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Mensagens

"Cartas grandes porque não tenho tempo de escrever pequenas"

Eu nunca sei, neste ou naquele caso, o que sentiria.  Às vezes nem mesmo sei o que sinto. ( …) O meu estado de espírito actual é de uma depressão profunda e calma.  Estou há dias, ao nível do Livro do Desassossego. E alguma coisa dessa obra tenho escrito.  Ainda hoje escrevi quase um capítulo todo. Pessoa, F., 1914,   Cartas de Fernando Pessoa a  Armando CôrtesRodrigues (Introdução de Joel Serrão) Lisboa:Conflu~encia, 1944  . 3ª Ed. Lisboa:Livros Horizonte, 1985-36
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O final de 2017

às vezes apetece voltar. Sim, voltar e escrever  Escrever é um processo que funciona de  diferentes maneiras  Pode ser um grito um sufoco mas é sempre egoísta é egoísta usar as palavras para interpretar usar as palavras para purgação usar as palavras para direcionarmos a atenção para nós escrever é morrer devagar lentamente. É despedida e é tristeza

Freddy Cole

Lispector, C., parte 1

A paixão segundo G.H. (1965) – – – – – – – – estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi — na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro. Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser — se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele. Perdi alguma coisa que me era essencial, e que ...

Deixa-me (...) ser

E eis que em breve nos separaremos E a verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia Eu agora sei, eu sou só Eu e minha liberdade que não sei usar Mas, eu assumo a minha solidão Sou só, e tenho que viver uma certa glória íntima e silenciosa Guardo teu nome em segredo Preciso de segredos para viver E eis que depois de uma tarde de quem sou eu E de acordar a uma hora da madrugada em desespero Eis que as três horas da madrugada, acordei e me encontrei Fui ao encontro de mim, calma, alegre, plenitude sem fulminação Simplesmente eu sou eu, e você é você É lindo, é vasto, vai durar Eu não sei muito bem o que vou fazer em seguida Mas, por enquanto, olha pra mim e me ama Não, tu olhas pra ti e te amas É o que está certo Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca E tudo isso ganhei ao deixar de te amar Escuta! Eu te deixo ser… Deixa-me ser! Clarice Lispector , E eis.  

Umbrellas

Clifton R. Adams Umbrellas, Miami Beach. 1930

sinais

Amou tanto Agora era velha e não conseguia sentir-se tomada de qualquer sentimento em relação a coisa alguma, mas tinha amado muito. Esperava ainda encontrar-se com algum ser que se movesse sobre a crosta da terra. Até que se enamorou pela fachada de uma igreja de Assis, decidindo mudar-se para aquela cidade. Era Inverno, e durante os temporais nocturnos, saía com o guarda-chuva para fazer companhia à igreja, plena de uma luz amedrontada. Depois, chegou a Primavera, e todas a s manhãs e todas as tardes, com as mãos, tocava as pedras quentes e enxutas. Foi um amor sereno e sem traições que durou até à sua morte. Tonino Guerra, "Histórias para uma noite de calmaria"

às vezes

sinto uma sufocação,  provocada pela descontrolada troca de CO2 por O2. Depois, algum tempo depois....vem o alivio e posso viver em conformidade.  É quando algumas memórias me dão vontade de chorar. cs

Já não me apetece música, todos os dias

Num Domingo de fevereiro Carlos D'Alessio - India Song

Eco, Umberto

"Oh, tantos livros! Leu-os todos?". O que responde? Há três respostas.  A primeira é: "Li muitos mais".  A segunda é: "Não li nenhum, senão porque os guardaria?".  E a terceira é: "Não, mas tenho de os ler na próxima semana".  Uma biblioteca não é um repositório dos livros que já lemos. É também o lugar onde guardamos os livros que iremos ler.

Carol - Carter Burwell

Muito bonita esta história de amor. Blanchett, Cate. Sempre ela a encher a tela

Música no final do dia

Pensando com os outros, Wittgenstein, L

clarinho como água (...) as verdades matemáticas não são essências eternas saídas do cérebro humano, mas produtos históricos de um certo tipo de trabalho histórico, feito de acordo com as regras e as regularidades especificas desse mundo social particular que é o mundo científico. Wittgenstein, L.

Pensando com os outros, Fiama Hasse Pais Brandão

O que nos chama para dentro de nós mesmos é uma vaga de luz, um pavio, uma sombra incerta. Qualquer coisa que nos muda a escala do olhar e nos torna piedosos, como quem já tem fé. Nós que tivemos a vagarosa alegria repartida pelo movimento, pela forma, pelo nome, voltamos ao zero irradiante, ao ver o que foi grande, o que foi pequeno, aliás o que não tem tamanho, mas está agora engrandecido dentro do novo olhar. Fiama Hasse Pais Brandão

A máquina e a imagem em movimento

Sou um olho. Um olho mecânico. Eu, a máquina, mostro-vos o mundo de um modo como só eu posso vê-lo. Liberto-me hoje e para sempre da imobilidade humana. Estou em constante movimento. Aproximo-me e afasto-me dos objetos. Rastejo debaixo deles. Movo-me colada à boca de um cavalo a correr. Caio e levanto-me juntamente com os corpos que caem e se levantam. Isto sou eu, a máquina,  manobrando entre movimentos caóticos, registando um movimento após outro, nas combinações mais complexas. Libero do limite de tempo e de espaço, coordeno cada um e todos os pontos do Universo, onde quer que eu queira que eles se encontrem. O meu caminho conduz à criação de uma nova percepção do mundo. Assim, explico, de uma nova forma, o mundo por vós ignorado. (Citação extraída de um artigo escrito em 1923, por Dziga Vertov, o realizador revolucionário soviético, in Berger, 1980,p. 21). 

120 anos depois de Röentgen. 1895-2015

Retirada da internet, a primeira imagem radiológica de  W.K. Röentgen, representa a mão da sua mulher, Bertha É esse desejo ambicioso e ávido, de se apoderar do corpo em beneficio próprio, ou mesmo do espectador, que me parece constituir uma das caraterísticas mais originais de uma imagem radiológica na Medicina Ocidental.CS A partir de uma frase de Claude Lévi-Strauss, antropólogo.  in Berger, J. 1980.  Modos de Ver.  Edições 70