a descripção d*estas escur-
— 13 —
soes, e especialmente da ultima, tão curiosa e. instructiva
sobre tudo para portuguezes, seja-nos licito dar ao menos
uma succinta idéa do modo porque em Angola foi recebido o
Senhor D. Luiz, em agosto de 1860.
Clamam tão alto por nós as possessões ultramarinas, ricas
por si mesmas, abençoadas de todos os benefícios, que a pro-
videncia a poucas liberalisou com mãos tão largas, que a nosso
vêr seria reprehensivel omissão deixarmos de commemorar os
júbilos, que dispertou a presença do infante, e que, segundo
esperámos, o seu reinado confirmará, estendendo o braço va-
ledor áquellas remotas regiões, que suspiram por quem saiba
conhecel-as, e possa ajudal-as.
A curveta Bartholomeu Dias aportou a Loanda com vinte e
nove dias de bonançosa navegação. Á noticia da sua chegada
e do real hospede, que ia receber, a cidade, mudada a tristesa
usual nas gallas e festejos da mais sincera alegria, pôde dizcr-
se que toda acudiu ao cães e logares visinhos, inquieta e an-
ciosa por ver o primeiro Príncipe portuguez, que vinha de tão
longe trazer-lhe a promessa de mais felizes dias.
§
Fecharam-se as repartições, embandeiraram-se espontanea-
mente os navios nacionaes de guerra, e os mercantes, e com
elles embandeirou-se também a curveta franceza La Recher-
che, que não quiz desmentir a cortezia do seu pavilhão em
occasião de regosijo tão geral. O Senhor D. Luiz saltou em
terra is nove horas da manhã do dia 9 de setembro no meio
do cortejo formado pelo- conselho do governo, camará munici-
pal, corpo consular, corpo do commercio, empregados civis e
militares, e por todos os cidadãos distinctos.
No rosto juvenil do Infante, tão parecido nas feições e na
expressão da physionomia a sua mãe, a rainha D. Maria, luc-
—li—
I
tâvam os encontrados aflectos provocados pela novidade da sce-
na: e dos logares, pela lembrança' de tantas grandezas deca-
»
hidas, e pelo legitimo orgulho, de se julgar talvez fadado a
reparal-as, continuando na aventurosa carreira, que mal podia
prever então, que cedo havia de encerrar-se para elle depois
d'estas risonhas premiças.
A voz das multidões, repetindo por muito tempo e acclaman- '
do o nome do Príncipe, e os cordeaes emboras devidos á sua
vinda, uniam-se ao estallar das numerosas girandolas, que su-
biam aôs ares, e annunciavam, que o irmão do Rei de Portu-
gal, o descendente de D. João n, de D. Manuel e de D. João iv,
acabava de pizar aquellas praias, em que mãos victoriosas ti-
nham erguido um dos grandiosos padrões de nossas glorias na-
vaes. As casas e varandas, que olhavam para as ruas, por
onde havia de passar o préstito, armadas de colchas de seda,
e de estandartes, que a brisa agitava lentamente, matisavam
o quadro com a variedade de suas cores, e os adornos tra-
jados pelas damas, que n'este dia povoavam as janellas, de
ordinário quasi sempre desertas, não attrahiam menos a curio-
sidade e os applausos.
Offerecidas as chaves da cidade, e depositadas pela camará
municipal nas mãos do infante, depois de uma breve allocu-
ção, que Elle agradeceu em concisas e urbanas pUrazes, ô Se-
nhor D. Luiz encaminhou-sc debaixo do pallio á igreja cathe-
dral. Ás portas do templo estava-o aguardando o vigário ca-
pitular, rodeado do cabido e da collegiada com a cruz alçada.
Cumprida a cerimonia religiosa, e osculado o devoto cruxifixo
sobre a sua almofada de veludo, o luzido cortejo entrou na Sé,
aonde assistio á missa solemne, e ao Te-Deum cantado em ar-
pão de graças pela feliz chegada do Príncipe portuguez.
-18-
Terminadas as funcções do culto, o Senhor D. Luiz, a, ca- •
vallo, levando ao seu lado o governador geral, e seguido, do
chefe e dos officiaes do estado maior, e de uma força de cavai-
laria, dirigiu-se ao palácio do governo, aonde ao meio dia se
/ verificou a recepção official. O Infante, cujo agrado captivára
as vontades, desde que se achava no centro d'aquella popula-
ção tão leal e fervorosa no affecto, respondendo ao discurso
recitado pelo presidente da camará em nome do município de
Loanda e dos habitantes da província, coroou a conquista de
todos os que o rodeavam com a prudência e descernimento da
sua replica, na qual, inculcando as necessidades publicas da
localidade, assegurou aos vereadores, e aos moradores em ge-
ral, que nunca se esqueceria d'este dia, um dos mais bellos
da sua vida, nem da promessa que lhes affiançavà de sempre
se lembrar de uma terra, que só carecia da protecção e vi-
gilância da metrópole para competir com as mais invejadas
colónias na riqueza do commercio e prosperidade da cultura.
As cinco^ horas da tarde, ao levantar-se da mesa, onde lhe
fora servido um sumptuoso refresco, a benignidade da tempe-
ratura determinou o Príncipe a não demorar para outra occa-
sião a sua visita ao hospital da mizericordia, do qual também
faz parte o hospital militar, e seguido dos funccionarios e das
pessoas, que o estavam acompanhando^ para lá se encaminhou
a pé. Entrando nas enfermarias, e nas diversas officinas, em
todas manifestou a piedade do seu coração, e o vivo desejo,
de que o estabelecimento podesse corresponder aos fins da ins-
tituição.
Regressando ao palácio, e tornando a montar a cavallo, des-
ceu á cidade baixa, e apeou-se á porta do Recolhimento Pio
de D. Pedro V, que percorreu com a mesma attenção benévola
-16-
• e esclarecida. Por fim desceu ao cães, é ahi se despedio do
conselho do governo, da camará, e das auctoridades, que nãó
se separaram, senão quando o viram metter no escaler para
- se recolher ao seu navio.
Um generoso brinde logo no seguinte dia veio avivar a gra-
ta presença do hospede, que Loanda festejava com tanto amor.
O Senhor D. Luiz offereceu sessenta libras sterlinas para serem
distribuídas pelos presos pobres e pelas instituições de caridade.
Foi a sua despedida aos infortrçnios e padecimentos, qtle a vista
do irmão de El-rei começara a suavisar, e que, humano por
indole e educação, não pôde contemplar sem se condoer pro-
fundamente.
Pouco tempo podia conceder a esta escursão tão digna de
um Príncipe navegador, e tão útil em si mesma como testimu-
nho e penhor do affectuoso cuidado, que a província de Angola
deve ^nerecer ao governo portuguez. Quiz ao menos aprovei-
tal-o; e, cortando pelas próprias commodidades, ainda mal re-
pousado das fadigas da viagem para affrontar os ardores do
clima, voltou ' de novo a terra, quasi incógnito, e prohibindo
qualquer ostentação, satisfez o intento de ver pelos seus olhos
os quartéis militares e a fortaleza de S. Miguel. Encontrou em
quasi todos estragos* desamparo, e pobreza 1 A melancolia do
semblante, mais ainda do que a das palavras, attestou o pesar
que lhe causara o espectáculo d'esta profunda decadência. Os
males, filhos de antigas omissões, e mais ainda dos aconteci-
mentos, do que do erro de ministros e empregados, agravaram-
se, como acontece sempre com os annos e as calamidades, e hoje,
mais do que nunca, o dilema urge e aperta por uma solução.
«Ser, ou não ser!» eis a única e concisa significação de
uma ruina, a que não podemos deixar de acudir sem arriscar
—17-
a integridade (Taquelle extenso solo, tantas vezes regado do
sangue portuguez, as tradições da nossa bandeira, alçada n'a-
qucllas ameias, que se estão desmoronando, e as grandezas,
não phantasiadas, mas realisaveis, que a rainha da Africa Occi-
dental affiança a quem não lhe adormecer ao lado, ou des-
crente e fatigado, não desamparar por impossível a empreza
de a enriquecermos, engrandecendo-nos egualmente a nós pelos
fructos da industria e da civili sacão.
No dia li de setembro disse o Senhor D. Luiz o ultimo adeus
à cidade de Loanda, e ás três horas da tarde a curveta Bar-
tholomeu Dias picava as amarras, e principiava a sua navega-
ção para a pátria no meio das salvas das fortalezas e navios
de guerra nacionaes e estrangeiros, e da viva saudade dos ha-
bitantes, que seguiam com os olhos húmidos aquelle navio,
que levava para tão longe o Príncipe, que tinham visto surgir
4
. no seu porto como uma esperança radiosa, e que se recolhia
agora, coberto de bênçãos, para ser no reino o protector dos
grandes interesses, que supplicavam desvalidos que lhes acu-
disse uma poderosa mão, que soubesse dirigil-os e ajudal-os.
Os annos de 1860 e 1861, depois da viagem de Angola, não
foram menos activos para o Príncipe. A vocação impellia-o ; a
vida da corte era para elle apenas como uma pausa, como um
momento dado ás affeições da alma e ás alegrias da família
entre duas fadigas. Quasi sempre embarcado, e sempre devo-
rado da impaciência de arar de novo o Oceano, e de aprender,
(mal imaginava que a reinar!) no livro mais instructivo de
todos, o dos costumes, artes, e politica das nações estranhas,
vemol-o em^abril de 1861 voltar á Madeira e a Gibraltar, em
agosto voar a Southampton para conduzir o príncipe Leopoldo,
promettido esposo de sua formosa irmã a Senhora Infanta
\
—18—
D. Antónia, em setembro sair ao encontro de El-rei o Senhor
D. Pedro, que yoltava da sua visita á exposição industrial do
Porto, ultimo acto dos seus trabalhos de Rei, e finalmente em
18 de setembro reconduzir os consortes, depois das festas e ju-
bilos de um matrimonio auspicioso, desferindo as vellas para
Anvers, depois de apertar nos braços, cuidando ser por dias, (!)
o estremoso irmão, que para adoçar as tristezas do apartamento
ia emprehender a fatal jornada, d'onde trouxe no seio talvez
escondida a morte.
N'esta viagem, que havia de ser a sua ultima navegação de
Infante, a fortuna pareceu como que empenhada em lhe escon-
der entre sorrisos a adversidade, que nas trevas erguia a mão
pesada de luto contra o paço de nossos reis. Ao lado da Prin-
ceza, tão meiga e gentil, tão saudosa doe seus e da pátria, sen-
tindo escorregar veloz pela face das aguas a sua bella curveta,
e vendo desapparecer a pouco e pouco na distancia as costas
de Portugal, quem ousaria prophetisar áo Infante, que tão cedo
esperavam por elle uma coroa e as prisões da realeza em vez
da liberdade do seu navio, da isempção de viajante, e da activa
e aproveitada existência, que desde a flor da juventude lhe te-
cera dias Jão serenos e suaves?
Acompanha va-o o Senhor Infante D. João, e ambos se acha-
vam na corte do imperador dos francezes, participando da ale-
gria dos festejos de Compiegne, quando um telegramma expe-
dido pelo ministro dos negócios estrangeiros ao visconde de
Paiva veio ferir os dois repentinamente. Era a noticia da morte
do Senhor Infante D. Fernando. Era a primeira data fúnebre,
que abria a funesta serie de calamidades, que tornaram tris-
temente memorável o anno de 1861. O despacho enviado aos
Príncipes passou primeiro pelas mãos de Luiz Napoleão, e este,
\
-19 —
commovido, procurou predisplôl-os para o golpe que iam rece-
ber, sem com tudo lhes revellar toda a verdade. Só em Paris
é que souberam que tinham de menos seu irmão o Senhor
Infante D. Fernando.
Embarcando-se á pressa em Southampton a bordo do vapor
Oneida, os dois infantes, repartido o coração entre a dor e
as vivas apprehensões, que lhes suscitava o caracter de El-
rei D. Pedro, contavam as horas com a impaciência e afflic-
ção de quem sente o coração adevinhar-lhe maiores desgra-
ças, e não pôde correr adiante do perigo, nem ao menos
consolar-se com a idéa do sacrifício. Quatro dias e meio du-
rou a navegação do paquete, e com ella o martyrio que pade-
ceram. N'este curto espaço quantas lagrimas, quantos presen-
timentos cruéis ! 'Que sombrios os esperavam a cidade e o rei-
no ! As bandeiras funebremente arriadas a meia hastea, as bo*
cas dos canhões inflammando-se de intervallo em intervallo, e
soltando os gemidos lúgubres do bronze, e o ar melancólico,-
que parecia vestir de luto as fortalezas e todos os objectos,
deram aos dois viajantes o primeiro annuncio de immensa
perda, que tinham de chorar.
O vapor entrou a barra sobre a madrugada do dia 14 de
Novembro, e ás sete horas da manhã o Senhor D. Luiz e o
Senhor D. João desembarcavam no cães de Belém. Um nume-
roso concurso de povo, mudo e enternecido, viu atravessar os
príncipes consternados, e inclinando-se diante d'aquella dor,
correspondeu ás suas lagrimas com o silencio e o pranto, glo-
rioso epitaphio que poucos reis alcançam, quando baixam do
throno e entram no sepulchro.
Uma palavra só, o tratamento de magestade dado ao Infante
pelo presidente do conselho de ministros, marquez de Loulé ^
— 20 —
rasgou o véo logo a bordo, justificando o doloroso presenti-
mento do coração do Senhor D. Luiz. Ainda lhe restava de-
pois de cingir o diadema, e de opprimir os hombros com a
purpura real, exgotar as ultimas e amargosas pheses do cálix,
que a providencia lhe destinava.
O amigo da sua infância, o irmão da sua alma e do seu af-,
fecto, o confidente e companheiro d'aquelles quatro dias de
anciedade agonisados no mar, o Senhor Infante D. João ha-
via de ser a ultima victima da fatal enfermidade, que de tão
viçosa dynastia somente poupou dois Prinéipes, um ainda hoje
desfalecido da sua terrível lucta com a morte, o outro, apesar
de superior pelo sentimento do dever á fraqueza humana, accu-
sando na súbita palidez do semblante os tormentos, que a von-
tade firme consome comsigo, mas que nunca, por maior que
seja a magnanimidade do animo, emudecem de modo, que os
não denuncie uma lagrima furtiva, um suspiro, uma sombra
sobre o rosto, reflexos do tumulo, que de repente gelam o
sorriso, que os lábios principiavam a abrir, ou amortecem a
animação, em que a vista parece prometter, que a alma co-
meça a esquecer-se.
O tempo, supremo consolador dos grandes infortúnios, tam-
bém ha de sua visar estes, que raras vezes foram igualados. Á
dor aguda sobrevivirá a saudade, lenta e durável, em que revi-
ve a meiga e melancólica imagem dos que perdemos, e que nos
precederam para nos sorrir do empyreo, saudando a hora, em
que se acharam livres dos ferros do seu desterro. Os reis são
pastores de povos. Chamam por elles a um tempo tantas vo-
zes, tantos deveres, e tantas desgraças, que seria quasi um
delicto lembrarem-se mais das magoas domesticas, do que das
tristezas e misérias publicas»
— 21—
O Senhor D. Luiz i, apesar das prèoccupaçSes de uma exis-
tência tão activa e distrahida, como a que seguira desde a
infância, acostumou-se de mui cedo a empregar na lçitura,
tanto dos livros da sua profissão, de que possue uma copiosa
e escolhida collecção, eomo das obras poéticas de maior vulto
os curtos ócios, que lhe consentiam os deveres militares.
N ? esta parte, e em muitas outras, a vocação natural incli-
nava~o a apreciar os bons modelos, e a deleitar-se na sua
conversação, chegando a enlevar-se horçs inteiras arrebatado
pela admiração. Um notável exemplo d'esta prenda, que nos
príncipes tanto mais esmalta o caracter, quanto é menos fre-
quente, foi-nos communicado pelo nosso amigo o sr. António
Feliciaáo de Castilho, o mimoso cantor da solidão e da me-
lancolia, o primoroso traductor, ou mais exacto, o feliz com-
petidor de Ovidio, tão seu parente nas qualidades do engenho
e na mestria do metro.
Um dos filhos do nosso grande poeta, o sr. Augusto de Cas-
■
tilho, aspirante de marinha, o qual, sem até hoje ter aprovei-
tado o seu intimo commercio com as musas, as trata e estima
como quem sente em si o ardor da chamma divina, teve oc-
casião de observar o muito que ellas mereciam ao gosto deli-
cado do Príncipe. Era em agosto de 1860, e a curveta Bar-
tholomeu Dias, entranhava-se pelas solidões do Oceano, em de-
manda do porto de Angola. Constou ao Senhor D. Luiz, que
o novo aspirante, mancebo, e de uma familia em que os dons
da poesia quasi se herdam com o berço, embora não houvesse
produzido ainda os fructos, que a imaginação para bem pou-
cos amadurece logo na primeira juventude, possuia já comtudo
o precioso e entre nós raríssimo condão de sentir como ne-
nhum as bellezas do verso,, e de as incutir pelo ouvido na ai-
—22-
ma do seu auditório por meio de uma recitação tão affectuo-
sa, tão rica de todos os tons e cambiantes, que avivam a for-
ma do pensamento poético, que o trecho mais escolhido e ad-
mirado, passando pela sua voz parecia novo, ou outro, com
tanta verdade e singelesa o expressava,com tão poderosa arte
e tão insinuantes modulações sabia graduar-lhe as cores, e to-
car-lhe os traços !.
Os serões a bordo são monótonos/ e muitas vezes doe de
veras no coração do maritimo aquelle sonhar acordado por longo
espaço sempre com os olhos nas aguas, nas estrellas, e na im-
mensidade, de que o mar, envolto em silencio, e coberto dos
véos da noite, é a mais sublime imagem.
Em que se ha de pensar ali senão na grandeza de Deus, senão
na terra, nas suas illusões, e nas esperanças que de lá nos acenam,
abreviando as distancias, e carregando os sorrisos de promessas?
N'essas horas, pois, que a idade do infante, e a do moço of-
fiçiál tornavam ainda mais poéticas, o Senhor D. Luiz convi-
dava o aspirante para a sua camará, e varias vezes, embebi-
dos na leitura das paginas do auetor de Jocelyn, ou do cantor
das Folhas de Outono e das Odes e Bailadas, em quanto %
phantasia lhes voava extasiada, nenhum dos dois advertia a
rapidez, com que o tempo lhe fugia.
Quando as leituras se interrompiam por qualquer motivo,
passavam de ordinário á apreciação e comparação dos poetas,
e o Senhor Infante, discorrendo solto de preconceitos, c fora
da mais leve idéa de ostentação, desenvolvia n'estes colloquios,
não só um largo conhecimento dos principaes escriptores de
cada uma das línguas, que falia e escreve, mas o que ainda é
menos vulgar, grande discernimento c apurada critica em ex-
tremar o bom do mau, e o melhor do bom.
— 23-
A sua predilecção por Victor Hugo, o rei dos lyricos moder-
nos, cujos cantos ama e relê de modo que, segundo se affirma,
sabe de cór numerosos versos, confirma o juizo, que formam
do elevado engenho de El-Rei as pessoas, que de perto o avaliam.
Nada mais acrescentaremos. Hoje o Senhor D. Luiz é Rei,
e na vida dos reis encerra-se a historia dos povos.
Do Príncipe dissemos quanto bastava para se conhecer o que
elle foi como filho, como irmão, e como official do mar. Co-
meçou o seu reinado. Principiou a escrever nas folhas ainda em
branco a primeira lauda do seu reinado. Deixemos ao tempo a
missão de o commentar.
Depois de tantos infortúnios a Providencia mostrou compade-
cer-se, concedendo-nos annos de luz e serenidade. O novo So-
berano aprendeu a reinar mfmeio das lagrimas. ^ a severa,
mas necessária lição da realeza n'este século. Sem padecer e
chorar nunca se apreciaram bem os males alheios.
N'este momento tão suave para o seu coração, e tão festejado
pelos súbditos, El-Rei principia a encontrar a mais invejada
recompensa, que pôde satisfazer os virtuosos desejos de um
Soberano. A sua alegria é a nossa. O ditoso enlace, que lhe es-
tende os braços, as acclamações unanimes de duas nações, e
as flores e palmas, de que milhares de mãos lhe juncam os
caminhos, devem ter dito mais ao seu animo nobre e esclarecido,
do que cem annos de servil adulação, seguidos de silencio e
de indefferença depois do tumulo. Gloriosa continue a cingir-
lhe a fronte a coroa de D. Manoel e de D. Pedro iv ! Desdobre-se
e ondeie sempre sobre o seu throno, pacifico e prospero, a ban-
deira azul e branca, hasteada pela mão victoriosa de seu avô,
bandeira que symbolisa para nós em suas alegres cores a liberda-
de e os destinos da dynastia, que representa! Possa o Anjo,
— 24—
que vem sentar-se áo lado do Senhor D. Luiz e que une ás gra-
ças da gentileza as prendas do espirito e os dotes da alma,
nunca ter senão de enchugar as lagrimas do infortúnio conso-
lado pela sua ardente caridade 1
Dois povos irmãos, duas raças antigas de reis, duas nações
livres pelo heroísmo de suas armas abraçam-se, e repetem em
presença da Europa, que as applaude, a saudação sincera e cor-
deal dos velhos tempos.
Itália e Portugal, a pátria das letras e das artes, a pátria
dos grandes navegadores e dos grandes descobrimentos, tornam'
a apertar depois de largos séculos os primeiros vínculos, que
as uniram quasi ao sair do berço. ,
Dois vultos gigantes dos nossos dias, D. Pedro, Duque de
Bragança, e Carlos Alberto, o reiheroe, sombras históricas, que
nunca a saudade deixará esquecidas, assistem a esta hora ao gran-
de facto que a esperança nos abençoa. A epopeia, que um princi-
piou nos rochedos dá Terceira veiu encerral-a o outro, martyr
voluntário, no leito do soldado, leito escolhido entre os loiros
immortaes da cidade, que merece a primeira recordação na
historia de nossas luctas modernas.
Permitta Deus que o futuro confirme os vaticínios do pre-
sente, que nascida e retemperada pelo ar forte da liberdade
uma geração de príncipes, igual a esta que tanto nos conhece
e presa, e pela qual nós arriscámos, « arriscaremos tudo, per-
petue a tradição herdada de pães e avós, inscrevendo em nossos
annaes datas tão auspiciosas para o progresso e engrandeci-
mento de Portugal, como a que estamos registando agora.
Quando os príncipes são queridos o povo é para elles uma
segunda família. Não admira por isso, que o consorcio do Se-
nhor D. Luiz excite no peito dos que o amam o mesmo ea-
— 28 —
thusiasmo, que a Augusta Filha de Victor Manoel, a graciosa
Rainha dos portuguezes, deve a tantos milhões de italianos,
que a saudaram na despedida, formando ardentes votos pela
sua ventura. Os júbilos espontâneos e unanimes servem de pre-
mio aos bons, e de lição aos maus. Felizes os reis, que sempre
assim encontram os súbditos ao seu lado para os acompa-
nhar no luto e no rogosijo. Metade da sua historia não precisa
da posteridade para se gravar na memoria, porque principia
escrevendo no coração de dois grandes e heróicos povos as suas
primeiras paginas.
L. A. Rebeuo pa Silva.
SUA MAGESTADE A RAINHA
A SENHORA
D. MARIA DE SABOYA
t
\
I
Vão longe, felizmente, os tempos, em que os consórcios dos
príncipes muitas vezes eram regados de lagrimas pelos povos,
e não poucas até por elles mesmos. A razão de Estado, severa
e inflexível, á maneira do sombrio numen, que o paganismo
adorava acima de todos os deuses, já não invoca a ambição
como superior aos affectos da humanidade, desprezando e rom-
pendo os mais estreitos vínculos da natureza. Desde a sua au-
rora começou o século dezanove a descobrir menos carregados
horisontes. A sorte dos súbditos e a felicidade domestica dos
príncipes não se calcula, nem se decide, como outrora, longe do
coração e da verdade, correndo-se sobre ellas um véo espesso.
O exemplo da Senhora D. Maria de Sabyoa, esperança do
reino, que adoptou por sua pátria, orgulho e ufania da glo-
riosa terra, que deixa entre saudades, attesta o que dizemos,
— 28 —
No seu animo generoso entalhou uma esmerada educação, gra-
vando-as profundamente, as prendas e virtudes, que são como
o perfume divino da alma em flor.
Nascida em 16 de outubro de 1847 abriu os olhos no mo-
mento, em que, sujeita e prostrada a Itália, volvendo em si,
fitava os olhos na cathedra de S. Pedro, esperando que des-
cesse do Quirinal em línguas de fogo o verbo creador da sua
desejada unidade, rediviva, para se levantar do captiveiro, e,
reunidos em um só corpo os membros dispersos, soltar depois
da respeitada voz de Pio ix o grito, que tantas vezes fizera es-
tremecer de jubilo e de ardor guerreiro as suas opulentas ci-
dades, e as suas férteis campinas.,
N'esse tempo, não só a pátria das artes, mas a Europa in-
quieta, contemplava, quasi com terror, a claridade, ainda du-
vidosa, d'aquelles arreboes, que vinham despontando, não saben-
do se elles lhe anunciavam a esperança, ou novos dias de tem-
pestade. Ajoelhada nos templos, a liberdade aguardava entre
cânticos e nuvens de incenso a promessa do Yigario de Chris-
to; e os mais crédulos, ou os mais intrépidos, imaginavam ou-
vir já do alto do Vaticano a sublime palavra, que devia conti-
nuar na sociedade moderna a missão regeneradora do sacerdo-
cio, repetindo, accommodada aos tempos actuaes, a fecunda pro-
messa, com que do Golgótha Jesus conquistara o mundo, des-
pregando as mãos da cruz para com uma d'ellas nos guiar
pelo amor, e com a outra nos ensinar a igualdade.
Quando a Princeza mal ensaiava ainda os trémulos passos
da infância, tudo mudou, e repentinamente. O chão tremia com
o gallope despedido dos esquadrões, que se encontravam; o
trovão .das batalhas, depois de rolar ao longe entre acclama-
Ções, acercando-se mais e mais, annunciou por fim em Mor-
—29-
tara e Novara as exéquias da independência. O forno dos ca-
nhões e dos fuzis disparados, veiu cegar de súbito com uma
cortina fúnebre a vista do formoso sol, que allegrava os sorri-
sos innocentes da Filha de Victor Manoel. N'esses dias de desa-
lento e dor, a Itália, mãe de tantos heroes, depositária sober-
ba de tantas recordações, viu indignada os inimigos forjarem-
lhe novas algemas com o ferro das espadas!
Sobre o seu berço, orvalhado dos prantos de uma santa, a
Rainha sua mãe, e entristecido pelo luto de tantos revezes, a
Senhora D. Maria de Saboya na descuidada candidez infantil,
que torna tão ditosos os anjos da terra, mal podia divisar então
por entre sonhos o grande vulto de Carlos Alberto, que ainda
na véspera buscara a morte do soldado como digno remate da
empreza malograda. De certo não sentiu poisar-se-lhe na fron-
te o osculo ardente d'aquelles lábios, que . lhe diziam o adeus
final de uma nobre alma dilacerada, nem enthesoirou, como
talisman precioso, duas lagrimas, as derradeiras, que rebenta-
ram d'aquelle peito magnânimo, e que, furtando-se quasi en-
vergonhadas, caíram congeladas em pérolas sobre uma das mãos
da Princeza, sobre a que Deus já a essa hora tinha fadado para
unir os destinos de duas dynastias.
No dia seguinte, convertendo a cruz de Saboya em symbolo
do martyrio voluntário, a que se offerecêra, Carlos Alberto,
lançava a purpura sobre os hombros de seu filho, e deixando
a, coroa partida sobre o elmo de cavalleiro, vinha j>edir a Por-
tugal o repouso de alguns dias de silencio e meditação, e al-
guns punhados da sua terra mais heróica para .sepultar de
baixo d'ella, não a gloria do nome, porque esse ficou immor-
tal, mas o que havia de humano e frágil nos desastres, que o
precipitaram em poucas horas das eminências do throno para
— 30—
as tristezas do exílio. Caracter fundido de bronze antigo, resi-
gnou-se a expiar, elle só, os infortúnios do seu povo; e em quanto
cada dia, que se deslisava lento, lhe agravava uma das feridas
recentes, o futuro, em compensação, para o consolar, segreda-
va-lhe de longe como esperança vaga o que a fortuna por fim
realisou.
A espada da Itália, que elle não quiz render, nem trocar
por um diadema, ficou sobre o seu sepulcro, até bater a
hora. Quando doze annos depois as águias do segundo império
desferiram os voos, e remontando-se por cima dos cumes neva-
dos dos Alpes, voltaram altivas a dominar aquellas planícies
famosas pelas campanhas de Napoleão i, Marignan, Magenta,
e Solferino, novos marcos erguidos na estrada milliaria dos
triumphos bellicosos da Itália, viram o estandarte de Victor
Manoel hasteado em Millão, os primeiros florões da coroa de
ferro de Carlos Magno abrilhantados ao fogo das pelejas, e a es-
pada de Carlos Alberto, reluzindo outra vez ao sol das victo-
rias, [como instrumento fatídico da suspirada redempção.
II
1 A Senhora D. Maria de Saboya contava somente sete annos,
quando uma enfermidade cruel arrebatou a rainha D. Maria Ade-
laide. O que valia em thesoiros inapreciáveis de bondade e de
fervorosa crença o coração da Princeza, que Deus chamava a
si, affirmam-no sem adulação os louvores de quantos a conhe-
ceram, e melhor ainda as lagrimas dos que a sua [ardente ca-
ridade arrancava aos tractos da miséria e da orfandade. Aus-
tríaca pelo sangue, porém italiana nos sentimentos, os seus
últimos annos foram uma provação constante durante a terri-
—31 —
vel lucta, em que de um lado o esposo, do outro os irmãos e
os parentes mais chegados disputavam palmo a palmo o solo
retalhado da pátria, á qual no amor já queria mais, do que â
própria que lhe dera o ser.
Que sobresaltos de todos instantes I Que gemidos suffocados
no segredo de suas vigílias! Quantas orações, começadas en-
tre a incerteza e a agonia de uma anciedade, que de momento
para momento se exacerbava, não subiram ao céo, húmidas
dos prantos de seus olhos t Santa lhe chamaram os súbditos,
e como santa expirou, quando o Senhor compadecido apressou
para ella em tão viçosa idade a hora de quebrar o seu des-
terro, e de se resgatar dos golpes redobrados de tantas amar-
guras. Se não' fossem os tenros penhores, que deixava priva-
dos dos carinhos maternos, que saudades levaria do mundo,
senão as do Esposo e da terra adoptiva, os quaes lhe corta-
ram as únicas flores, que lhe podiam suavisar os dolorosos tri-
lhos da existência?
Mas aquella alma pura e santa por um milagre de ternura
infundiu-se na alma de duas Filhas. As perfeições, e a genti-
leza da Mãe reviveram em ambas ellas, e tanto a princeza Clo-
tilde, na corte imperial, como a Senhora D. Maria de Saboya,
na de Turin, justificaram a espontanea^admiração, que sempre
souberam inspirar a naturaes e a estranhos.
Na família, de que descende, as virtudes são hereditárias,
assevera no seu conceituoso juízo o sr. Marquez de Sousa
Holstein, cuja penna sentimos que por causa de ausência seja
supprida pelos traços fugitivos a que o aperto da hora e da
occasião sujeitam a nossa. Desde a Rainha D. Mafalda, a esposa
de Affonso Henriques, princeza, cujo animo devoto e piedoso con-
firmam numerosas fundações dotadas em favor dos peregrinos
e dos enfermos sem abrigo, quantos nomes, de que se ensober-
becem com motivo os fastos da egreja, não trocaram as galas
e illusões do século pelo cilicio, pela mortificação, e pela vida
contemplativa da clausura ? i O Pae de D. Mafalda, o conde
Amadeo, cavalleiro de Christo avistou duas vezes a Palestina
nas cruzadas contra os infiéis. Perto de nós, e quasi nosso contem-
porâneo, um dos últimos reis do Piemonte, — Carlos Manoel iv,
amortalhando todas as vaidades no humilde hábito de noviço,
recolhido em um convento de Roma cravou com tanto ardor a
vista no empyreo, que nunca mais soube abaixal-a para o
mundo.
De que serviria citar mais exemplos, ou evocar outras sombras
não menos veneradas ? Não foi só ás armas que a casa de
Saboya deveu a illustração, que a torna uma das mais anti-
gas e enobrecidas da Europa. Á coroa singela da santidade,
menos ostentosa, porém mais solida, não esclarece de menos
vivas cores a phisionomia dos varões e princezas, que Deus
elevou por outros caminhos mais estreitos : — os da penitencia
e da bemaventurança.
A rainha dos portuguezes é Filha d'esta mãe, e neta d'aquel-
les modelos de virtude e caridade. A Providencia enrique-
cera com as qualidades do espirito. A sua piedade não pôde
ser excedida. A sua caridade é inexgotavel. As associações
das escolas pobres de Turin saudavam nella o seu anjo tutelar.
Yisitando-as com frequência, a sua jneiga protecção era como
uma esperança do ceo, raiando no meio das trevas e descon-
solo. Subir a Deus com o espirito, e descer com o coração aos
que padecem tem sido até hoje o suave emprego de toda a
sua existência, que apenas enceta a primavera dos annos.
A viveza da imaginação meridional tão inclinada a matizar
-33 —
os sonhos, -que enlevam as almas puras, retrata-se-lhe na Vis-
ta e na expressão do semblante. À modéstia e a affabilidade,
fazem sobresair ainda mais o engenho prompto, e os dons opu-
lentos da variada instrucção, que recebeu. Na falta de sua Mãe
encontrou nos desvelos da Senhora Condeça de Villamarina o
maternal affecto, e os cuidados, que podiam confirmar as fe-
lizes disposições, de que nasceu prendada.
Que mais acrescentaríamos, que não fosse por ora temeri-
dade, ou imprudeucia? É uma Rainha de quinze annos, cer-
cada de todas as graças naturaes e adquiridas, cujos dias en-
tretecidos de luz, de boas obras, e de santas esperanças, cor-
reram até hoje socegados, e sem estrondo, por baixo das abo-
badas virentes dos jardins encantados da sua querida Itália.
A pagina até agora escripta d'esta vida, que é toda rosas e sor-
risos, quem a sabe são os pobres. A que vai principiar entre
nós com a nova existência de esposa e de mãe de um povo,
que acima dos esplendores e magnificências admira n'ella as
qualidades de sua mãe, e o enthusiasmo do bello, ditoso condão
de sua primeira pátria, Deus a mandará escrever pelos seus
anjos. '
III
Voaram as horas, e fugindo espargiram do regaço alastrado
de flores os myrthos e as rosas.
«
Eil-a que aponta entre festivos hymnos, predestinda pela es-
perança, a venturosa armada ! Dado hontem ô ultimo adeus aos
viçosos vergéis de Génova, hoje o ínar, os astros, e os destinos
guiaram-na entre risos, deslizando por cima de vagas azuladas,
e "brincando com os zephyros, ao seio da opulenta bahia do Tejo.
No tope dos mastros fluctuam e beijam-se entrelaçadas, co-
3>
'i
-34-
n}o duas] irmãs amigas, as cores de Itália e Portugal, cores que
a victoria realça e a liberdade exalta. Às proas orgulhosas or-
nam-se de trophéos; e a grande voz de duas nações heróicas,
cujo passado é tão nobre, cujos auspiciosos futuros a Provi-
dencia enceíra em suas mãos, repete com fervoroso enthusias-
mo uma s6 a — a mesma saudação.
Eil-a a Rainha dos portugúezes t A nova pátria lhe estende
os braços, e amorosa, rendida como a terra do seu berço, jun-
ça-lhe os caminhos de palmas e boninas. Estes são os jardins
do Tejo, que se enfloram entre cintos de verdura. Estas são
as portas, do ocidente ; o sol despede-se d'ellas com o mesmo
osculo doirado, que pousa na formosa fronte da Itália, coroa-
do do ;seu invejado diadema pelas letras e artes. Este é quasi
o mesmo ceo, que sobre o vosso berço de purpura, embalado
pelo suave murmúrio do Pó, desdobrava aquelle esplendido tol-
do de noites perfumadas, em que scintillam os diamantes de
suas estrellas sem conto ! N
Estais em Portugal, Senhora ! Avistais as margens e as tor-
res que viram partir o primeiro almirante dos mares da índia, e
aonde tantos triumphos e conquistas ergueram dignos padrões,
emulos da fama que immortalisa os campos da vossa pátria. Fi-
lha de Victor Manoel, Neta de Carlos Alberto, o solo que pizaes
foi duplamente sagrado pelo sacrifício de dois Príncipes. Aqui
repousa sem coroa o imperador D. Pedro, que trocou dois sce-
pjtros por uma espada; alem, no Porto, sobre os loiros ceifados
por elle, adormeceu do somno dos hcroes vosso glorioso Avô, o
fundador da unidade italiana. Sede bem-vinda, Rainha de Por-
tugal ! As vossas e as nossas memorias dizem á Europa uma
das mais bellas paginas, que n'este século de prodígios e trans-
formações até hoje escreveu a historia.
-35 —
Dois soldados, cujo tumulo guarda a saudade, abençoam o
throno a que subis no meio das acclamações dos súbditos. Sa-
bereis quanto Portugal vos quer, lendo no rosto do poro os
júbilos do seu amor. O que a alma de um reino inteiro sente
a esta hora, exprimem-no os lábios com alvoroço. Na coroa que
é hoje vossa cada uma das joiás recorda um grandioso feito.
É Ceuta, Àrgilla e Tanger. São as victorias de D. João I ; são
as páreas do Oriente, engastadas com os rubis e pérolas de
Goa, e Malaca, de Diu, e Ceilão. São finalmente as ultimas
proezas que avivaram o brazão t das Quinas, alçando-o trium-
phante entre a liberdade e a independência !
■
Senhora ! Cada pagina, que volverdes no livro d'esta terra, que
já vos estremece como filha, voslembrará uma data memorável,
um monumento de nossos antepassados e dos vossos. Que poema
para o coração e para o legitimo orgulho de uma Princeza !
Vede que é a coroa de D. Mafalda e o throno de Affonso
Henriques ! O segredo que o porvir esconde por entre as flores
de esperança, que a mão do hymeneo esfolha, a alegria que inun-
da a tantos peitos unanimes em vos saudar, não vos assegura
que é o fausto presentimento da nova era, que vai abrir-
se ? Ao alvorecer para esta monarchia o radioso dia da sua
fundação um soberano guerreiro tinha a sei^lado uma de vos-
sas Avós, e no brando sorriso d'ella adivinhava a promessa das
maravilhas, com que Deus lhe dilatou os annos e o império ;
agora que luctamos em diverso campo, não menos trabalhoso,
o do progresso e da liberdade, e que renascem n'outro Anjo
da mesma Familia as sublimes perfeições da primeira rainha de
Portugal, renascerão com ella também, assim o esperamos,
as prosperidades, para esmaltar os annaes da terra adoptiva.
Ha coincidências na vida das nações, cuja significação só os
—36—
annos revelam. Confiemos nos sorrisos da Providencia. O es-
pirito de Deus não está longe, quando os factos aceusam a sua
sombra í
1 L. À. Rebelio ía Silva.
VATICÍNIO
Meia noite I o campo, mudo)
ermo horrível a cidade!
só na etherea immcnsidade
se vem lumes a scismar 1
Tu me abraça, eu te saúdo,
noite cara a amor e aos cantos.
Prophetisa, mãe de encantos,
pois sou teu, vem-me inspirar.
Que me importa o sol e o dia,
que só mostra o que é presente,
e em seu vórtice fervente
desatina as multidões?
—38 —
Co'as estrellas, co'a poesia,
co'a mudez meditabunda, »
só tu, noite, alma e fecunda,
o ignorado á mente expões.
Se invocas o futuro,
se evocas o passado,
no teu sacrário obscuro
brilham clarões do Fado.
Ao Hon\em que hoje é símbolo .
de um povo, o povo meu,
qual foi, qual é o horóscopo,
que amor emfim teceu?
Noite, inefável magica,
faze~m'o ver e amar;
do seu destino a Arbitra
lá vem rasgando o mar.
O ouvido, attento, sôffrego,
néfcta mudez geral,
já Lhe pressente o anhelito
do seio virginal.
De instante a instante acerca-se;
breve entre nós será,
#
£É dom funesto, ou próspero,
o que desponta lá?
I
— 39— ~
Falia, immortal fatídica;
revela' o teu poder ;
abre-mef os teus oráculos ;
sei teus mistérios ler.
Que ouvi no Estreito de Hercules?
Que ouvi na Hermínia Serra?
Sons de festivos cânticos!
Ecos d'estranha guerra!
No monte baluarte lusitano,
ao bater da encantada meia-noite,
resurgiu Viriato, o férreo açoite
do invencível, 5 te 'li feroz romano.
Com elle os seus valentes pegureiros
saltaram em tropel das sepulturas;
fantasmas com surrftes por armaduras,
com. maças espectraes inda guerreiros.
De olhos longos no píncaro mais alto,
para o Mediterrâneo eil-os absortos.
Vem lá frota d'Italia ! Ai, mortos ! mortos !
como hão-de rebater-lhe o fero assalto!
Ás columnas hercúleas no entanto,
acostadas, co'as plantas nas vagas,
as sereias, de gloria presagas,
com diademas de myrthos em flor,
mandam ^bênçãos nas azas do canto
ao baixel que das costas dltalia,
como a concha da bella Acidalia,
traz as Graças, cortejo do Amor.
CORO DAS SEREIAS
Vaga^ melodia,
cytharas e frautas.
pela undosa via
soam para os nautas
na mudez sombria.
Sós, num mar de prata,
sob a lua cheia,
musica tão grata
n'alma lhes retrata
a nativa aldeia.
Cuidam vir sonhando
musica nas aguas ;
somos nós cantando,
nós que as suas maguas
- vimos dissipando.
CORO DOS ESPECTROS NO MONTE 'HERMÍNIO
Ouvi... oiçamos estes sons remotos,
que, não sei donde, cá nos manda o mar i
V
v
-4f-
e a armada avança ! que será ! que votos,
hoste sem vida, nos convém formar !
AS .SEREIAS
Armada doirada, toldada de flores,
de Lysia e d'Ausonia tremula bandeiras ;
co'as velas tufadas, co'as rodas ligeiras
avança em triumpho com bênçãos d'amores.
Triumpho ! triumpho ! triumpho á tão ljpda '
Sereia d'Italia ! bem-vinda ! bem-vinda !
OS ESPECTROS
Já não são pois do horrendo Capitólio
fulmineas águias, capitães traidores !
É Deusa Amante ! marciaes pastores,
a laurea serra lhe daria um sólio. *
AS SEREIAS
Mande-se, irmãs, num sonho este cantar nocturno
á Donzella Feliz, á Magestosa Flor,
que do mais régio tronco em terras de Saturno,
furtou por sua mão, fe a traz soberbo, o Amor.
Yem para a Lusitânia, a Itália do occidente,
pátria de antigo povo, em largo mundo rei ;
berço de homens Tritões, que ao nosso mar fremente,
a Marte â a Adamastor,, deram co'o jugo a lei.
— 48—
OS ESPECTROS
Ài que terra de gloria a nossa terra !
Morta a lacial Bellona que a affrontava,
eis Lvsia irmã da Itália, em vez de escrava!
Brotae, palmeiras, pela Hermínia Serrai
AS SEREIAS
Nós, musas marinhas nas grutas de escumas,
outr'ora ás Sibyllas de Tibur e Cumas
i
ouvimos cantar:
Que um dia viria Maria aos dois povos
tecer fados novos,
e aos lustres herdados mais lustres juntar.
OS ESPECTROS
Ouvi! ouvi... que nome auspicioso! '
símbolo de resgate e liberdade!
Maria! Ô quatro vezes venturoso,
quem logra a vida em tão propicia edade)
AS SEREIAS
Ó Tronco Bragantino,
que o próspero destino
cobriu d'aureos troféos,
sublime te alevanta;
y
—4a—
. amor te enxerta a Planta
mais cara a terra e ceos.
Chove-te um Deus seus mimos.
Fructos vais dar opimos
ao Luso Portugal:
co'a Regia Descendência
firmar a independência
do teu paiz natal.
OS ESPECTROS
Sim, terras do terrível Indovelico,
séculos dois por nós independentes:
paz e amor, liberdade e esforço bellico
vos dem reis de Viriato descendentes.
AS SEREIAS
Lemos do Fado o livro aberto
á luz do facho d'hymeneu:
Victor Manoel, Carlos Alberto,
D. Pedro Quarto, o neto seu,
turba de Heroes e de Heroinas
do mais esplendido fulgor,
á sombra plácida das Quinas
vão renascer, graças a Amor!
Qual dentre as ondas surge um astro,
lá vçm a urna d'alabastro,
— 44—
Virgínea, Mística, Vivente,
em cujo seio o Omnipotente
de destinos tão seus, os germes quiz depor.
OS ESPECTROS
Dormimos oito séculos sepultos
sonhando sempre gloria aos netos nossos.
>
Quem nos hoje animara os frios ossos,
que a Mulher Tal podessemos dar cultos!
Esvaiu-se a visão. Calou-se o mar e a serra.
O tácito baixel que o grão futuro encerra,
á luz da Mãe de Amor, nos astros immortal,
vinha rasgando ufano o liquido cristal.
E a Princeza dormia. A azul immensidade
bafejava-lhe paz. Co'as flores da saudade
respirava sonhando as rosas do prazer.
Ah ! d'essa alma virgínea as commoções dizer,
só o anjo que a proteje acaso poderia.
Triste e risonha, a bella, a cândida Maria,
vê traz si, a fugir-lhe, a pátria, o berço, o pae,
e a infantil liberdade. A Itália já lá vai,
sepulta, e para sempre ! Em terra alem, distante,
— 45 —
que a proa inda não vê, vé Ella a cada instante,
a aguardál-a insoffrido, os olhos sempre ao ínar,
um Rei Joven e Heroe, que Lhe ensinou a amar.
que A. tornará feliz, e que o vai ser por Ella.
O solo que demanda, é outra Hesperia bella :
ar^ sol, torrão, varões, renome... é tudo igual I
Yai ter de novo a Itália entrando em Portugal.
Bosques de fructos d'oiro, alegres laranjeiras,
por quem dariam tudo as terras estrangeiras,
nem vós, nem vós faltaes a dar aqui a amor
sombras e inspirações, e á noiva a argêntea flor.
Por isso a tão Saudosa Ingénua Yirgem ri,
como a nublada aurora ás portas de rubi
do mundo que a festeja; indecisa um momento
entre os ceos que além deixa, e um novo firmamento.
Dorme! dorme, ó Ditosa! a amor e á gloria vais.
Embale-Te aura amiga; as horas festivaes,
antecipem-Te em sonho as próximas venturas; N^
e a Santa Mãe que em Ti se mira das alturas,
co'as bênçãos do Senhor Te cubra. Acordarás
Soberana amanhã. Yirgem, repousa em paz.
Despertam-Te os canhões! lá vem festiva ;a terra!
vãs saudades... adeus! Teu jubilo as desterra.
— 46 —
É JLisboa ) é Lisboa I a ínclita I a real I *
que por arcos de loiro, alegre e triumphàl,
Te saúda e Te hospeda ! A voz da grão Lisboa,
de eco em eco a medrar, co'o Nome Teu rebôá
aos últimos confins do ufano Reino Teu.
Lá vem,. lá chega o Rei que amor Te submetteu;
abraça-O; já sois um; subi ao throno; impera ^
sobre Elle e sobre nós; os fados nos prospera;
aperta sólio e povo em novos e áureos nós;
a Elle, Inspiradora; exemplo a todos nós.
Olha como a Teus pés as Tágides formosas
Te alastram em tapete as mais fragrantes rosas !
celebra-Te a poesia; o templo Te bemdiz;
o pobre Te abençoa; ao pobre, hoje feliz,
dos^ loiros Teus á sombra ao longo da cidade
banqueteia em teu nome a terna caridade.
Basta, Senhora ! eu creio em Teu Real condão.
Futura Mãe de Reis, já Mãe da multidão,
escuta o que hoje um vate, obscuro, amigo, serio,
Tc exora fervoroso a bem de todo o império.
Vivas, salvas, festins, a noite envolta em luz,
vão passar. Amanhã, de quanto hoje reluz,
tumultua, pompeia, encanta, o que nos resta ?
ui» loiro aos pés calcado ; os ecos d'uma festa ;
—47 —
o aborrido cançaço; o escuro; a lida vã.
Tal d'este hoje fastoso o niisero amanhã.
Melhor, melhor triumplio, immenso, duradoiro,
compete ao Joven Par que ascende ao sólio d'oiro :
Fundae a nova escola ; a escola maternal ;
cheia de luz e amor, como a alva matinal; .
qual o meigo Jesus sem duvida a amaria.
Ao nome de Luiz, ao nome de* Maria,
escriptos no frontão de asilo tfio feliz...
sim, de Maria ao nome, ao nome de Luiz,
quem não vê que a ignorância estulta e desdenhosa
vai recuar confusa? a infância carinhosa,
colhe, por vós chamada ás fontes do saber,
os fructos da instrucção co'as flores do prazer.
Dos- factos a evidencia em breve se irradia;
c com mais persuasão que a só philosqphia,
attrae, venceu, doirçina. O ensino vão e algoz,
da cáthedra usurpada, em que a estultícia o poz,
e em que ha mil annos queima as pátrias esperanças,
desapparece. Então, co'os hymnos das crianças,
pães, mães, um reino todo, entrado a mais feliz,
abençoarão Maria, abençoarão Luiz.
António Feliciano de Castilho.
ALVOROÇO
Para consorte cTelle, anjo em princeza occullo.
(Castilho — i. a EpUtola aS. M. a Imp. do Brazil.)
Ao sol da Itália artística
nasceste, 6 Bella Diva,
da Itália rediviva
que soa glorias mil ;
que, sem temer dos séculos
a mão sempre homicida,
respira a antiga vida
donosa e senhoril.
Na tua aurora fulgida,
sorrindo o ceo vestia
mais galas do que o dia
pompeia no arrebol :
feliz no teu horóscopo,
ó ínclita Princeza,
exulta a natureza ;
tem luz mais viva o sol ;
— 49 —
sussurram brandos zephyros
cTamor canções suaves ;
àjL trinam hosanna as aves;
dá novo aroma a flor ;
cantam celestes júbilos
os anjos nas alturas.
9
Assim prediz venturas
aos justos o Senhor.
Depois em annos rápidos
cumpriu-se a prophecia :
em ti medrar se yia
um génio d'eleição.
Que vai a pompa frívola
que ao vulgo a vista illude?
da cândida virtude
é templo o coração.
Não foi reflexo ephemero
da térrea magestade
que no viçar da cdad3
te fez resplandecer;
cingias uma aureola
que em mundos se dilata,
que vai da pátria ingrata
á Pátria do Prazer.
Talvez o influxo magico
do teu condão bemdito
fez rebentar o grito
4
— 50 —
que á Itália vai salvar.
Talvez ? ! oh foi sem duvida
anjo em princeza occulto,
a quem pertence o culto
de Numen Tutelar.
*
Tornaste mais esplendido
o throno lusitano,
ao joven Soberano
doando o coração.
Oh vem, Rainha, enflora-lhe
o sceptro ha pouco em luto,
o sceptro mal enxuto
dos prantos da nação !
Serás mais pura Egeria
de novo e melhor Numa ;
talvez em ti resuma
mil bens este paiz.
Quiçá gelada múmia,
a forte monarchia,
ao nome de Maria
resurgirá feliz !
Ditoso tal consorcio,
que, por fraterno abraço,
estreita num só laço
Itália e Portugal !
dois povos que, sol liei tos
no altar da liberdade,
— 51 —
a essa divindade
dão culto percnnal.
De rosas tens um thalamo,
um sólio tens d'amores ;
unisono em louvores
o reino ha-de ecoar.
Ja vês em cada súbdito
erguido, altar d'affecto ;
ja vês ridente aspecto
em ceo, em terra, em mar.
i
A. S. de Cabedo.
O ANJO
Carlos [Alberto, o Campeador de Itália, •
ao ver fugir-lhe o anjo da vicforia,
o diadema arrancou; mas cingio outro
— o diadema dos martyres, que o foram
do resgate dos seus. E, peregrino,
um tumulo buscou em livres plagas,
e vio sobre as severas penedias
d'aquelle torvo Douro, entre os destroços
de heróicas pugnas, o paládio, o berço
da Liberdade. «E aqui!» o martyr disse.
E o Porto, a um tempo, amargurado e alegre,
sahe ao encontro do Rei, e os pés lhe inflora.
O bravo de Novara erguia a fronte,
alquebrada de magua, e o régio aspeito
abria n'um sorrir de grata alma.
-53-
Aquelle povo amava o Rei sem reino;
amava a desventura com tal porte
de coragem christã, paciência, e honra.
Quando o Rei se escondeu em soledade,
n'um recanto do Porte^e ali, cruzando
as mãos serenas sobre o peito anciado
em anciãs d'outra luz, sorria á morte,
este bom povo d'esta livre terra,
em chusmas se ia aos átrios do %fc hospede,
e, triste e lagrimoso, perguntava ^
pelo 'Rei, pelo amigo, e pelo santo:
— que «santo» lhe chamavam quantos viram
Carlos Alberto a oscular a imagem
, da Yirgcm Mãe de Deus, que, desde o campo
da batalha final, com elle fora
na .dolorosa via do desterro.
Chamara Deus o martyr. Morre. E a nova
nos bronzes vái gemendo, e o povo chora.
O cadáver, cercado de mil cyrios,
está patente; e o povo ora em joelhos,
e crê que tem por si nos céos um santo.
Estava em gloria divina
a alma santificada
pela dor de ver quebrada
contra a servidão a folha
da cavalleirosa espada.
Estava em gosos dos céus
o coração, que levara
—54—
ao seio do eterno Deus
sua redeniptora esp'rança,
que na terra não vingara.
E, de lá, vendo que dôr
, deixa ao triste Portugal^
cobra-lhe extremos de amor
como a terra a quem pedira,
na sua angustia mortal,
um leito d'onde desfira
o seu alento final.
E, grato aos prantos do povo,
pede a Deus um dos seus anjos,
para dar exemplo novo
de affeição a Portugal.
Concedeu-lhe o Senhor um dos seus anjos.
Eis, n'um raio de sol c graça, desce:
veste as formas humanas; eil-o virgem
com quantas prendas seraphins lhe ensinam.
Diz o santo ao seu Deus: «Aquelle anjo,
«que' me destes, Senhor, é de meu filho
«a filha amada: inspirai-os ambos.
«Fazei que ella me seja o dom celeste
«com que eu possa pagar a portuguezes
«o muito que me deram de seus prantos.
« Concedei-m'a, Senhor, que eu quero dal-a
«ao rei dos homens livres. » Disse; e o Eterno,
sorrindo á gratidão da nobre alma,
" ao Rei de Portugal concede o Anjo.
Camullo Castello Branco.
j
*
PATUITDEA!
Eil-a ! chegou ! bem-vinda !
bem-vinda sois mil vezes l
Em rostos portuguezes
íntimo amor sorri.
É vossa pátria a Itália ;
temos egual aurora...
bem-vinda sois, Senhora,
bem-vinda sois aqui !
Oht quem não ama a Itália,
ninho onde vos creastes,
jardim por onde errastes
inda com débil pé !
Oh I quem não ama a Itália,
do génio a mãe querida,
Itália — a que deu vida
a Garibaldi até I
— 56 —
Bera-vinda sois! Do povo
erguc-se-a fronte nobre;
o que trabalha, o pobre,
também por vós se ergueu:
= — «Eil-a! chegou! —bradava, —
«bem haja a Providencia!...» —
de raios d'innocencia
vos inundava ó ceo!
Eil-a ! Como a estrellinha
que pelo ceo deriva,
sorríeis pensativa
de angélico pudor ;
o olhar do Rei, do Esposo,
deu-vos na face pura». . ..
que sonhos, que ventura,
naquelle olhar d'amorl
Correra um vago affecto
por tantos centos d'almas ; —
que refloridas palmas!
que alegres saudações!
unia-se, estreitava-se
num fraternal abraço,
a pátria audaz do Tasso
co'a terra de Camões I
\
Creou-se a luz ! Bem-vinda,
bem-vinda sois mil vezes!
Efn rostos portuguezes
— 57 —
íntimo amor sorri.
Neste torrão bemdito
tendes a pátria agora.
Bem-vínda sois, Senhora,
bem-vinda sois aqui!
B. A. Vidal.
*..
V
AL TAJO
■3tr
Coo Wivo dei régio enlace
*
• •**«•««
I Quien 10 te admira Tajo magestuoso
brillante espcjo de la azul esfera,
si de tus ondas el raudal copioso
á millares los astros reverbera!
Ày! yo le vi naccr humilde rio
allá en los montes de ini amada Espada,
y el niismo Tajo con pujante brio
de la imperial ciudad los campos bana.
Testigo fué dei cspanol denuedo,
y el triunfo ensalzan sus arenas de oro
dei Rcy Cristiano que ganó à Toledo
en las sangrientas lides contra el moro.
— 59 —
Rcflejan sus cristales trasparentes
de la antigua ciudad los torreones
que alzan gallardos sus altivas frentes,
de sus glorias perínclitos blasones.
La catedral, dei génio obra divina ;
el alcazar de piedra, audaz gigante,
se miran en el agua cristalina;
y dei Tajo el caudal crece arrogante.
El dique rompe que su sien circunda;
se estiende el rio como inmenso lago,
los arboles desgarra, el campo inunda,
y en su curso veloz sietnbra el çstrago.
Del crudo.invierno acrece los rigores;
impetuoso torrente se desata;
espanto de los pobres labradores
los ganados y mieses arrebata.
Mas tambien en la dulce primavera
contemple cnagenado su onda pura,
de rosas esmaltada la ribera
cuando Aranjuez ostenta su hermosura;
Y claro y terso copia los primores
de frondosos, magníficos jardines, '
paraíso de amor, Éden de flores,
y encanto de três bellos serafines.
— 60 —
De álamos gigantescos enlazados
sus anchas copas escalando el ciclo
esmalta el rio en hilos plateados,
su vapor exhalando en blanco velo.
De nívea espuma en lluvia de diamantes
en cascada desciende cadencioso,
y sus gotas resàltan cual brillantes
á los rayos dei sol esplendoroso.
|Oh! cuan ufano entonccs se engalana
retratando beldades seductoras,
flores de nácar y purpúrea grana,
luceros de oro y nítidas auroras!
9
Torna veloz, risuena primavera,
y ai apacible son de la onda pura
gozaré ai ver la plácida ribera
cuando Aranjuez ostenta su hermosura.
^Pero es el Tajo que soberbio avanza
á las costas dei reino lusitano?
Con noble magestad sus ondas lanza
en el profundo seno dei Oceano.
^Que mole gigantesca le domina?
Del Tajo orna la sicn férrea corona,
un puente obra dei arte peregrina
que el ingenio de Page audaz pregona.
— 61 —
Génio dei siglo, espiritu moderno
que el progreso y las ciências enaltece :
•
el vigoroso aliento dei eterno
en tantas maravillas resplandece.
Àumentan la corriente de los mares
las claras linfas de brunida plata;
lejos el rio de los pátrios lares
se engrandece, se estiendc, y se dilata:
Es un inmenso mar Yed cual descuella
ai albor matinal rica en palácios
la esplendi^ Lisboa, ciudad bella
ornada de zafiros y topacios.
Matrona que gallarda y vaporosa
se mece en la onda azul como su cielo,
ai ravo de la luna misteriosa
liada divina envuelta en blanco velo.
Faro de la esperanza, puerto hermoso,
libras de las borrascas ai marino,
y en tu seno le acoges carinoso
estrella tutelar de su destino.
Diosa cual Yenus de las aguas brotas
tus pies besando la onda cortesana;
te rinden homenage islãs remotas,
y crés dei Tajo la feliz sultana.
— 62—
Cuna de reyes de animo esforzado;
Àlfonso y D. Manuel, nobles campcones,
suenan en un império dilatado; .)
y tremolan triunfantes sus pendones.
Las naves surcan el revuelto seno:
dei remar de los botes la porfia
llenaba el corazon bajo un sereno
firmamento, radiante de alegria.
Camino un tiempo de esplendentes glorias
fuiste, ó sagrado rio, á Magallanes; .
que abrio campo á las célebres historias
de invencibles, ardientes capitanes.
Ásia, América, y Africa, y el mundo
pregoijan su valor y excelsa fama,
la sien ornando con laurel fecundo
ai héroe, ai inmortal Yasco de Gama.
Ataíde, Albuquerque, Almeida y Castro
cruzan armados de la fé divina
los vastos mares; de la gloria el astro
sus frentes victoriosas ilumina.
Y la estrella dei noble pensamiento,
génio admi rabie, se alza magestuoso,
de Portugal magnifico ornamento
de los Lusíadas el cantor famoso. *
— 63 —
De sus lãuros, venturas y grandezas
resonó el eco en la nacion hispana,
iy si admira la Espana sus proezas,
como no ha de quereria si es su hermana!
Espana y Portugal triunfos iguales
en ambos hemisférios, realizaron,
y juntas en combates inmortales
su sangre y sus tesoros derramaron.
Los huesos de sus hijos confundidos
cubre la misma tierra infortunada,
los llama héroes la historia aunque vencidos
de Alcazar en la trágica jornada.
Entre pueblos- idólatras, lejanos
difundieron la luz dei cristianismo,
las dos tambien en dias mas cercanos
combatieron ai fiero despotismo.
Ramas de un arbol, de una misma raza,
icómo si se confunden en la historia,
y un território mismo los enlaza,
el porvenir no hará comun la gloriai
El poeta henchido de entusiasmo santo
consagra un himno á tan glorioso emblema :
jay, si estampara con su débil canto
una flor de oro en tu imperial diadema!...
/
i
— 64 —
II
*
••
& Mas por qué reilejando la alegria
se viste el Tajo de brillante gala?
por qué pucbla las ondas de armonia
y májicos conciertos hoy exhala?
Le surcan en tropel naves veleras
ostentando bellisimos colores
i
flâmulas, -gallardetes y banderas
como pênsil de .peregrinas flores.
£À. quien rinden tributo respetuoso
las ondas de ese rio alborozadas?
y con grato murmullo cadencioso
caen ante una nave prosternadas?
Es una nave airosa y esplendcnte,
que ai rasgar con su quilla las espumas
mecida por la ola trasparente
semeja un cisne de nevadas plumas. /
Besan las auras la ligcra lona,
el pabellon de Itália Dota ai viento,
y ostenta el pabellon rega corona,
tronando cl bronce con robusto acento.
■ '#,
£À quien rinden sonoras tanta salva?
À virgen bella en cuna real niecida,
primer rayo purisimo dei alba,
flor dei vergel de Itália desprendida.
%
Salve, futura reina! Astro de amores
brillarás en el cielo Lusitano ;
te brinda la ciu^ad palmas y flores
ai ascender ai sólio soberano.
Princesa ilustre de la Itália bella,
no llores de tu pátria ai abandono;
porque otra pátria encuentras y con cila
de un joven rey el corazon y el trono.
Será prenda de union tu hermosa mano
que enlace los colores en la historia
dei pabeilon de Itália >y lusitano:
blanco, verde y azul, signos de gloria.
De paz el blanco, el verde de esperanza,
v de cielo el azul: av! dei consuelo
eros el angel ; pues tu reyno alcanza
la esperanza, y la paz tambien el cielo.
Un rey y tierno hermano hondo tributo
rindo á triste memoria, y tu alma pura
tias dias de dolor y amargo luto
aparece cual iris de ventura.
5
— 66 —
Hija de un pueblo libre y esforzado
que conquisto la santa^ independência,
y á un porvenir glorioso está llamado:
la libertad es tu preciosa herençia.
f
Radiante sol, fecundo á las naciones,
sus grandiosos destinos ilumina;
y pues dei cielo son tan ricos dones
sella tú con tu amor la obra divina.
Tainbien te acoge en sus amantes brazos
un pueblo libre; madre carinosa,
dei pueblo y trono estrecharás los lazos,
y Dios bendicirá tu union diçhosa;
Mientras la sombra veneranda y pia
dei noble rey, tu generoso abuelo, **
sobre esta hospitalaria tierra envia
inefable mirada de consuelo.
Eusébio Asquerino.
LA PREGHIERA
Sonetto
AlPombra dclPaltar, quando sciorrai
la fervida preghiera, Ti rammenla
di quella Terra, per cui pianto ayrai
nella piena dei mâl, che la tormenta...
X 4
Ah! prega... prega, che pur cessi ornai
la cruda lotta, che le rende spenta
quasi dei tutto quella fé, che i rai
le aprí alia gloria, per ctii fu redenta :
L'inclita maestà delPalma reggia
delPavita pietà sostenti il brio,
che nelFitalo Cielo ancor lumeggia.
Prega, che alfín ITtalia sia felice,
e col suo scudo la difendi Iddio,
perche non sia piú misera, e infelice...
Cav. Gaetano Frascarelli.
m
PARABÉNS
Vem, ohl vem, Princeza Augusta,
espargir, qual branda aurora,
sobre um povo que le adora
raios de luz e de amor.
Yem, que serás nesta terra
a esperança da orfandade,
a estrella da liberdade,
Gentil e Mimosa Flor!
Sentiste, Cândida Virgem?...
Um murmúrio agradecido
não passou do teu ouvido
docemente ao coração?
Que pensas que foi? Não sabes?
Nesse rumor delirante
recebes tu neste instante
as bênçãos da multidão!
— 69 —
Acclamarain-Te! Es Rainha!
Que.bello dia na vida!
ter a fronte assim cingida
por essa coroa de amor,
tecida por mil affectos ! !
Parabéns, Virgem Formosa,
parabéns, ja és esposa
Gentil e Mimosa Flor!
Jacinto Augusto de SajstaiNjsa e Yasconcellos.
SAVOJA E BRAGANZA
POSMÁ IK DIECI CANT1
(Franjmenti)
NelPantica dei mondo nota parte
Due Penisole sonvi rinomate
A cui si eguali doni il ciei riparte
Che col nome d'Esperia fur chiamatc.
Non sai ai vederle se natura od arte
Tali dovizie in loro abbia versate,
£ una si tanto ali 9 altra rassomiglia,
Che due non vedi, ma una meraviglia.
Itália e Ibéria qúindi fur eh ia ma te
Coiralterno seguirsi degli eventi,
Ché il cielo non permise lunga ctate
Che a' suoi imperscrutabili portenti,
—71 —
Ma quante sono ai mondo cose nate
Deggion sparir siccome nebbia ai venti,
Ché da distruzion quanto nasce ha vila
E da cosa fu cosa ognor sortita.
Dann'ivi legge ai popoli soggetti
Con savio, forte, giusto, umano impero
Dal popolo e da Dio' due Tronchi eletti
Che pregiansi seguir le vie dei vero.
Giá Braganza e Savoja furon detti,
E ognun puó andar dei próprio nome altiero
Che per quanto su terra il ciei si spande
Stirpe non vedi né piu eccelsa o grande.
Nel bel giardin che a sua difesa ha PAlpi
E a cui il mar lambe mollemente il piede
La bella Pia s'inspirava agli alti
Pensieri di virtu. Quanti concede ,
L'Eterno ai male oprar solidi spalti,
Intellétto, vigor, saggezza e fede
Tutto ha Maria ; ne sai se van lodate
Piú in lei virtú acquisite o 'doti innate.
Giace la reggia degli avi antichi
Appié dei bel paese subalpino ; * ■
Di colli è circondata e luoghi aprichi
E fá come puntello ai giogo alpino ;
La bagna il Pó, che par che ai mondo indichi
— 72 —
Che pari ai suo ingrandirsi nol cammino
Un dí il Sabaudo Prcncc (ia sovrano
Di quanto acchiude Itália in monte c in piano.
Duri iiupetuosi assalti ella sostennc,
E in prove di valor sorti vincente,
Che mai non volle alia crudel bipenne
Piegare ri capo di straniera gente.'
Contra un oste agguerrita essa sol tennc
Alta la fronte, e la scacciò perdente;
Di Pietro Micca il pátrio amor, Fardire
É ben noto, nè vai or qui ridire.
Lá nacque, s'educó, la visse e crebbe
Queila che in noi or fá tanta csultanza ;
Lá di virtude gli alti sensi accrebbe
Dei patri colli alia gentil fragranza.
Per un angiolo presa ognun Pavrebbe
Ai modi eletti, alia genial sembianza;
Lá, ai povero e ai tapino era sua cura
Render la sorte prava meno dura.
Figlia a Vittorio, cui vittoria arride
E a Adelaide Ranier nacque la Pia ;
La luce il dí sedici Ottobrc ude
Siccome fior che ad alitar.s ? apria.
Quando PItalia dei bel don s ? avvidc
Che in quclPAngiol dei cielo il ciei Pinvia
Anni faceano allor mille ottocento
Quarantasette ch'era 1'uom redento.
-73-
Godeva in pace la gentil donzella
In grembo delia Madre i suoi vcrd'anni,
Quando sorse improvisa gran procella
Che in un mar la gettò di crudi alTanni ;
Perche invidiando il "ciei Panima bella ,
D'Adelaide ? di questo mondo ai danni
Che restasse piii tempo Egli non volse
E quel ch'era suo come suo si tolse.
Prima círio canti degli sposi egregi
L'altc virtu che dan splendorc ai soglio,
E quanti sono in lor sovrani pregi,
Narrar le imprese, gli alti sensi io voglio
Degli avi illustri dei due tronchi regi,
Dei popoli soggetti onore e orgoglio,
Le cui sublimi gesta in guerra o in pace
Non giunge a canccllare il tempo edace.
Narrar le gesta! mi perdoni lddio
Se tanfosa volare il mio pensicro !
Piú che a mie forze guardisi ai desio
Che il ver vuol dir in olocausto ai vero.
Se nelFagone generoso e pio
Mancan sublimi voli a un cor sincero
Di Luigi e Pia la bontá mi affida
Che nel mio viaggio ro prendo a scorta e guida.
— 74 —
Giaceva Itália ritagliata in lembi
Qual mantello sdrucito d'un pezzente,
E benché alcuni fosser torti o sghembi
Trovato avean Puncino d'un potente.
Squadre non giá, ma distruttori nembi
Di stranier 1'invadean qual lava ardente
Ed era premio dato ai suo coraggio
Ruine, incendi, dolor, Djiorte o servaggio.
Di sovrani stranieri ancella e schiava
Yietato le era aver speme e desio ;
Dell'iniquo tiran la voglia prava
Era spacciata volontá di Dio.
Dritto e legge or non piú, bensí imperava
La volontá d'un ré crudele e rio
E a chi d'opporsi ardia, sola ragione
D'assoluto signor era il canuone.
•
Povera Itália! Tu soffrivi tanto
Ed eran tutti sordi ai tuo dolore,
Ché le Nazion ti deridevan quanto
Àvevan giá tremato ai tuo valore;
Qual meraviglià or dunque se ai tuo pianto
Rispondea collo scherno il tuo signore,
Se a te che senno avevi e álti pensieri
Di governarti, dtcean, degna non eri?
Dcgna non eri tu ! dunque in obblio
Era giá andata la virtii latina ?
Force il valor, il senno tuo, per Dio a
—75 —
Maledetti gli avea Tira divina?
Dunque perche con sprezzo crudo e rio
A te serbavan sol stragi e rovina,
E chi te fral dicea, essi sol forti,
Non davati una sol, ma mille morti?
Ah ! perche unita eri potente e forte
E 1'avevan ben giá provato in guerra I
Dunque non fia che cangi la tua sorte
Finché lo stranio calcherá tua terra.
Ma il giusto Dio, che i rei potenti atterra
E dei deboli spezza le ritorte,
A ré Cario inspiro santo dcsire
Di far redenta Itália oppur mor ire.
E il voto egli adempii. Là di Superga
Tra le tombe degli a vi or giace in pacc.
Ben ei tento morir quando le terga
Yolse fortuna e si mostro fallace;
Ma invan cerca sul campo chi grimmerga
líel petto un ferro c slacci 1'alma audace,
Che da acerbo dplor sempre in cor punto
In esiglio morri tristo e consuuto.
Ha la sua pátria ogu'uom 3 sol 1'italiano
Erane privo. Schiavo vil rejetto
Nel próprio suolo era tenuto estrano
Simil di Giuda ai popol maledetto.
Di rose e gigli a lui spargeva invano
Pronubo amor il marital suo letto
— 76—
Ch' ci malcdiva il scme suo, se schiavi
Erano i figli sul terren degli avi.
Delle gravezze il peso sol portava
E il domandar giustizia gli era tolto,
Ché 1'aquila sovrana depredava
Del tristo agricoltor tut(o il raccolto.
Se chi era, qualcun gli domandava,
Chinava il guardo ed arrossiva in volto
Chè per crudo destin malvaggio e rio
Non potea dir: questo paese é mio.
E mentre ogn r uomo dice: io son germano,
Altri io son anglo, son spagnuol, francese,
Ei sol non puote dir: sono italiano!
Ché estrano in próprio suol violenza il rese.
Oh! come vorrebb' ei di própria mano
Far vendetta di si crudeli offese!
Ma 7 invan; ché sospettosa tirannia
Di quanti Pavvieinan fé una spia.
Sapete voi qual duol porta nel core
Chi non ha pátria? É un spasimar violento
Come chi cerca il guardo dei Signore;
E dei bastardo Tonta cd il tormento
Che un padre cerca invano a tutte 1'ore;
\ É d'orribil fantasma lo spa vento;
Sono lc anibasrc, i pati menti e 1'onte
D'abbietto schiavo che ha vil marchio in fronte.
— 77 —
E Cario ai grande dí si preparava
Con un saggio governo forte e retto;
Codici attinti ai vero egli dettava
E leggi che tendeano a giusto oggetto;
Consigli e Tribunali decretava
Ove giustizia avea tempio e ricetto,
Si che vedeasi andare in stretta unione
Giustizia ed equitá. dritto e ragione.
Non trascuró, peró, nelle soavi
Cure di pace, il militar governo;
Anzi con sforzi i piú indefessi e gravi
NelParmi introducea il progresso odiento :
E quella armata che già sotto gli avi
Aveva il chiaro nome reso eterno
Ei preparava a piú glorioso imprese
E a quel valor che si chiara la rese.
A tale di governo saggio impero
Che d'un picciol faceva un forte stato
I popoli drizzavano il pensiero
Come a un ben lungamente invan desiato.
Minaccioso il vcdean sorger foriero
Di punizion, mostrando il braccio armato,
E con nobile c generoso ardire
Sdegnar delFaustro agli ordini ubbidire.
Scuote ogni mente quel desio di guerra
Che da lungo repressp or fá esplosione;
Stendesi ratto per Titala terra
— 78 —
E ognun ne fa suo altare e relijgione;
E a quel ferocc frémito che atterra
Resta il tiranno privo di ragione
E incrudelisce alio scrollar dee trono
Contro colui cui chieder dee perdono.
Per tutta Itália un grido sol s'udiva
Che potente sorti va d'ogni petto;
D'emancipar la pátria ognuno ambiva
E volea col desir anche Peffetto.
Al sacrifício ognun sè stesso offriva,
E quanto avea piú caro e piii diletto,
Che di pátria Pamor quando é veracc
Bruccia bon piii che su delPesca brace.
Dal casolar ú tácito attendea
Lieto e ignoto agli agricoli lavori
Parte il villan, e va ove ogni uom coríea
A mieter per la pátria santi allori.
Scagliasi ardito su la gente rea,
E in petto non ha un cor ma mille cori,
E da forte soccombe col contento
Per la pátria d'aver la vita spento.
NelPaule auratc ove tutto é incauto
Armasi il titolar dagli avi antichi;
Corre pedone coi pedoni ai campo
E dona sue ricchezze ai piu mendichi;
Sembra ogn'indugio alia vittoria inciampo
—79 —
E si scaglian furiosi sui nemichi,
£ con un santo e temerário ardire
Disciplinate squadre fan fuggire.
NelPinvilta e fedei cittá d ? Oporto
Chiuse Pestreme luci il pró guerriero;
Lontan dalla famiglia, sol conforto
Ebbe in trovarsi il cor leale e sincero;
Tranquillo con sé stesso giunse ai porto
Ove l'uom trova la maestá dei vero;
Ma prima di morir sacro legato
A Yittorio lasció, suo figlio ainato.
r
Yittorio Paccettó. Scorsi dieci anni
Ecco un armata sorge ed una squadra,
Che delPaustriaco s'apparecchia ai danni
E a rintuzzare la sua voglia ladra;
Plaudono i popoli che ai loro affaqni
Voglion pôr fine ed a loro sorte adra,
Infiammasi ogni cor qual face ai vento
Che il fuoco sopito era, ma non spento.
* •
Freme ogni petto; e a lavar Tonta antica
Giá apprestasi ogni braccio ed ogni core;
Col guardo e coll' andar par che ognun dica,
Non guerra, schiavitii avere a orrore,
— 78 —
E ognun ne fa suo ai tare e relijgione;
E a quel ferocc frémito che atterra
Resta il tiranno privo di ragione
E incrudelisce alio scrollar dee trono
Contro colui cui chieder dee perdono.
Per tutta Itália un grido sol s'udiva
Che potente sortiva d'ogni petto;
D'emancipar la pátria ognuno ambiva
E volea col desir anche 1'effetto.
Al sacrifício ognun sè stesso offriva,
E quanto avea piú caro e piii diletto,
Che di pátria l'amor quando é veracc
Bruccia bon piii che su dell'esca brace.
Dal casolar ú tácito attendea
Lieto c ignoto agli agricoli lavori
Parte il villan, e va ove ogni uom coríea
A mieter per la pátria santi allori.
Scagliasi ardito su la gente rea,
E in petto non ha un cor ma mille cori,
E da forte soccombe col contento
Per la pátria d'aver la vita spento.
Nell'aule auratc ove tutto é incanto
Armas i il titolar dagli avi antichi;
Corre pedone coi pedoni ai campo
E dona sue ricchezze ai piu mendichi;
Sembra ognlndugio alia vittoria inciampo
— 79 —
£ si scaglian furiosi sui nemichi,
E con un santo e temerário ardire
Disciplinate squadre fan fuggire.
NelPinvitta e fedei cittá d'Oporto
Chiuse 1'estreme iuci il pró guerriero;
Lontan dalla famiglia, sol conforto
Ebbe in trovarsi il cor leale e sincero;
Tranquillo con sé stcsso giunse ai porto
Ove 1'uom trova la maestá dei vero;
Ma prima di morir sacro legato
A Yittorio lasció, suo íiglio ainato.
Yittorio Paccettó. Scorsi dieci anni
Ecco un armata sorge ed una squadra,
Che dell'austriaco s'apparecchia ai danni
E a rintuzzare la sua voglia ladra;
Plaudono i popoli che ai loro affaijni
Yoglion pôr fine ed a loro sorte adra,
Infiammasi ogni cor qual face ai vento
Che il fuoco sopito era, ma non spento.
• • • ■
Freme ogni petto; e a lavar Tonta antica
Giá apprestasi ogni bracejo ed ogni core;
Col guardo e colP andar par che ognun dica,
Non guerra, schiavitii avere a orrore,
— 80 —
E se fortuna mostrasi nemica
Renderalla benigna il si^o valore;
Di cittadin, guerrier, fanti e cavalli
Ingombre son le vie. colline e valli
Spettacolo sublime era il vedersi
Dal Tebro, dal Ticin, dallc Lagune,
Dal Sebcto, dalPArno, c dai divorsi
Ducati ove il tiran rendeasi immune,
Da quanti Itália ha mai luoghi dispersi,
Sia villa, sia cittá, borgo o comunc,
lnfiaramati di pátrio c santo ardire
Giovani prodi d^gni etá partire.
Àhi! forse scosso invan le sue ritorte
Ora avrcblfanco la virtii latina,
Ché di gran lunga era il ncmico forte,
Se non pensava a lei pictá divina,
Chè mentre sparge Faustro stragi e morte
Scagliandosi d'Italia a estrema ruina
Appar sulPAlpi minaccioso c irato
11 Grande Napoleon di brando armato.
Siccome ai sovrastar di gran periglio
D"incendio, di tremuoto o di naufrágio
Stupido é ognun, né sá prender consiglio
E col inalo confonde anche il piíi saggio,
Nè s'arrischia a parlar, nc a mover ciglio.
Ne si che sia \iriii, che sia toraggio,
^-81 —
Stupidita resto 1'austriaca gente
All'apparir d'un nembo si repente.
G. P. Biancdi.
A SOMBRA DE CARLOS ALBERTO
Funda mudez impera na cidade
dos Césares outr'ora, hoje de Christo,
na duas vezes soberana, em Roma.
Deslisa pelo claro firmamento
a prateada lua, com seus raios
pallida allumiando esses soberbos
monumentos do engenho, e essas ruínas,
restos de um povo que passou no mundo :
S. Pedro, o Capitólio, o Vaticano,
o Colosseu, o Pantheon, e o Circo;
a Roma de hoje e a Roma d'outras eras.
Em meio corre murmurando o Tibre,
testemunha de tanta magestade,
e de tanta mudança; o mais repousa.
Tudo está silencioso; a noite é alta.
Mas além no elevado Capitólio
que vulto é esse? como jaz immovell
como alveja ao luar) marmórea estatua
o julgáreis talvez, em hora boa
— 83 —
por mão de insigne artista cinzelada,
ou gemebunda sombra, que a deshoras,
lembrada do que foi, vaga na terra.
É César, o triumviro guerreiro,
o ambicioso, audaz liberticida
inda sonhando a imperial coroa ?
é Pompeu, seu rival, morto no exilio,
que vem chorar na pátria a desventura?
é Catão que a existência sacrifica
para não ver a liberdade escrava ?
é Scipião? é Mário? nenhum d'elles.
Desejo insaciável de conquistas
não o animou na vida, mas a idéa
de reunir em reino poderoso
um povo grande, retalhado e oppresso;
não arrancou da espada em lueta inglória
contra irmãos; só estranhos e verdugos
a viram lampejar, tremeram d'ella;
vencedor, foi magnânimo e sublime,
vencida, a si venceu-se, e contra os males
não foi na morte procurar abrigo;
no desterro morreu, mas elle mesmo
o demandou para não ver sangrando
a pátria sob o ferro dos tyrannos
Quem é pois? é da Itália o patriota,
Carlos Alberto, o plantador ardido
da gloria, da unidade italiana.
Oh! como se ergue nobre e grandioso
no alto Capitólio., contemplando
— 84 —
a rainha dos séculos ! A sombra
da cidade de outr'ora elle medita,
elle, sombra do liomem que ha passado!
Mas não é triste o rosto seu; levanta-o
confiado e sereno; luz de esp'rança
lhe fulgura no olhar, como nos dias
de Rivoli e de Goito, quando ao lado
via a victoria a coroar-lhe as armas,
e a Áustria recuando espavorida;
co'a dextra o coração comprime e aperta,
qual se fora indavivo; sobre a espada
pousa a sinistra, e os lábios entre-abertos
como que vão fallar.
Por largo espaço
volve os olhos em roda, e emfim prorompe :
«Ó Roma, antiga Roma t que venturas
te esperam no porvir! Serás de novo
poderosa e senhora! Já vem perto
o instante de acordares do lethargo
do teu somno de séculos. Acorda,
acorda, capital da egrégia Itália,
e ao mesmo tempo capital de Christo.
Podem juntos viver o sceptro e as chaves,
e hão de juntos viver, aquelle dando
leis da Sicilia austral até aos Alpes,
estas mandando aos povos do universo
da crença do Homem Deus brandos dictames.
— 85 —
Mas não é inda o dia destinado
pelo Eterno. Esperae, italianos,
romanos, esperae; fora improfícua
tentativa qualquer, fora baldada.
Tu que o digas, ó alma generosa,
ó guerreiro fatal e enthusiasta,
que, sempre vencedor, foste vencido.
Mas vencido e infeliz, como és agora
maior do que nas horas de triunfo,
martyr da grande idéa italiana !
Garibaldi, consola-te comigo !
como tu, pelejei, venci, venceu-me
a sorte, os homens não, por lhe if d'encontro,
por ter antecipado a empreza que hoje
meu filho, mais feliz, prosegue e acaba.
Esperae; também eu aqui o espero
o dia da victoria, eu, sombra apenas
entre os vivos, e só quando elle brilhe
vos deixarei, e deixarei o mundo.
Julgáveis que morri ? o corpo ao nada
é verdade volveu, porém comvosco
o espirito ficou, filhos da Itália.
Foi elle que ateou nos vossos peitos
da liberdade a chamma, que no exilio,
nos horrorosos cárceres, na morte
vos confortou, apóstolos da pátria;
foi elle que em Magenta, cm Solferino,
e em tantas outras pugnas deu alento
aos livres esquadrões contra as cerradas
—86 —
fileiras de oppressores e de escravos;
é elle que vos ha de abrir as portas,
não com ferro, com ramos de oliveira,
d'esta cidade, dá fadada corte
do reino italiano, emfim de Roma.»
Assim dizendo, a inspiração divina
lhe irradiava o rosto, e resoava
a sua voz poderosa, como um echo
dos arcanos de Deus.
«Porém que vejo,
(e apontava] o occideute) ao longe, ao longe,
no fim da Europa, do oceano á beira?
O meu sangue se casa ao sangue illustre
do portuguez monarcha. A minha divida
pagas, ó filho meu, co'o mais querido,
mais do teu coração, co'a própria filha.
Dois legados, além do diadema,
eu deixei: um ao solo do meu berço,
á minha cara Itália, o outro á nobre
terra de Portugal, em cujo seio
me acolhi na desgraça, e em cujos braços,
carpido e amado, me apartei do mundo.
O primeiro nos campos de batalha
começaste a cumpril-o, expondo a vida
no mais rijo da lucta, e confiando
aos azares da guerra, e á varia sorte
os súbditos fieis, a a vi ta c'rôa.
Esse já perto o vejo do seu termo.
—87 —
O segundo de todo eil-o cumprido t
Que prazer 1 quanto góso n'este instante)
Itália, Portugal são minha pátria
uma e outro; escutou-me alegre aquella
apenas vim á luz ; este escutou-me
compassivo ao morrer o extremo alento.
Que amisade, que ardor, que enthusiasmo
não achei iresse povo, tão sublime
como os seus feitos de que brilha a historia,
quando o fui procurar quebrado e triste,
Após o dia da infeliz No vara!
Qual a seu conterrâneo, me acolheram;
cingiram-me de affecto, e de carinhos;
quinhoaram com animo brioso
a minha acerba dôr; e quando a morte
d'entre elles me roubou, com pranto e lucto
inda a memoria unanimes honraram,
nem que fora seu rei, de pobre extranho,
do monarcha vencido e desterrado.
De divida tamanha a maior parte
pertence a ti, ó Porto, ínclita origem
do nome portuguez, valente berço
da santa liberdade luzitana.
Foi a ti que eu busquei entre as cidades
do mundo para escudo contra os tiros
da fortuna cruel, a ti, de ha muito
costumado a tomares o partido
do fraco, e do opprimldo, e que em teus muros
D. Pedro defendeste, e os seus heróicos
soldados em tenaz e duro assedio
— 88 —
contra a hoste infinita dos tyrannos,
crus algozes dos seus.
, Ao claro neto
do rei, libertador dos portuguezes,
te vaes unir, ó filha de meu filho.
Serás feliz; de paz e de alegria
vida longa te espera sobre o sólio
donde tantos monarchas poderosos
dictaram n'outro tempo leis aos mares,
e donde agora nova luz começa
a scintillar, a dardejar espr'anças.
Do esposo aò lado encontrarás a dita
que podes ter no mundo, e que merece
teu coração affavel, virtuoso.
0& portuguezes te amarão, querida,
bem como sua mãe, pois da corôá
só filhos querem ser e não vassallos.
Como* na nossa terra, liberdade
entre elles verte o ar, sereno e puro,
igual ao nosso ar; o céo benigno,
pródigo chove flores sobre o solo,
e ditosa abundância. Ah! quantas vezes,
vendo-lhe o meigo azul, c ouvindo a falia,
a maviosa falia portugueza,
tu não dirás comtigo: eis minha Itália!
Outras vezes também far-te-hão saudades
os teus campos, teu pac, e irmãos presados,
c a causa consagrada a <jue não pódes,
presente, ver o fim; mas escutando
— 89—
como o desejam todos que te cercam,
todo o teu povo amigo, c como sempre,
e a cada passo de teu pac repete,
e dos nossos hcroes os grandes nomes,
ainda pensarás: eis minha pátria.
Depois, quando chegar o dia escripto
pelo Eterno no livro dos destinos
em que ha de esta cidade abrir as portas
a seus irmãos, e aqui no Capitólio
arvorar a bandeira italiana
a v inão da liberdade, ó minha filha,
lá no teu novo reino o fausto annuncio
saberás pelo brado fervoroso
de Portugal inteiro, o qual unisouo
dirá: Roma cedeu, a Itália é uma!»
Assim acaba; mas ao longe os cchos,
pela mudez da noite retumbando,
longamente repetem nas ruinas
as palavras finaes: a Itália é uma!
Julgareis nos seus túmulos de pedra
os séculos já mortos levantarem-se
a confirmar o \aticinio augusto,
e que esses monumentos veneraveies
de tantas gerações se commoviam
ao pensar no futuro que inda espera
a dantes soberana do universo,
a rediviva Roma.
Porém breve
— 90—
tudo em silencio cae; ouve-se apenas,
como gemer de queixa dolorosa,
do Tibre o jnurmurío. O branco vulto
inda lá está im movei, contemplando
a cidade dormida; emfiin acorda
do longo meditar, e, erguida a fronte.
desce do Capitólio; mas seus passos
não produzem rumor; pausado, lento,
marcha ao clarão da lua entre as ruinas
té se perder dos muros derrocados
do vasto Colosseu na sombra enorme.
José Ramos Coelho.
AVE, STELLA!
Assoma a luz percursora,
c logo o espaço domina.
Bem-vinda sejaes, Senhora,
como a estrella matutina
que precede a nova aurora!
Bein-vinda, Esposa Real!
Gentil PrinCeza, bem-vinda
aos braços de Portugal!
Pátria vossa é esta ainda,
pátria e irmã do chão natal!
Revê-se flor 'entre flores;
são os jardins só mudados :
acha os mesmos explendores,
as mesmas selvas e prados,
ceo egual e eguaes amores t
— 92 —
De alvoroçado e saudoso,
como que o berço da infância,
por dobrar-lhe dita e goso,
quiz seguil-A á nobre estancia
onde a aguarda o Excelso Esposo.
Num povo d'alnias leaes,
que já por fé vos adora,
profundo affecto encontraes.
Vossa pátria é esta agora:
bem-vinda a ella sejaes!
»
Honra nos foi e nos fez
uma Filha de Saboya.
Signal de gloria outra vez
ha-de ser d'Italia a Jóia
sobre o throno portuguez!
A voz que as bênçãos implora
jamais aos Vossos foi muda :
Vosso Avô cantou outrora
musa que hoje vos saúda.
Bem-vinda, Augusta Senhora!
s
Apoz tormenta voraz, '
desce a vaga, aclara o norte.
Bem-vinda, íris de paz,
luz de amor, como o Consorte: -
o ceo, que O trouxe, Vos traz!
— 93 —
A estrella d'alva descora
entre as rosas do oriente.
Sejaes beni-vinda, Senhora,
como o astro que fulgente
surge e inflamma a nova aurora.
J. da S. Mendes Leal.
s
EMBORAS
.,/
» « **
De galas cortezãs não visto alyraf
Idolatra servil não curvo a fronte,
nem vou rojar-me ante os degraus do throno
a espreitar o surgir da Estrella. Nova
nos ecos da realeza; amo a virtude
quer de realce á purpura esplendente,
quer entre andrajos vis esconda o brilho!
Não me deslumbra o sol da realeza t
Entre o luzir fugaz diviso as manchas,
mas distingo também a luz mais viva
da cVoa divinal, que cinge as frontes
dos eleitos de Deus, reis sobre a terra!
Adoro então o esplendido da c'rôa,
adoro «o monarcha o justo, o sábio
— 95— '
se o vejo caminhar na senda agreste
preenchendo animoso o duro encargo.
Vós sois, Vós sois, Senhor, um d'esses poucos!
Foi d'espinhos a c'rôa que cingistes)
Co'a d$r no coração, na face o pranto,
consolastes um povo que gemia
órfão de um pae, de um ermo throno em roda.
Fostes herdeiro dMnclitas virtudes)
Nesse trance fatal, resplandecestes
grande na dôr, e no valor. . . sublime !
Hoje inflora-vos Deus o alto diadema )
Nos espinhos da c'rôa se entretece
cândida rosa (oda amor c graças)
Apoz a Tempestade, vem a pomba,
precursora de paz e de venturas)
Gentil Pomba da Ausonia, a Vós meu canto!
Meus lábios, não aíTeitos a lisonjas,
soltam a saudação livre, espontânea,
á Meiga Flor, que vem brilhar nos Paços
de incantos mil ornada... e que rescende
não sei que vago aroma de virtudes!
Quando á voz de liberdade
do seu tumulo aviltante
se ergueu a Itália radiante
d'enthusiasmo, e de fé,
cairam thronos vetustos
ao troar da voz diVma;
' —96 —
mas sobre a immensa ruina
ficou um throno de pé !
Brilhava fulgida auréola
. em torno do augusto sólio!
Era o novo Capitólio!
era da Itália o porvir!
do Rei-heróe, do Rei-martvr
inda guardava a saudade;
sempre o sol da liberdade
ali se vira fulgir!
Era um throno augusto e santo!
De virtpdes um sacrário!
Sempre aquelle sanctuario ,-
dera á Itália força c luz;
descera d'elle o Rei-martyr
dcixando-lhe immenso brilho!
Mais feliz, o Heróe Seu Filho
á gloria a Itália conduz!
É livre a Itália 1 Livre a Itália c unida
entoa um hymno de respeito e amor
ao Rei, que soube despertar-lhe a vida,
que soube outr'ora consolar-lhe a dôr!
4
I
Junto do Heróe, que um povo inteiro acclama,
que meiga Virgem lá se vê brilhar?
E junto ao roble de frondente rama
cândida rosa de frescor sem par!
— 97 —
Anjo dâ Itália a julga o povo crente,
Anjo Celeste, que só bens lhe^tràz!
No ardor da lucta, na virgínea frente
lhe fulge a aurora, que promette a paz!
Anjo de paz e de amor
vem á terra Lusitana,
que também também se ufana
com acções d'alto valor 1
Se os filhos da Itália bella,
fiados na vossa estrella,
iam firmes combater,
também com firme vontade
pela pátria liberdade
* sabem os Lusos morrer I
Em feitos d'immensa gloria
Portugal não tem segundo!
Estão espalhadas no mundo
as folhas da nossa historia !
Nossas Quinas Lusitanas,
mais do que as águias Romanas
dictaram ao mundo a lei!
E se caía um valente,
bradava altivo e contente:
«Pela Pátria, e pelo Rei!»
No throno portuguez sempre a virtude
á terra c ao ceo brilhou^
Nunca o povo, ao passar régio ataúde,
alegre respirou!
7
— 98 —
Vinde dar novo brilho ao sólio esplendido I
Risonha Es t rei la, divinal fulgi 1
Ao contemplarem esse rosto angélico
em que a innocencia, em que a bondade ri,
clamam todos: — «Ditoso o Soberano,
«a quem Esposa Tal Deus concedeu!
«Mais um Anjo no sólio Lusitano!
«Mais uma Flor là%os jardins do ceo!» —
M. Pinheiro Chagas.
BEM-VINDA!
Bem-vinda ao' nosso Tejo, ó triumphal bandeira!
iris da bella Itália! astro de muita esp'rança!
segues do nosso Rei a Augusta companheira!
Dissipe-se a tormenta aos rizos da bonança!
Emfim respire a greyt levante um hymno em coro,
de bênçãos, d'alegria, apoz o immenso lueto.
Aos pés do throno em gala, inverta em rizo o choro
inteiro o coração! É justo esse tributo.
Tu não sabes, Rainha?... O peito era opprimido,
d'anciar por esta pátria, a quem queremos tanto!
Ao ver chegar, tão só, pallido, compungido,
o Rei junto do throno, a desfarçar seu pranto,
— 100 —
pedimos muito t muito! ao Martyr do Calvário
que lhe arrancasse da alma essa amargura infinda!
Foi Deus que Tc mandou, Pomba do Sanctuario ! !
Yens consolál-o emfim ! . . . Bem-vinda ! oh ! sê bem-vinda !
-^
Se no teu berço augusto a paz é combatida,
se os hórridos volcões tem flammas na cratera,
a causa do opprimido,* a Deus é commettida !
Confia no Juiz, acalma a dor,— espera!
A vasta nau da Itália abriu todas as velas
sem medo ao pego fundo e ao turbilhão que freme.
Tem, a mostrar-lhe o porto, ou iris ou estrellas;
a liberdade á proa! a lealdade ao leme!
E se inda irado mar em torno ao teu palácio
brama aos duros tufões da Áustria e d'Aspromonte,
em breve um sopro do Alto ha-de limpar do Lacio
a escuma da tormenta, as nuvens do horisonte!
£ Tu no entanto a nós, ó Pomba Espavorida,
acolhe-Te, da paz formosa mensageira!
na arca de nosso peito has-de encontrar guarida;
nos braços d'este povo... os ramos da oliveira!
Terás na Lusa praia as ribas italianas;
sollo que diz: — fartura;— e ceo que diz:— bonança;
searas da Cicilia; auras napolitanas;
e flores da Saboya em prados de Bragança!
— 101
Terás do povo o amor, que Te foi dado inteiro,
mal que a paterna mão de nós te confiara;
o braço, o coração de D. Luiz Primeiro,
e as bênçãos que Te guarda o Martyr de No vara.
Senhora I pois que vens a semear venturas,
no campo que inda enxuga os prantos da saudade,
Bainha! ajuda o Rei a ter-nos bem seguras,
a paz, a independência, a honra, a liberdade!
£ nós, cheios de amor e d'alegria infinda,
iremos supplicar ao Martyr do Calvário
haja de transformar Á que nos foi bem-vinda,
a pátria, num altar; o sólio, num sacrário)
Thomaz Ribeiro.
SONETTO
«Viva Savoia» risonar si udio,
settc secoli son, dal Duero ai Tago,
quando á Mafalda, di bei nodi vago,
il primo Affonso il core e un Trono offrio.
Sulle spondc di questo c di quel rio
desta Maria, d'ogni virtude imago,
plauso maggiore, or che contento e pago
Lisia ravvisa il pubblico desio.
Di Luigi la Sposa ai Tago in riva
eccola giunta ormai... Danzc c carole
sciolgonsi ovunque, cd echegianti cvvival
Col diadema regai mirti e viole
intrecciate miriamo... Itália viva!
evviva, evviva la Sabaudea Prole t
FRAMMENTI D'UNA CANTATA
(Questa Cantata dovea eseguirsi ai Régio Teatro S. Cario la será che ve-
» nisse onorato delia prosenza dclle LL. AA» Macstá; ma per insormon-
tabili difflcoltá verme rimandata la sua rappresentazione ad altra fausta
occorrenza.)
CORO
Forte, temuta; e bella
Quale romita stella
Eri mia Lisia un dí;
Fiorivi, ed il tuo core
Tale chiudea valore
Che mai noa fii cosi.
Dch sorgi; e nel passato
Yedi il futuro fato
Ché il spirito non muor;
Ma piii rinasce baldo
Se per la pátria caldo
Amor si nutre in cor.
— 104
II Génio delia Lusitânia
Ben grato, o Dive, c il ricordarsi altero
Dei giorni che giá fur, giorni di gloria,
E rincorarsi nelli fasti aviti.
Ma il passato non é d'invidia oggetto
A chi nella presente etade alPaura
Yive dei Grande Luigi, certa spcne
Di gloria antica e di presente bene.
Perche vaga splende in cielo
Una stella oltre 1'usato?
Perche il raggio suo infocato
Palpitar fa piú d'un cor?
Ma d'un palpito represso
Che provar fá a un tempo istesso
Gáudio, amor, speme e timor?
Queila stella, quel fulgore,
Fisso, o Lisia, ha il tuo destino;
E predice un dí vicino,
Giusto premio ai tuo valor,
Fia quel dí giorno di gloria,
Fia dei senno la vittoria,
Di Braganza fia Tonor.
CORO E BALLABILE
Tempriam le cetere;
Spargiamo ai venti
D'amore e giubilo
—105 —
Dolci concenti:
Dovuto omaggio
Si porga ai Ré.
Tuoi dí celebrinsi
Per lunga etade,
Felici varchino
Rosec contrade;
Tuo cor magnânimo
Sia guida a te.
NelPalme susciti
Conforto e spcne;
Da te il tuo popòlo
Spera ogni bene,
Tuo nome é oroscopo
Di gran splendor.
L'etadç tenera
Di scienza onusta,
Che il senno accoppia
D'etá vetusta,
La luce accrescere
Fá ai tuo fulgor.
Tue gesta attendono
Calliope e Clie;
Sarai la gloria
Del suol natio,
Tu nome ai posteri
D 'amor sara.
Don Luigi accrescere
Chi puó tua fama?
Del Rege il modulo
— 106 —
Giá ognun ti chiama;
Suir ali ai secoli
Tuo nome andrá.
SCENÀ II
IA FAMA £ DETTI
Fama
Spirti di Lusitânia, a voi che in petto
La prisca avete ancor virtú latina
Grata novclla arreco.
,Lá deirAusonio suol, terra d'eroi,
II popolo con ira giusta e santa
Scuotc un autico giogo, c di fortuna
Menda il capriccio col valor dei braccio.
Tal veggonsi d'eroici fatti escmpli
Che la lontana etade altri non veda
E questi che vcdiam forse non creda.
Génio Lusitano
Che mai ne dici tu?
Fama
Taci e ni'ascolta.
Giacòva Fltalia — dalPirc dei fato
Lanciata in catene — che mai non mcrtó;
— 107 —
Ma il prisco valore — il braccio fatato
Trá despoti e schiavi — possente serbó.
E un dí rammentando — la pátria degli avi
II brando temuto — di nuovo impugno;
E sorse sclamando — che terra di schiavi
Chi vinse giá il mondo — giammai si chiamó.
Alloça Vittorio — lo scettro gcttando,
I prodi alie pugne — ai trionfo guidó,
E Regi stranieri — e squadre fuggando
E libera e unita — 1'Italia formo.
CORO
Sia gloria a Vittorio — che scettro e corona
E spada c persona — a Itália dopo.
SCEiNA 111
IL GÉNIO d'iTALIA
Eccomi giunto in Lusitânia! Oh terra
Sacro cener di prodi, io ti saluto!
Bello c ridente é il suolo tuo che ua riso
Par dclPEtcrno, e ove germoglian tante
Di sublimi virtú inclite gesta.
Oh come all'cco dei valore antico
Tu grande, tu magnânima rispondi
Col senno, col pensicr che in pace effondií
— 108 —
Bello 6 il tuo ciclo, o Lisia,
Son forti i figli tuoi;
Superba andar ne puoi
Lo dice Itália a te.
Non arrestare il passo
Varca il segnato calle,
Mai non discese a vallc
Chi volse ad alto il pie.
TUTTI
Coppia Eletta ascendi ai soglio
Degli Augusti tuoi maggiori,
E per te di nuovi allori
Lusitânia avrá fulgor.
Regai serto il crin ti cinge
D'una stirpe ognor famosa,
Ma corona piíi gloriosa
Hai dei popol neiramor.
G. P. Bianchi.
i SALVE, REGIA BELDAD!
I Ya sois de Portugal ! Ya vuestra frente
los rayos de su cielo esplendoroso
iluminan, y alhagan dulcemente
de las auras el beso carinoso.
Excelsa, pura, cândida y lozana
dei Tajo vais á ser la flor mas bella;
Lísia para acogeros se engalana
y de jazmines cubre vuestra huella.
—110—
jOh cuanto bienhadada si cl futuro
la memoria os guárdare de qjtc dial
Estrangero cantor, ai pueblo auguro
cn vos la nueva luz que Dios lc envia.
ídolo ya dei Lusitano suelo,
mitad dei alma de su Re/ amante,
vais á calmar tan generoso anhelo
cuando la fama vuestra gloria cante.
El lloro que enjugueis, perla divina
será de vuestra fúlgida diadema,
cifra veraz que ostente peregrina
tan dulce nombre, de bondad emblema.
El sin ventura huérfano; el anciano,
la víuda llorosa, desvalida,
Tendran alivio en vuestra nívea mano,
recompensa feliz de esta acogida.
Salud, Régia Beldad! cual rúbia aurora
descollando entre nácares serena
de esperanzas el ânimo atesora,
tal asomais de mil encantos llena.
Que las flores os dén su puro aliento,
las auras sus mas gráciles suspiros,
cl avecilla con su vário acento
"Vinil arrullos de amor en dulces giros.
—111 —
Y ai deponer colmado de alegria,
bardo sin noiabre, esta humildosa ofrcnda
no desecheis su débil armonia,
pues de lá vóz dei corazon es prenda.
Luís Brkton y Yedra.